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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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É preciso agir: desigualdades se acentuam com a pandemia

Em recente pesquisa, realizada pela consultoria Plano CDE, temos um panorama difícil e complexo sobre as desigualdades no Brasil e os impactos da pandemia

Por Juliana Borges
Atualizado em 6 Maio 2020, 21h41 - Publicado em 6 Maio 2020, 21h39
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  • Em recente pesquisa, realizada pela consultoria Plano CDE, e divulgada pela Folha de São Paulo, temos um panorama difícil e complexo sobre as desigualdades no Brasil e os impactos da pandemia. E o diário de hoje é sobre esses dados para que a gente aprofunde essas discussões nos próximos dias.

    Um panorama tenso e que deve impactar a gente para que façamos algo em vez de apenas lamentar ou reconhecer como as desigualdades expressam que o vírus e a pandemia não são democráticos.

    Nos últimos dois meses, muitos foram os impactos negativos da pandemia e da omissão de governos sobre como enfrentarmos esse histórico desafio. Para os brasileiros e brasileiras pertencentes as classes D e E – que representam 28% da população brasileira, ou seja, um contingente de 58 milhões de pessoas – a pandemia é sentida de modo drástico: 51% relataram que perderam metade ou mais de suas rendas. Sendo que, entre essas classes, 24% declarou ter ficado sem nenhuma renda. As dívidas estão aumentando para 47% deles, sendo que 43% deixaram de pagar a luz ou a água; e 22% atrasaram o aluguel.

    Para a classe C a coisa também não está fácil, com 23% tendo deixado de pagar a fatura do cartão; 10% afirmado que ficaram sem rendimento algum; e 29% relatar redução de metade ou mais de sua renda. Este contingente representa cerca de 100 milhões de brasileiros e brasileiras. Além disso, mais de 70% das famílias de baixa renda não tem reservas.

    Agora, veja como não há nada de vírus e pandemia democráticos. Ao passo que há essas imensas dificuldades para uma ampla maioria de brasileiros e brasileiras, as classes A e B apresentam outro Brasil. Entre eles, 20% afirmou ter renda para viver até 4 meses sem receber nada; e 42% afirmaram não ter atrasado nenhum pagamento. E a disparidade piora quando afunilamos mais a pirâmide das desigualdades: cerca de 3% deste contingente afirmou ter tido ganhos durante a pandemia. Ou seja, ricos ficando mais ricos e pobres cada vez mais pobres.

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    Além da disparidade econômica, é preciso levar em consideração as disparidades, pouco exploradas pelas análises, regionais, raciais e de gênero. Como estão as mulheres que são chefes de família, já ganham menores salários exercendo as mesmas funções, e estão com renda reduzida nessa crise? Como estão as famílias e pessoas negras que já tem salários menores, exercendo as mesmas funções, em relação a brancos no país e estão, ainda, tendo que lidar com a redução ou o fim de suas rendas? No caso destes últimos, é sempre importante lembrar que a maioria da força de trabalho doméstico no Brasil é composta por mulheres negras e periféricas.

    E como estão os suportes, os fortalecimentos, as ajudas e o exercício empático nesse momento? Muito longe do necessário. Segundo a mesma pesquisa, 40% das ajudas a essas pessoas parte de familiares (30%) e vizinhos (10%). Apenas 8% foi apoiado por líder comunitário; 6% por igrejas; e ínfimos 4% por ONGs. Isso não te incomoda? O esforço da sociedade civil para apoiar pessoas que mais do que nunca precisam do nosso exercício empático não chega a 5%.

    Você pode dizer que isso é resultado de governos omissos, de um Estado que aposta nas desigualdades e na precarização de vidas. Eu concordo. Mas, nesse momento, precisamos fazer mais do que apontar. É tempo de rápida ação, de imensa solidariedade. Eu já falei de 3 entidades periféricas que estão apoiando suas comunidades na luta contra o coronavírus. Falarei, até o final da semana, de mais outras. Que tal a gente agir?

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