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Diário De Uma Quarentener

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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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Como irritar sua adolescente

Nessa quarentena tem ficado mais evidente como a gente é e vive “como nossos pais”

Por Juliana Borges
Atualizado em 13 Maio 2020, 11h39 - Publicado em 12 Maio 2020, 23h00
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  • Estamos há dois meses em quarentena. No começo, apesar da difícil situação, tudo era meio novo. Não sei se disse por aqui, mas sou tutora de minha irmã adolescente. Com 14 anos, prestes a completar 15. Para além das preocupações sobre como garantir um aniversário tranquilo e divertido em plena quarentena, eu também comecei a pensar em como entreter uma adolescente, que está com os hormônios e ansiedades a mil. E, de fato, a adolescente da casa é bem tranquila perto das aventuras que minhas amigas contam de seus adolescentes. Mas, o tédio sempre chega. É inevitável. De modo que vamos iniciar um calendário com atividades para fazermos juntas com uma frequência maior do que o habitual.

    Mas o papo de hoje é outro. É sobre como estou me descobrindo uma mulher adulta, e como ela tem, também, e de modo divertido, mostrado como eu estou ficando obsoleta em relação a algumas coisas – um pouco obsoleta. Por favor! Nessa quarentena tem ficado mais evidente como a gente é e vive “como nossos pais”. Me vejo em muitas coisas que eu ria quando minha mãe fazia e eu considerava um tanto ultrapassadas. Não que eu esteja desesperada quanto a isso – um pouco, estou, confesso – acho ser inevitável levar tudo isso com leveza. O que acontece é que meu amadurecimento – como eu vou chamar meu processo diante de cada olhar ou risada que a adolescente dirige a mim – está ficando cada vez mais evidente.

    E eu percebo isso pelas breves irritações pelas quais eu faço a adolescente da casa passar, com perguntas aleatórias de coisas que, para elas e sua geração, são óbvias. Isso tudo me colocou a pensar que, talvez, não sejam eles os aborrecentes e sejamos, nós, os “aborridosos”. Nessa brincadeira, resolvi fazer uma breve lista para você se divertir irritando o seu adolescente em casa.

    1. Quando sua adolescente está com os fones de ouvido, escutando seus sons, tipo Ariana Grande, nas alturas, chame-a. Mas chame-a muito;

    2. Beije bastante as bochechas da sua adolescente. A cada minuto. Está entediada? Olhe aquelas bochechas que ainda te lembram da forma bebê que elas já tiveram e APERTE-AS. Beije-as. É infalível;

    3. Ela adora filmes de super-heróis. E você não entende nada desse universo Marvel, Liga da justiça e afins. Enquanto ela estiver assistindo aquele filme emocionante, assista com ela e pergunte sobre tudo, todo tempo. No começo, ela vai achar legal te explicar, mas logo você vai perceber a voz de tédio nas respostas;

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    4. Entre no quarto dela sem pedir. Mas entre com vontade, abrindo as portas do guarda-roupa, usando seus cremes e glosses (essa, eu deixo como mérito da minha irmã do meio);

    5. Reclame que ela não está comendo frutas. E no discurso de reclame, relembre que ela está “em fase de crescimento” e que precisa comer bem, para ser uma adulta inteligente e bem nutrida;

    6. Ela sabe que tem algumas tarefas na casa, como lavar o quintal. Mas, sabem como é: adolescentes. Fique falando a cada 5 minutos para que ela cumpra essas tarefas. Os pés vão bater no chão com a força de uma pegada do superman;

    7. Faça perguntas, muitas. Uma atrás da outra. Com toda a ferocidade da sua curiosidade. Eu não sei a adolescente de vocês, mas a daqui de casa até fala bastante, mas sobre o que ela quer falar e não sobre o que nós, adultos, queremos saber;

    8. Pergunte sobre os amigos da sua adolescente. Não só sobre como eles estão, mas sobre como ele são, o que fazem, do que gostam e, se quiser colocar mais fogaréu na ira da adolescente, pergunte o que eles gostam e fazem juntos;

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    9. A gente sabe que os hormônios na adolescência trabalham a todo vapor. É a fase das descobertas, quando a gente percebe que os meninos não são tão chatos como a gente achava até pouco tempo. Então, pergunte sobre isso para a sua adolescente. Pergunte qual o tipo de menino que ela gosta. Tente ser uma adulta descolada e prafrentex, que conversa sobre tudo. Você se perceberá a tiazinha do Natal que pergunta dos namoradinhos ou, pior, o tio do “pavê ou pacumê”;

    10. Sempre em uma discussão, use o argumento de que ela é uma adolescente e que certas atitudes são típicas dessa fase da vida. Além de um revirar de olhos, você vai receber o silêncio da indignação.

    Boa quarentena com seus adolescentes!

    PS: O texto do diário de hoje contou com uma consultoria preparadíssima e super competente: a adolescente aqui de casa. =)

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