“Você só vai entender isso quando for mãe!” Essa frase, dita muitas vezes em tom de ameaça, é uma daquelas verdades das sabedorias das mães: existem coisas que, mesmo que você consiga imaginar, apenas a experiência vivida é capaz de prover o seu real sentido. E a maternidade é uma dessas vivências únicas nas quais cada mulher tem um relato personalizado sobre como é viver o dia a dia materno.
Por isso, enquanto mãe e professora, percebo que debater a respeito das maternidades é contribuir para uma sociedade mais plural e justa. A cada dia que passa, percebo que esse é um caminho fundamental para construir o futuro melhor que tanto almejamos para as novas gerações.
Nos últimos anos, tenho sido convidada para palestrar como pesquisadora sobre as questões entre maternidades e feminismos. Constantemente me emociono com as plateias cheias e a recepção calorosa de mulheres mães e não mães que me procuram para conversar e dizer como as minhas palavras as comoveram.
As maternidades mexem com as histórias de vida pessoais, tanto daquelas que são filhas quanto das que já são também mães. Ao debater academicamente a historicidade do maternar e suas pluralidades na sociedade, fazemos o movimento de entender o mundo enquanto igualmente compreendemos a nós mesmas neste processo.
É um trabalho prazeroso e que demanda muitas horas de dedicação. E como a maioria das mães acadêmicas, eu leio, estudo, monto as minhas apresentações com a trilha sonora de crianças rindo, brincando, me chamando e, muitas vezes, enquanto termino o jantar ou estendo as roupas no varal.
É uma rotina cansativa, frequentemente sinto que estou indo além das minhas forças e, sem opção, sou obrigada a continuar seguindo em frente.
Esta frase apenas expressa a realidade do trabalho doméstico e de cuidados com as pequenas vidas humanas pelas quais sou responsável, mas na nossa sociedade pode eclodir uma verdadeira guerra de julgamentos: “Não quis ter os filhos? Agora aguenta!”, “Está reclamando do que? Deve ser uma péssima mãe!”, “Suas crianças são saudáveis; é até pecado dizer uma coisa assim!”.
Veja bem, eu não disse que não quero ser mãe ou que não gosto das minhas filhas. Eu afirmei que esse cuidado demanda tempo, trabalho e esforço, e que isso gera um grande desgaste, sobretudo nas mulheres, que são as principais responsáveis por essa tarefa.
A ideia da “boa mãe” abnegada que se sente feliz e realizada com todos os aspectos das maternidades é uma das grandes armadilhas culturais ainda não superadas em nossa sociedade.
Explico: silenciar é uma forma de manter sob controle mulheres que acabam por adoecer, desistir de seus planos, sonhos e até de construírem novas possibilidades de maternar.
A “boa mãe” nunca reclama, nunca se cansa, nunca esmorece, nunca tem dúvidas, nunca sofre e nunca existiu!
As mulheres que depois das minhas palestras conversam comigo, contam histórias incríveis de resiliência, tristezas, desistências, superação e força. Muitas vezes, na mesma trajetória de vida que, para mim, tornam as mães a grande potência revolucionária do mundo.
Por que não começarmos a chamar essas mulheres reais de “boas mães”? Para isso, precisamos que nossas vozes, nossas dores, nossos sonhos, nossas realizações ecoem em altos brados para que as próximas gerações sejam livres para maternar da maneira que quiserem e com todo amparo político social.
Maternar é um trabalho contínuo e vitalício que precisa de suporte e reconhecimento de justiça e igualdade social. A revolução será Materna e Feminista.
É possível sermos melhores, sempre! Vamos conversar?