No final de semana passado, acordei e me deparei com uma cena tão igual à minha infância que fiquei parada na porta da sala, observando em silêncio: duas crianças assistindo televisão, uma em cima da outra, meio empilhadas ou emboladas, ainda de pijamas. A cena era a encarnação do conforto e da alegria entre os corpos.
Fui jogada em um túnel do tempo onde eu era uma das crianças e, em especial, minha pequena irmã era a que se jogava em cima de mim. Havia sempre uma negociação, uma discussão, uma briga e muitos abraços e beijos, mas o resultado era o mesmo da cena da semana passada: nós juntas, emboladas e brincando.
Há um mês atrás minha filha menor conheceu na “festa de Ação de Graças”, o Thanksgiving norte-americano, uma menina de três anos e elas brincaram juntas por horas, rindo e correndo pela casa. Quando as duas se viram pela primeira vez, Aurora aproximou-se de Avalon e levantou quatro dedos apontando para si mesma. Avalon olhou e levantou três dedos, apontando para o próprio peito… e pronto!
As duas riram, se abraçaram e começaram uma brincadeira cheia de sinais próprios. Não havia ruído na comunicação, apenas diversão e consentimento. Evidente que crianças brigam e discutem, mas é fascinante observar como elas rapidamente encontram soluções para se manterem juntas e felizes.
Eu tenho duas irmãs de nascimento e um batalhão de irmãs de alma. Amaternar é aprender que somos absolutamente necessárias na vida das pessoas e elas em nossas. Essas trocas são o que nos faz valer a pena acordar todos os dias, persistir em uma época que insiste em dizer que devemos fazer tudo sozinhas, que ser mãe é uma atividade solitária e uma “escolha” individual.
Nós, seres humanos, somos essencialmente sociais, nascidos para brincar e viver “embolados” nas trajetórias de quantas pessoas com quem pudermos conversar e trocar afetos. Ser irmã é oferecer a alma e o corpo e receber de volta todo esse carinho. É conviver em um grande coletivo que resiste ao individualismo encarcerador repleto de desesperança e solidão.
Pessoas adultas precisam aprender a se comunicar COMO as crianças fazem: sem barreiras, hierarquias e as afeições abertas para aceitar e conviver com as diferenças. Isso nunca vai significar menos bagunça ou discussão. Mas certamente significa que são pessoas dispostas a amar e serem amadas e a ficarem juntas, na grande brincadeira que é viver. É possível sermos melhores, sempre! Dias mulheres virão!
Vamos conversar?
Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para: ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram: (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores aqui e acompanhe as próximas!