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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária

A mulher mãe e suas facetas

Namorar, beijar, desejar, gozar: isso tudo faz parte da vida, inclusive de quem tem filhos

Por Ana Carolina Coelho
20 jun 2023, 09h39
Coluna Crônicas de Mãe
Mulheres têm direito a viver, inclusive depois de se tornarem mães. (lustração/Catarina Moura/ Foto/Pexels)
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Um dos maiores desafios das mulheres que se tornaram mães é conciliar a vida sexual com a rotina extenuante. Ao contrário do ditado popular dizer que “melhora quando eles crescem”, na verdade, o que muda é o costume à sobrecarga. No entanto, tudo é trabalho e, mesmo que você tenha quem o faça por você, há sempre um custo a ser pago. Por isso, o Dia dos Namorados é particularmente ardiloso para as mães, porque pode ser tanto um dia de reencontro dentro de um cotidiano materno, quanto (e na mesma medida) um gatilho doloroso do conflito entre ser mãe e ser mulher.

Em nossas tradições culturais, mães não fazem sexo; não pensam em sexo; não gostam de sexo. Essa desassociação tem raízes profundas na sociedade, cristalizando uma noção assexuada quase divina. E as recentes mudanças de foco, que valorizam as mulheres mães que mantiveram suas demais identidades depois da maternidade, ainda são pontuais e tímidas. Quantas mães, ao saírem para eventos de trabalho ou sociais, já ouviram a frase “com quem você deixou as crianças?”. Eu costumo responder com bastante sarcasmo: “Nossa! Ainda bem que você me lembrou. Era isso que eu estava esquecendo quando saí de casa. Se não fosse você…”. E saio dando gargalhada, fingindo que vou pegar o telefone na bolsa. 

Confesso que, mesmo assim, TER QUE fazer isso me cansa. É uma invasão e desrespeito comigo e com todas as outras mães. A minha resposta é um sonoro “AFASTE-SE! Afinal, quem é você para tentar colocar a culpa materna em mim por estar fora do ambiente que considera adequado ou não para minha presença?”. Somos mulheres. Temos direito às nossas vidas e, se não está evidente se saímos de casa, a grande maioria de nós já planejou e se assegurou que as crias estejam seguras. E, acreditem, sair de casa depois de se tornar mãe é uma verdadeira operação estratégica. Há sempre, pelo menos, um pacote de lenço umedecido, uma garrafa de água e um kit de primeiros socorros preparados na bolsa.

Os representantes dessa patrulha materna parecem brotar nos lugares. Acreditem, temos consciência de que nossas vidas já mudaram o suficiente com a vinda de uma criança: estamos quase sempre exaustas, cobradas de todos os lados para sermos guerreiras, sentindo as diferenças em nossos corpos, com dúvidas, inseguranças e focadas em nossos filhos.

Ser mulher e namorada inclui planejar deixar aquela bolsa em casa com alguém da rede de apoio e, ainda, resgatar os arquivos “mulher.doc” no cérebro. E quando alguém questiona nossas atitudes, a tendência é uma culpa invadir o sistema como um vírus e termos uma péssima noite.

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Somos mulheres em uma sociedade que cria a armadilha: namorem, mas vocês serão cobradas por essa ousadia

Ana Carolina Coelho

Somos mulheres enfrentando o desafio de termos que resgatar o lado namorada em uma sociedade que culturalmente cria uma armadilha materna: namorem, mas vocês serão lembradas e cobradas por essa ousadia. Por isso, uma mãe que consegue sair à noite para um date é revolucionário. Você já se perguntou o quanto ela planejou para aquilo acontecer? Sair representa uma avalanche de preparos e ajustes domésticos que demandam quase sempre dos cuidados das mães.

Namorar depois da maternidade, para cada uma de nós, se revela de acordo com a nossa possibilidade de vida, de recursos, de disposição. Há aquele namoro em que esperamos as crias deitarem para planejarmos uma noite especial. O namoro na hora da escola, muito mais raro, porque é o horário em que, em geral, estamos no trabalho. Há aquele da manhã/tarde de folga em que alguma amiga chamou as crianças para brincar na casa dela. Há o namoro bem cedinho, torcendo para ninguém acordar. E os namoros das madrugadas, quase dormindo.

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É até mesmo possível fazer um passeio com as crianças e aproveitar das brechas do dia para dar abraços e entrelaçar as mãos com carinho. Somos mães-mulheres e sexo, desejo e amor fazem parte das nossas vidas. Afinal de contas, patrulha materna da culpa, por exemplo, de onde vocês acham que nascem os bebês mesmo? Ah, tá! Vamos conversar?

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