Conto com a ajuda da querida Patida Mauad para contar a história quase centenária de Laís de Carvalho Mauad, personagem que abre os trabalhos do ano desta coluna (e desta colunista também) que pretende viajar muito, quando a vacina chegar.
“Capricórnio com ascendente em aquário, Laís de Carvalho Mauad tem 98. Guerreira, trabalhadora, ela costura desde os 7 anos – sim até hoje!. Sempre foi forte e linda, uma mulher além do seu tempo. Minha bisa é descendente de índio, o bisavô era médico, meu avô fazendeiro e vovó Francisca, conhecida como Chiquita, era vanguardista, professora de francês, meio bruxa, meio santa, devota de Santa Terezinha. Acredito que mamãe, como eu, herdou muito de Chiquita.
Neca Dias, seu pai, teve a primeira fábrica de doce de leite do Brasil, a Caburé, nome pelo qual ele também era conhecido. Mas ele gostava mesmo era de seguir políticos pelo Brasil, era amigo de Juscelino e mamãe ia junto”, descreve Patida em seu blog que é um refresco para a mulherada madura.
Foi numa visita cheia de protocolos de segurança e altas doses de distanciamento, que eu pude ver ao vivo e em tons de cor de rosa (sua casa é toda rosada) essa mulher e suas raízes, no apartamento grande em que vive há 50 anos, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Sua casa, assim como a da maioria dos longevos que conheço, é seu templo. Estão ali emaranhados de sentimentos e memórias traduzidos em fotos, bilhetes (ela guarda todos os que a Patida deixa), peças de roupa que fez ou comprou, e santos, pois lá há vários. Mas nada se compara à grandiosidade de Santa Terezinha que tem um altar só pra ela na sala principal e está na família há mais de 100 anos, pois pertenceu à sua avó e veio da fazenda da família em Rio Pomba, zona da mata mineira, onde Laís nasceu. Ali tem também uma mesa só para a bíblia sagrada que ela me confessou que não lê mais porque tudo o que precisa já está na sua cabeça.
“O apartamento tem a mesma decoração, na verdade os mesmos móveis. O prédio e os acabamentos são clássicos e na época meus pais contrataram um grande pintor do Rio que fez o mais moderno que se usava. As sancas, amo, são originais e pintadas de ouro velho pensa só, era moderno ao cubo. Os tons das paredes eram um abuso e executados com muito profissionalismo”, relembra Patida, que faz questão de mostrar os azulejos originais dos banheiros muito amplos para os dias de hoje e ainda reforçar a presença da sanca de ouro por ali também. É uma típica “casa de vó”.
Laís namorou bastante e beijou muito antes de se casar aos 24 anos – meio velha pra época, como faz questão de contar – com Abib, um libanês que fez a vida com muita prosperidade em Ubá. Com ele teve quatro filhos e hoje se diverte com as aventuras dos 6 netos e 2 bisnetos, por enquanto.
Trancada em casa desde o começo da pandemia dona Laís tem vontade de dar uns bordejos com as filhas e o filho único, mas enquanto a vacina não chega, ela coloca a bermuda-ciclista e desce para o salão de festas do prédio com a simpática Julieta, que cuida da casa com amor e carinho. Em breve, no dia 19 de janeiro, ela completará 99 anos e estou pretendendo lhe fazer uma surpresa. Laís é plenitude pura e tem um humor fino que vira sorrisos fáceis.