Dona Teresinha Jorge Diniz Santos, 84 anos, é rica. Sim, ela tem 12 filhos (queria mesmo eram 15), 23 netos e 14 bisnetos, e me contou da sua riqueza com a boca cheia, no nosso primeiro encontro virtual. Sua história chegou para mim graças aos vídeos que o filho Solano Diniz (@solanodiniz) tem gravado com ela durante esses longos meses de isolamento social.
Diferente de muita gente que prestou mais atenção aos seus idosos neste tempo de reclusão e interiorização e apelou para as dancinhas de Tik Tok (que têm também o seu lugar, claro), ele, que é produtor de cinema, resolveu ir fundo. Pegou seu equipamento, criou roteiros, que quase sempre são desrespeitados graças à habilidade dela de falar, e resolveu escarafunchar a vida da mãe, que é um pouco dele também. Os vídeos normalmente são feitos no jardim, sob o pé de jasmim, que ela ama e que está lindamente florido nesta época.
Pisciana da gema, Dona Terezinha nasceu em São João dos Patos, Maranhão, mas vive desde sempre em Paraibano, cidade vizinha. Conhecida por sua beleza alva (era a única loura de olhos azuis que se conhecia por ali), ela foi cortejada até por um seminarista e recebeu uma proposta indecorosa de um mercador de engenhos de ferro para um passeio de avião, mas escolheu seu Honorato, que também era tido como “o mais bonito da região”, e com ele se casou e viveu por 56 anos, até a sua morte aos 79, em 2010.
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O namoro foi de “peitoril”, que o filho Solando explica: “Ela do lado de dentro e ele do lado de fora da casa. Sem beijo e sem abraço, sentiram a presença do grande amor que os uniria por 56 anos e os faria casar em trinta dias”. O dia do casamento também ganhou um episódio na deliciosa série que está no IGTV dele, afinal onde já se viu um padre esquecer da missa? Ao que parece, o noivo quis apaziguar e sugeriu que procurassem outra hora e local, mas ela foi firme, tirou a aliança do dedo, deu a ele e disse: “Eu não dou um passo atrás de um homem para poder me casar”. Estava dado o recado.
A casa, que tem dois fogões industriais na cozinha para dar conta da demanda, há tempos não se anima, afinal quando os Diniz se reúnem são 71 pessoas. “71 membros vivos, alegres e fanfarrões. Povo bom em superar as tais brigas e confusões familiares (como de praxe), e que adora uma mesa cheia e tem assunto que não acaba mais. Vejo a alegria da minha mãe, quando a gente se reúne, e penso no poder que tem a união de duas pessoas que se amam”, conta Solano.
Em toda a sua vida, Dona Teresinha estudou apenas três meses, período no qual aprendeu a escrever seu nome e “uns bilhetinhos” para o marido. Mas isso não foi problema na criação dos filhos. A primeira filha formou-se em medicina, já nos anos 1970, e todos estão encaminhados na vida. “Vencemos, criamos tudinho. Nunca um passou fome, nunca andou nu ou andou descalço. Se não se formaram, é porque não quiseram”, diz ela.
É com essa matriarca linda que eu converso nesta quarta, dia 24, às 19h, no meu Instagram (@nataliadornellas). Vai que ela nos ensina o caminho da riqueza, né?
*Para ver mais histórias com esta e acompanhar minha “curadoria de avós e avós”, acesse nataliadornellas.com.br ou @nataliadornellas, no Instagram. Ah, e se conhecer personagens que mereçam ter suas contadas, por favor, me deixe saber.