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“À beira dos 50 anos, finalmente aceitei que sou movida pela emoção”

Lu Gastal, autora do livro "Relicário de Afetos", explica por que fortalecer o poder de escuta é seu maior desejo para 2021

Por Lu Gastal
Atualizado em 19 jan 2021, 10h53 - Publicado em 19 jan 2021, 09h00
silhueta de mulher olhando o horizonte
 (Vlad/Pexels)
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Vivemos tempos de reorganizar nossas prioridades. De peneirar nossas necessidades e urgências. Quem sabe renovar valores e amores? Dias em que papos honestos são verdadeiros regalos e aquela faxina na casa, a aposta na renovação.

De ousarmos colocar a alma no varal e olhar para nós mesmos por inteiro… Um olhar profundo ao que nos trouxe até aqui. Tempos de (re)construir alguns pilares e honrar a nossa própria obra. Tudo isso com um único propósito: seguir adiante.

De todos os janeiros, a palavra de ordem dessa vez não é uma lista mirabolante de planos. Em vez de projetarmos desejos e vontades, que tal olharmos o primeiro mês de 2021 com mais generosidade?

Que tal pensarmos no hoje e em um futuro nem tão distante? E o que esperar de um ano que se inicia envolto de medos e incertezas? Depois de viver ou sobreviver ao insaciável 2020, as interrogações parecem maiores que as exclamações. “Nada a esperar”, pensarão alguns. “Tudo a esperar”, pensarão outros.

Reflita aí com calma, o que você espera e gostaria de reforçar neste ano que se inicia? Observando minhas vivências, desejo fortalecer meu poder de escuta.

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No início da pandemia perdi meu pai, mas antes disso tivemos o privilégio de conviver intensamente. Costumávamos falar sobre o quanto as pessoas estavam carentes de escuta. Sempre que alguém ensaiava um papo rápido de fila de padaria, só um olhar dele já me bastava para entender que ser ouvido era um desejo dessa pessoa.

O ano de 2020 foi perfeito para reforçar valores e vontades. No meu caso, envolvida num caos emocional, com dificuldade de comunicar coisas boas, decidi transmitir com o meu olhar aquilo que realmente sentia. Com a alma doída, me conectei com tantos outros corações embebidos numa dor comum: a necessidade da escuta. A carência por falar algo a alguém e a vontade de que esse alguém concedesse atenção.

Quando chegou a pandemia, vivíamos um ritmo frenético e automático. A comunicação real e sincera do que eu sentia me envolveu com pessoas de lugares e hábitos distintos. Mas nesse canal tínhamos o mesmo denominador, todos estávamos carentes de sermos verdadeiramente escutados.

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Dessa situação surgiu a reflexão. O que acontece entre nós, humanos imperfeitos? Eu falo algo pra você, você escolhe a parte do diálogo que lhe interessa ouvir e a história segue. Talvez você discorde de mim. Sim, discordar é salutar, mas a tecnologia, essa ferramenta que nos conecta a qualquer hora e lugar, nos tira o foco da escuta.

Por vezes, atrapalha nossa concentração, já que enquanto eu falo, você pensa nos e-mails e WhatsApp pendentes de resposta. Talvez seja o momento de retrocedermos algumas casas no jogo da vida. Quantos desentendimentos seriam evitados se as pessoas se escutassem ATENTAMENTE?

À beira dos 50 anos, finalmente aceitei que sou movida pela emoção, admitindo minhas dificuldades e sentimentos. O coração simplesmente gritou comigo, num pedido de ESCUTA!

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Sei que escutar com atenção e compreender o outro dão um trabalho danado, e a gente está a fim mesmo é de fugir de coisas complexas, né? Mas será que somos tão empáticos quanto acreditamos? Quantos corações ansiosos por falar e serem ouvidos se debruçam nessas linhas neste instante? Uma escuta ativa talvez seja um dos maiores tributos que podemos oferecer a alguém. E o seu coração, o que diz? Pense nisso com carinho.

Lu Gastal (@lugastal) é autora do livro Relicário de Afetos (Satolep Press) e participa de palestras por todos os cantos. Advogada por formação e artesã por convicção, compartilha em imagens e palavras os encantos do “fazer à mão”

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