Uma das consequências da maior crise sanitária mundial da nossa época, segundo a Organização Mundial de Saúde, a pandemia de Covid-19 provocou profundos choques no sistema de saúde de todo o mundo. No Brasil, muitos serviços essenciais foram suspensos, e essa interrupção continuará sobrecarregando significativamente os sistemas público e privado nos próximos anos.
Já fragilizado antes da crise, o sistema passa a lidar com uma crescente demanda de pacientes que chegam com estágios avançados de condições que poderiam ter sido diagnosticadas precocemente. Tais casos podem exigir tratamentos cada vez mais complexos, o que ampliará ainda mais a pressão sobre o orçamento já sobrecarregado.
Neste contexto, a prática de autocuidado, celebrada no mês de julho, tem sua importância evidenciada, por se tratar de medicina preventiva e por proporcionar inúmeras vantagens que beneficiam todo o ecossistema de saúde pública. A OMS ¹, inclusive, recomenda que o autocuidado seja uma extensão do sistema de saúde, para que os adeptos utilizem este sistema para assistência adicional quando necessário.
Porém, para garantir sua segurança e responsabilidade, as pessoas precisam ter acesso a opções – e informações – sobre como usar essas ferramentas adequadamente.
Segundo um levantamento da GSCF ², o Brasil é considerado o quarto país mais centrado na prática do autocuidado, No entanto, apesar de ser recomendada no Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis no Brasil 2021-2030 e na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, não há programas ou políticas oficiais voltadas para a causa.
Desde 2019, há uma discussão sobre a necessidade de instituir o “Dia Nacional do Autocuidado” no território brasileiro. A data já é celebrada internacionalmente e sua inserção em calendário nacional é defendida por entidades do setor. Para a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (ACESSA) 3, a criação da data é primordial para esclarecer o poder público, os agentes reguladores e a população sobre sua importância para a população e sistemas de saúde, e o Projeto de Lei PL 3099/19 tem esse objetivo.
Enquanto não temos a decisão oficial, sabemos que é possível ampliar o conhecimento e chamar a atenção da população para hábitos que podem ser incluídos no dia a dia e que podem favorecer a saúde da comunidade e do planeta. Nosso mundo está mudando. E há a necessidade urgente de fazer mais. Este não é mais um conjunto de sintomas a serem tratados de forma isolada, pois está ligada ao meio ambiente. Vemos e sentimos seus sintomas como se fossem nossos. Na água que bebemos, no ar que respiramos, no clima e até mesmo nas nossas relações. Assim, o autocuidado deve ser visto como uma responsabilidade compartilhada e que não causa impactos isolados.
Dessa forma, vale reforçar que cada indivíduo deve e pode praticar os sete pilares: ter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos, saúde mental, usar racionalmente produtos e serviços de médicos, buscar conhecimento e informação confiável, buscar o autoconhecimento e ter consciência de atitudes de risco (como tabagismo e álcool em excesso). Seguindo estes pilares, cada um se empodera da informação, assume o controle de seu bem-estar e tem a “saúde em suas mãos”.
Referências:
- Diretriz sobre Intervenções de Autocuidado para todos os países e contextos econômicos
- Global Self-Care Federation (GSCF). O estudo integra a colaboração da GSCF com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para apoiar a implementação da Estratégia da Medicina Tradicional 2014-2023 da OMS.
- Matéria publicada no jornal Correio Braziliense, com o título “Julho se tornará mês do autocuidado”
*Por Carmenza Alarcon, Diretora-Geral na Sanofi (unidade de consumo) e associada Acessa (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde)