Perder-se e se encontrar: um ato tão feminino – edição de julho de CLAUDIA
Pathy Dejesus fala sobre recuperar a conexão consigo mesma após o puerpério, mulheres falam sobre abraçar características de suas personalidades
ão é difícil a gente se perder de nós mesmas. Eu me peguei pensando nisso quando li a frase de Pathy Dejesus, na entrevista da página 42, feita por Ana Carolina Pinheiro. “Com a terapeuta, venho aprendendo a frear e olhar quem eu sou e o que quero para mim, não só para o Rakim”, diz ela, citando o filho de 2 anos.
São muitos os desvios de nós mesmas no cotidiano: a carreira, o casamento, a maternidade. Se não bastasse, chegou ainda a pandemia para potencializar essa equação. As mulheres entendem bem o que estou falando.
Quantas vezes não abrimos mão de uma atividade para nós pelo outro? Eu me lembro da minha mãe chegando em casa depois do trabalho e sentando na mesa da sala comigo para tentar me convencer de que matemática não era o bicho de sete cabeças que tanto me assustava.
Não que minha mãe estivesse errada ou se arrependa, mas hoje reconheço o cansaço dela e o esforço para dar conta de mais esse papel que a realizava, além do profissional – apesar dela não ter conseguido me deixar apaixonada pelos números. A gente se perde porque faz pequenas permissões. Algumas, como os filhos, valem a pena, claro. Mas é preciso ter firme a nossa bússola que nos direciona de volta para nós mesmas.
O (re)encontro acontece de formas variadas. Às vezes, é naquele momento sozinha, depois do banho, quando dá tempo de fazer uma rápida massagem facial com creme. Já tive vezes em que fui mais ousada. No que parece outra vida, fiz uma mala e fui sozinha conhecer uma praia dos sonhos na Albânia. Aliás, viajar sozinha é uma ótima forma de se redescobrir e de lembrar da sua essência.
Veja também: Mapa dos sonhos para viagens pós-pandemia
Aprender a respeitar a sua personalidade é outra baita lição. Quem fala disso nessa edição é a Karyne Oliveira, vendedora que deixou de combater sua introversão (leia a matéria na página 60). Na pandemia, ela notou que gosta mesmo é de ficar em casa, com a esposa e os gatos. Tomou a decisão de, a partir de agora, respeitar seus limites em vez de se forçar a se encontrar com outras pessoas.
Assim como ela, muitas mulheres se veem apreensivas com a retomada das atividades fora de casa, porque perceberam o enorme esforço que faziam para se encaixar em padrões sociais.
A normalização de comportamentos e crenças parece ser a solução para muitos de nossos problemas, aliás. Fiquei chocada com uma pesquisa recente que mostrou que centenas de milhares de mulheres deixam o mercado de trabalho por causa da menopausa – entenda o panorama completo na matéria “Prova de Fogo”, na página 74.
Sozinhas, passando por intensas transformações hormonais, elas se sentem pouco acolhidas e mal compreendidas, já que o tema é tabu nas empresas. É urgente, segundo especialistas, abrirmos o campo de diálogo e falarmos de mais essa etapa feminina com a naturalidade que o corpo trata dela. Não podemos deixar que esse seja mais um entrave para nosso desenvolvimento.
Essa é uma edição cheia de provocações, com discussões íntimas, muitas vezes guardadas como segredos. Mas sei que temos intimidade para bater esses papos profundos. Espero que você nos dê esse voto de confiança e, como sempre, deixo meus canais de comunicação abertos pra gente continuar a conversa.
Um beijo,
Isabella D’Ercole
Editora-chefe
Colaboradores
Carol, como a gente a chama na redação, é da nossa equipe e foi a responsável pela entrevista com Pathy Dejesus. Ela e Pathy cresceram no mesmo bairro e compartilham a paixão pela mesma escola de samba. Talentosa, Carol também escreveu “Fora de Foco”, matéria sobre a retomada da concentração.
A fotógrafa é antiga parceira de CLAUDIA e já enfrentou altos desafios conosco. Depois do ano de isolamento, ela encontrou Pathy no estúdio e fez os registros da atriz. Com a habilidade de sempre, Karine captou expressões naturais e suaves, que permitem enxergar a fase pacífica e de renascimento que Pathy descreve.
Conheci a Pati na faculdade e hoje tenho o privilégio de tê-la como colaboradora de CLAUDIA. Seu olhar sensível vai além das palavras e captura também as cenas para ilustrar as trajetórias de outras pessoas, especialmente de mulheres – Pati também é fotojornalista. Depois de cobrir a tragédia de Brumadinho para nós, agora ela escuta mulheres em situação de rua na cidade de São Paulo, mostrando que piorou a já gravíssima a realidade dessa população durante a pandemia.