Até hoje, se eu parar para pensar, consigo me lembrar do cheiro que vinha da cozinha da minha avó na hora do almoço. O combo arroz e feijão dela era imbatível, saboroso ao extremo e a combinação perfeita para o bife com alho que ela fritava na hora. Minha avó é uma exímia cozinheira, mas hoje ela tem preguiça de chegar perto do fogão. E também falta público. Antes, íamos todos almoçar lá. Eu, meu avô, minhas duas primas, a tia, o tio… Enfim, cozinha cheia.
Essa minha tia que almoçava comigo às vezes era mestre em fazer suflê de cenoura, desses que crescem, mas ficam macios, não perder a umidade. Era um evento quando ela dizia que ia ter suflê de cenoura. E eu gostava tanto que, anos depois, quando fui morar fora do país com meus pais, fiz minha mãe aprender a fazer igualzinho. Matava um pouco a saudade de casa.
Cozinha é memória, comida é afeto. Pelo menos é nisso que eu acredito. E levo a lição até hoje. Depois daquele dia péssimo, nada como uma sopinha de lentilha com pedaços de linguiça (receita da minha mãe) ou um bolo de carne recheado (receita do meu pai). Isso sem falar no clássico brigadeiro, que, quando comido direto da panela, cura qualquer deprê.
A Ana Holanda é uma jornalista que divide comigo essa paixão pela comida e a crença em seu poder de alimentar a alma. Ela escreveu Minha Mãe Fazia, livro publicado pelo selo Bicicleta Amarela, da Rocco (R,50), com ilustrações da Laura Nogueira (olha que lindinha essa aí em cima). Ana reúne as receitas favoritas do caderno de sua mãe e do seu (criado com diversas influências). São 68 comidinhas que passam longe do rótulo de gourmet e evocam as melhores lembranças da vida familiar.
Divido aqui uma das que mais gostei. E que me lembra minha infância, a sopa de feijão. Esse caldinho aquece no pior dos invernos. Era servido na minha escola no jantar e eu chamava de sopa de chocolate (esses apelidos que sabe-se lá de onde as crianças tiram).
4 xícaras de feijão carioca cozinho
4 xícaras de chá de água
1 cebola
sal, pimenta-do-reino e outros temperinhos (cebolinha, coentro ou salsinha)
cominho
Bata o feijão com a água no liquidificador. Refogue a cebola bem picadinha no azeite e coloque o feijão batido ali. Se você quiser com mais caldo, basta acrescentar mais água. Tempere com sal, pimenta moída na hora, cebolinha picada, um pouco de coentro e uma colher de café de cominho. Deixe ferver por mais uns dez minutos. Se quiser acrescentar macarrão, cozinhe à parte e acrescente depois. Caso contrário, a sopa ficará grossa demais. Sirva quente, coma família reunida para ajudar a aquecer também o coração.