“Uma casa, afinal, não é uma ficção.” Acabo de ler em uma matéria de decoração da Style Magazine do New York Times e não posso discordar com mais força. Para mim, uma casa se constrói a partir de uma ficção. Uma vida se constrói a partir de uma ficção.
Naturalmente que há momentos em que só é viável reagir à vida, mas há outros, muitos, em que estamos livres para criar novas realidades. Vocês não acham? Não têm a sensação de que antes de um apaixonamento, por exemplo, é quase possível enxergar uma faixa de tempo, mínima, em que está nas nossas mãos, apaixonar-se ou não?
Penso o mesmo para as escolhas que fazemos em relação à nossa casa. Ainda que se more no lugar onde foi possível, o espírito de uma casa é pura invenção. Arquitetamos as rotinas, os cheiros, os ritmos. Determinamos o onde, o como, o com quem e o quando. Damos forma ao ambiente que dirá de nós.
Arriscamos.
A casa da matéria era uma aposta de risco. Em 2016, Federico Marchetti e Kerry Olsen, ambos na faixa dos 40 anos, ouviram do diretor de cinema italiano Luca Guardagnino (de Me chame pelo seu nome) a confissão de um desejo guardado. Sempre quisera ser um designer de interiores. O casal convidou um Guardagnino inexperiente para projetar a casa de campo que tinham comprado recentemente e com a qual sonhavam há muito tempo. Inventaram uma possibilidade. O diretor aceitando, inventou uma nova atuação.
Arriscaram.
O projeto está na capa da edição Design & Luxury publicada no último fim de semana, nem seria preciso dizer que é lindíssimo. Mas digo, é lindíssimo. Penso que é valioso refazer a pergunta que nos era feita com frequência na infância: o que você vai ser? O que você quer ser? Vale para lembrar que a posição estanque não é a única alternativa. Nos amores, no trabalho, em casa, em nós, refundar-se é permitido. A vida afinal é uma ficção.
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