“E é bom dormir consciente
De que estás viva e agitada
Nadando contra a corrente
Nesse teu mar camarada”
Vinicius de Moraes em
Estâncias à minha filha
“Tudo bem com as crianças? Notícias?”
Foi a mensagem que apitou no grupo de WhatsApp das mães na última segunda-feira à tarde. Explico. As crianças da sala da minha filha mais velha partiram, na manhã daquele dia, para uma viagem a Santos. Passariam as próximas 72 horas em um trabalho de campo que, naturalmente, envolve alguma aventura escolar e social e que – também naturalmente – é aguardado com ansiedade pelos alunos.
Daqui, do meu lugar de mãe, assisti à delícia das combinações. Como vão ser formados os grupos de estudo? Quem vai ficar comigo no alojamento? Será que vai dar praia? Vale levar uma guloseimazinha escondida na mala. Liga para um, liga para a outra. Bonito ver as memórias sendo construídas. Até que…
“Tudo bem com as crianças? Notícias?”
Não havia em minha imaginação espaço para nada que não fosse “tudo bem”. E a partir de então, houve. Espaço grande, frio, feio e escuro para toda e qualquer possibilidade de finais infelizes. Durou pouco. Mas o suficiente para me pôr para pensar.
Filhos estão sob risco o tempo inteiro. Estão vivos. E tudo pode acontecer a quem está. É um exercício poderoso de conviver com essas ameaças sem entregar todos os pensamentos a elas. É um exercício desafiador conviver com quem não se furta de despertar o medo alheio. É uma exercício comovente conviver com quem acolhe a mensagem e conforta o mensageiro.
Para além do perigo, penso que parte do que provoca essa pergunta é a agonia de suportar não estar presente em todos os momentos da vida das crianças. O pedido de fotos da viagem para a escola, a investigação para saber quem levou o celular, quem postou o resultado das atividades dizem sobre nós, sobre o nosso tempo.
Deixemos nossos filhos correr o risco de viver. Não são santos (que bom), mas têm a companhia de todos eles.
P.S.: Em tempo, chegaram bem.