Depois de alguns meses de resistência, conseguimos finalmente juntar o interesse de todos da casa em torno de um mesmo seriado. Trata-se de Anne with an ‘E’ exibido pela Netflix desde março de 2017. A produção canadense é baseada na história original de Lucy Maud Montgomery escrita em 1908. Somada a produção excelente (fotografia e direção de arte pra lá de cuidadosas) e a doçura no ponto certo do açúcar, a série surpreende tamanha a atualidade. Recomendo com empolgação especial às famílias de adolescentes e pré-adolescentes.
Para além dos temas encostadinhos nos que vivem nossos filhos (o pertencimento – ou não – ao grupo, as dificuldades na escola, as paqueras, as questões com a própria imagem, o começar a entender as possibilidades e portanto o medo e o desejo de mergulhar nelas todas) há uma camada na história que me comove a cada capítulo: a chance que as crianças nos dão de ressignificar o nosso passado.
Em um dos episódios da segunda temporada (contém mini spoiler), Matthew Cuthbert, representado por R. H. Thomson, se vê acidentalmente no palco com a responsabilidade da fala final do espetáculo de natal da escola da filha nas mãos. Ali, ele cura a recusa traumática de participar da sua própria apresentação escolar. Uma ilustração da potência do papel de coadjuvante que o papel de pais nos oferece. Bonito de ver. Impossível não se reconhecer na cena.
A parentalidade nos permite dar as mãos à nossa criança interior, abraçá-la sempre que for preciso e dizer para ela que “passou, está tudo bem”. Que presente, não?