Ninguém sabe tudo (nem eu e nem você)
Dos professores aos pais e alunos, erramos todos. E já que ninguém sabe tudo, questionar é preciso
“Solucione o problema e corrija o enunciado se necessário.” Era a primeira frase da lição de matemática que minha filha mais nova concentrava-se para responder. Tentou achar solução possível sem trair a certeza de que o que é oficial (o que vem de fonte segura – a professora) não carece de correção, mas ela acabou por canetar o papel. E com tinta vermelha para garantir o pacote completo.
Naturalmente o equívoco da lição era proposital. Tenho 56 canetas e sete estojos, quero dividi-las em quantidades iguais, de quantos estojos preciso? Estão lançadas aí duas dificuldades que são, para mim, absolutamente ilustrativas de nosso tempo: 1. Tem nos interessado dividir em partes iguais? 2. Em que medida naturalizamos a prioridade da quantidade de estojos em detrimento da quantidade de canetas?
Que exercício interessante esse, não? Para além da divisão, operação sobre a qual dedicam a atenção neste semestre, está posta na tarefa a abertura para a dúvida, mais do que isso, esta posta a notícia de ouro: o erro é democrático. Dos professores aos pais e alunos, erramos todos.
E já que ninguém sabe tudo, questionar é preciso. Propor reparo e, para tanto, oferecer as suas ideias, pôr à prova um raciocínio capaz de não somente apontar o erro (que pode inclusive ser o seu), mas de dar conta de uma equação. Que essa medida ultrapasse os enunciados e se torne um hábito. Faz-se urgente.