Tive – como vocês também devem ter tido – dias atípicos na última semana. Notícias e análises amplamente repercutidas em nossas casas, nos jornais, nas redes sociais, nos cafés dos escritórios (para quem conseguiu chegar aos escritórios, claro). Estive atenta às reações mais diversas, mais apaixonadas e tensas, pendendo ora para um lado e ora para o outro. Uma riqueza a oportunidade de nos escutar na falta. A falta.
A começar pela possibilidade dela. Digo possibilidade, porque antes que acabassem a gasolina nos tanques e os produtos nas prateleiras, sofremos todos com a fantasia de como seriam os próximos dias. Avizinhados ao caos, falimos antes que o encontro com ele se desse de fato.
Até que o encontro chegou, até que os postos fecharam, até que faltou. Falidos, incrédulos e exaustos seguimos. Seguimos faltantes.
E quando foi diferente? Proponho um exercício. Tente pensar em um boa fase da sua vida, o nascimento de um filho, a notícia da cura de um familiar doente, a promoção no trabalho, o encontro de um amor, por exemplo. Estava tudo lá? Houve algum momento em que você se sentiu 100% nutrido, sem nenhuma questão pendente? Satisfeito nos afetos, intelectualmente preenchido, leitura em dia, seguro, saudável, com dinheiro, boletos pagos, filhos amáveis e promissores, espírito elevado, exercícios feitos, certezas sobre seu futuro e o futuro do mundo, sem arrependimentos, dores nas costas, saudades, contatos pendentes, sede, fome, calor ou frio?
Eu aposto que não. Por que? Porque se você está lendo este texto, você está vivo. E viver é administrar faltas, administrar buracos. Dos mais concretos aos mais complexos, sabemos lidar com eles, pode ficar tranquilo. Se faltar, seguiremos faltantes. É o que sempre fomos. Boa semana, queridos.