Estreiou no fim do mês passado o festejado Me chame pelo seu nome, do diretor Luca Guadagnino. Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, o filme concorre à principal categoria do próximo Oscar. Assisti – e recomendo com fervor – ao romance do jovem Elio e do acadêmico Oliver no período de férias das crianças, que estavam a quilômetros de distância, na casa da avó. Talvez por isso, para além da delicadeza (e força – ao mesmo tempo) da história de amor, de minha perspectiva, o que faz o filme ser grande é a potência e a riqueza da relação de Elio e seus pais. E mais ainda, a sensação de se descobrir gostando de quem se é.
Seguramente, não fui a única a observar o poder dessa relação. Li recentemente o seguinte comentário de um amigo sobre o filme: “Queria morar na cena da conversa em família”. Eu não chegaria a morar na cena, mas daqui, de meu lugar de mãe (ele provavelmente falava do seu lugar de filho), gostaria de representar para minhas meninas a segurança, a inspiração e a liberdade que são os pais para Elio. Independentemente dos papéis que cada um ocupa na hierarquia familiar, o que está posto é a ligação entre três pessoas. Só gente. Gente que se gosta, que fica bem junta, em silêncio mesmo, com quem se pode contar. Humores, saberes, tristezas e desejos respeitados. Não é pouca coisa, assim como está longe de ser simples o gostar de si que citei anteriormente.
A cena que dá nome ao filme é, para mim, a mais impactante de todas. Talvez nesse microssegundo eu gostaria, sim, de passar uma temporada longa. Fazer alguém se ouvir chamar (apaixonadamente) pelo próprio nome é de um encanto que faz toda a história valer a pena. A descoberta do amor por um outro (seja por um homem, seja por uma mulher; seja na juventude, seja em qualquer outra idade) é grande, claro! Mas ver alguém se pegar arrebatado por si e pelo efeito que causa na vida é maior. É enorme.
Que tenhamos sempre a quem chamar com gosto, mesmo que seja pelo próprio nome.