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Coluna da Liliane Prata

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Para quem vai casar. Com amor

Quando o amor de um casal flui, esse amor não banha apenas os dois, mas todos nós

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 Maio 2017, 20h18 - Publicado em 26 Maio 2017, 19h42
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  • Recentemente, um casal muito querido me convidou para ser mestre de cerimônias de seu casamento, ao lado de dois grandes amigos deles. Vibrei por fazer parte daquele momento. Depois que nós três discursamos, os noivos fizeram votos repletos de afeto e delicadeza um para o outro e então, juntos, fizeram votos para os convidados. No fim, o noivo pediu que todos os convidados déssemos as mãos e sentíssemos aquele amor compartilhado. E sentimos. Foi impossível voltar para casa sem levar um morninho bom no peito. Compartilho aqui com vocês o que escrevi com muito afeto para aquele dia tão especial:

    Cora Coralina escreveu: “É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.” Penso nessas palavras da poeta quando penso no casamento da Lu e do Gu, no amor da Lu e do Gu, nos casamentos, nos amores.

    A gente chama tanta coisa de amor, embora o amor esteja longe de ser qualquer coisa. Passamos a vida querendo amar e ser amados, mas nos confundimos com as definições. Desejamos o amor tanto quanto o tememos, justamente porque sabemos que, quando o amor aparece, ele nos desconstrói, posto que o amor é um tombo – daí a expressão fall in love. Mas se a gente continua, mesmo com todas as nossas ambiguidades e com toda a nossa confusão humana, a ver o amor como a mais bela, e por que não a mais real, de todas as coisas, é porque tem mais chão nos nossos olhos do que cansaço nas nossas pernas, mais esperança nos nossos passos do que tristeza nos nossos ombros, mais estrada no nosso coração do que medo na nossa cabeça.

    Tem quem diga que o amor dá trabalho, mas muito mais trabalho sempre deu o desamor. Se não achamos o amor simples, a vida sem amor, podemos ter certeza, seria muito mais complicada.

    Se, tantas vezes, nos perdemos ao amar e ser amados, se atribuímos ao amor as nossas mais belas e também algumas de nossas mais difíceis experiências, penso que isso está muito mais relacionado às nossas limitações para nos entregarmos a algo tão sublime como o amor do que com o amor propriamente dito. Com isso, não quero dizer, no entanto, que o amor seja um ideal. Pelo contrário: volto a dizer que o amor é a mais real das coisas. Penso no uruguaio Mario Levrero no livro Deixa Comigo: “Nada é real. Só o amor e a morte, mas sobre a morte não estou tão certo”.

    Belo e confuso, o mundo nos é, no limite, incompreensível. Contudo, nestes nossos dias que enxergamos com olhos humanos, sem garantias metafísicas, algo soa muito mais visceral do que todo o resto. O amor é ainda mais concreto do que este chão em que estou pisando (…). A potência amorosa é mais impactante do que um foguete; é a força motriz que está na base de todos os foguetes e de tudo o que acontece, força que consegue fluir livremente quando nos despimos de nossos medos, nossas vaidades, nosso ego. Não há a menor necessidade de dogmas. Quando permitimos que o amor ocorra, eis o verdadeiro milagre.

    Que bom é quando conseguimos viver sem comprometer o curso natural do amor, que não precisa ser religioso e ou transcendente, posto que é tão concreto e natural como as águas, as plantas (…). O amor é muito real porque não está fora deste mundo, é extremamente imanente; é o que mais nos chama para a presença e, ao mesmo tempo, requer presença para que nos envolva.

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    O rastro do amor também é algo muito palpável. Quando permitimos que o amor flua, esse amor está longe de envolver apenas os familiares que amam, os amigos que amam, o casal que se ama: ele banha todos nós. Não acredito em nenhuma energia mais viva e poderosa do que a amorosa. Acredito que todos aqui estejamos sentindo essa energia. Porque todos somos capazes de senti-la. E para senti-la não precisamos de manuais de como amar, de conselhos, de certo e errado, moralismos ou preocupações: nos bastam nossos olhos. Nos basta ser. O amor tem isso de bonito: nos lembra de que nos basta ser. Pois é quando estamos amando que nos permitimos abdicar de tantas máscaras. É quando amamos que nos entregamos ao fluxo da existência sem nossas defesas e resistências costumeiras. Amar é poder, finalmente, descansar.

    Podemos entender o amor como algo romântico e idealizado. Mas, em vez disso, podemos aceitar o amor como essa força viva, real e compartilhada, e é por isso que fico tão tocada com o encontro da Lu e do Gu, pois é esse o amor que vejo neles. O amor não como uma meta, mas como um modo, o amor não como uma luta, mas como uma dança. O amor como um caldo envolvendo os dois quando eles estão juntos, cada um deles quando estão longe um do outro, envolvendo seus amigos, familiares, vizinhos, parceiros de trabalho, envolvendo todos nós que estamos aqui.

    Por isso a dança
    A vida pisando na cara do tempo
    O triunfo do coração
    O discurso vitorioso dos pés

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    (Maria Cecília Brandi)

    Chamamos o amor de muitas coisas, mas não há nem nunca houve relativismo algum no amor. Estamos inscritos na mesma gramática, a do afeto que desce morno e aveludado, sem questionamento ou dúvida alguma. O caldo amoroso habita o reino das verdades autoevidentes. Não há nenhum muro conceitual entre nós e o amor, só nossa confusão e nossa imensa vontade de acessá-lo. Acessar, não lutar: e não precisa nem adquirir o ingresso com antecedência, é só chegar. Muitos perguntam: neste mundo de hoje, onde está o amor? E o amor bem aqui, diante de nós, em volta de nós, neste casal, nesse chão, neste céu, o amor está aí, para que todos nós amemos.

    Lu e Gu, eu, assim como todos nós aqui, desejo a vocês dois que sigam nesta que é a mais bela e verdadeira experiência que podemos alcançar em vida: a experiência do amor. Que continuem sendo e crescendo juntos, autorizando-se a serem quem são, permitindo-se acessar a luz que há dentro de vocês e, com isso, acendendo cada vez mais luzes à sua volta. Amar é descansar, e nesse descanso florescer: que vocês sigam florescendo um ao outro.

    Liliane Prata é editora de comportamento de CLAUDIA e escreve semanalmente aqui no site. Para falar com ela, mande um e-mail para liliane.prata@abril.com.br

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