Você já viu uma panela de pressão explodir? É inacreditável o estrago que ela faz. Eu ouvi uma vez. Quando digo “ouvi”, é porque tive a sorte de não estar ao lado dela naquela hora. Do contrário, não estaria escrevendo esta coluna. Primeiro, o barulho ensurdecedor. Ao chegar à cozinha, a cena: o fogão torto, com a tampa de vidro estilhaçada, a cozinha pintada de feijão (até o teto – não esqueço disso) e a panela inutilizada.
Outro dia, do nada, comecei a chorar. Chorar de vez em quando é fundamental, a lágrima é o “líquido do fígado. Ela desce aliviando as dores e a raiva. Meu marido perguntou o que eu tinha e eu disse que não podia falar. “Por quê? É proibido?” De certa forma era. Eu estava sob pressão e não percebi que era isso. Afinal, eu gosto do que faço. Logo descobri que gostar não é garantia de nada.
Quando sua cabeça começa a correr atrás de você, não há o que fazer. O melhor é correr até cansar, parar e tentar entender o que está acontecendo. No fundo, eu achava que tinha algo muito estranho nesse negócio todo de pressão. Fui saber. Entre outras coisas, pressão se define por acúmulo de tensões.
Olha, com respeito, vou discordar: tensão é uma grande amiga injustiçada. Seus sinônimos, que parecem feios, são sublimes: aflição, preocupação, nervosismo, ansiedade, medo. Você não faz nada sem uma dose disso no seu dia a dia. Não ousa, não diverge, não cria, não se sustenta. Até para levantar da cama precisamos de uma certa tensão. Mas a palavra foi ganhando má fama e acabou por se tornar a vilã da história. Não é.
Em dança, por exemplo, é fundamental. Você não dá sequer um giro sem tensão. A fluidez só existe porque mistura tensão e relaxamento. Certa vez, estava parada na coxia olhando para o centro do palco quando o contrarregra se aproximou. Eu disse a ele que me sentia um pouco nervosa. Ele era português e respondeu com um sotaque carregado: “É a tensão necessária para que façamos bem nosso trabalho”. No sexo, é básica: sem tensão você não goza. Um mundo sem ela seria só um lugar insuportavelmente chato.
O jogo é aprender a usar. Na cozinha, no escritório, em casa, no teatro, não importa. Estar tenso é estar vivo também. Agora, é preciso ter coragem para lidar com a tensão. Tudo o que se refere a ela – tração, força, resistência e estabilidade – faz parte das nossas escolhas.
Mas eu sei que não vivemos sempre na medida. Vamos acumulando inquietações, e começa a loucura. Só espero que a gente não chegue à neurose total. O mundo é nosso, não vamos esquecer isso. Podemos alternar tensão e relaxamento. E é bom.
A apreensão não vai nos deixar e vez por outra vamos nos surpreender com nossa capacidade de viver sob ameaça. Somos cobradas ao extremo, muitas vezes por nós mesmas, mas sabemos que tudo tem receita. Então podemos ousar sempre, criar, fazer dez coisas ao mesmo tempo sem que a pressão nos anule.
Afinal, ela também produz coisas maravilhosas. Ou vai me dizer que você nunca comeu uma bela carne ou um feijãozinho bem cozido numa panela de pressão?