Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Coluna da Fernanda D'Umbra

Por Olho da rua Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Coluna da atriz, bailarina, diretora, roteirista, compositora, poeta, cozinheira madrasta e vocalista da banda Fábrica de Animais Fernanda D'Umbra
Continua após publicidade

Minha cidade natal já não é mais a mesma cidade em que nasci

O sentimento de nostalgia ao lugar que não reconhecemos, mas que está vivo na memória. "Do que então temos saudade? De algo que não existe mais."

Por Fernanda D'Umbra Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 fev 2017, 15h15 - Publicado em 20 fev 2017, 15h11
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Escrevo numa lan house e estranho o teclado. Em verdade, estranho tudo. Erro os caminhos, me perco dentro das lojas, não sei mais o nome das pessoas e faço perguntas que soam ridículas. Mas não acho isso ruim. Descubro novos lugares e às vezes sinto cheiros que me são familiares: a padaria próxima à casa da minha avó, as flores da avenida, os temperos do mercado municipal e a chuva nos alpendres.

    Não estou na mesma cidade em que nasci e também não sou mais a menina que pegou um ônibus e foi embora há 28 anos. Tudo mudou, eu mudei. Do que então temos saudade? De algo que não existe mais. Sempre que uma amiga ou um amigo sofre de amor, costumo dizer: a pessoa que você está deixando (ou que te deixou) não é a mesma com
    que você se casou.

    Ontem fui visitar uma amiga de infância e ela me apresentou seus filhos. Um menino de 17 anos e uma menina de 14. Duas pessoas incríveis, amorosas, inteligentes e companheiras. Minha amiga contou coisas que aconteceram com ela nos últimos anos. Chocante é pouco. Contei muita coisa também. Não choramos. Nosso humor sarcástico nos manteve altivas durante o café com bolo. E a verdade – desculpem a imodéstia – é que estamos muito bem, para surpresa de todos.

    Leia mais: “A separação faz parte do amor”

    Aprendi aqui a não reclamar demais, não sofrer em demasia e seguir pela estrada quebrando pedras e colhendo flores ao mesmo tempo, algo tão feminino. Somos mulheres; nossa força ainda é um mistério.

    Continua após a publicidade

    Minha família toda mora aqui, longe de mim, e por isso criei outros laços ao longo da vida. Mas a intimidade mora em lugares estranhos. A voz da minha mãe, idêntica à minha, suas mãos tingindo meus cabelos e seu sorriso adorado dizem que estou em casa, mesmo não estando mais.

    As ruas aqui são quentes, o sol escaldante e minhas roupas escuras não combinam com a paisagem. Mas dou risada de tudo isso. Olho para a cidade como uma estrangeira encantada e peço licença o tempo todo.

    Acho que estou em casa, tento acreditar, repito em pensamento: “Estou no lugar onde nasci”. Mas não estou. Esse lugar não existe mais; por isso toda essa confusão. Vou aos bares e me apresentam como alguém daqui. Subo ao palco para cantar e me anunciam como uma filha da terra. Então me sinto à vontade ao mesmo tempo que não sei me comportar. Penso que nunca soube.

    Continua após a publicidade

    Leia mais: Os nossos desejos que não são tão nossos

    Olho a cidade hoje e vejo que ela é muito mais legal do que quando eu estava aqui. E muita gente que eu conheço tem responsabilidade nisso. Fizeram desse lugar uma cidade mais livre e mais bonita.

    Além disso muita gente de fora veio para cá. Não era assim antes. E eu sempre gostei de imigrantes e migrantes; não à toa, sou uma. A cidade se mexe com eles, fica mais plástica, ganha belos sotaques estranhos, e muitas outras formas de viver neste lugar passam a existir. E eu não conheço nenhuma delas. Ainda me perco; no entanto, acho bom me perder aqui.

    Nessa cidade, que agora é imensa, duas coisas nunca mudaram: meu melhor amigo ainda mora nela e o céu é incomparavelmente belo. Então vou até a varanda, olho para cima, tenho muita saudade do que estou vendo e finalmente me sinto em casa.

    Publicidade

    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

    Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
    digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

    a partir de 10,99/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.