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Coluna da Alexandra Loras

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Alexandra Baldeh Loras é mestrada em Gestão de Mídia pela Sciences Po, influenciadora e palestrante em raça, gênero e diversidade
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O poder de ocupar seu espaço

Alexandra Loras faz sua estreia como colunista de CLAUDIA

Por Alexandra Loras Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 jan 2017, 18h38 - Publicado em 16 jan 2017, 18h38

Desde muito cedo, percebi que teria que me esforçar mais por ser negra. Quando entrei em uma das melhores faculdades francesas, a Sciences Po, travei uma luta contra minha própria voz, que me dizia, “não, Alexandra, você não pode alcançar esse nível”. Eu tentava dominar essa voz e sabia que poderia vencê-la. Mas isso me fez perceber o quanto a sociedade tinha me marcado como mulher e negra. Então decidi ir lá e empurrar as portas e elas se abriram. Eu tinha muitos limites que me falavam: “Ah, mas você não conhece ninguém lá, você não pode, você não é capaz…”. Mas a verdade é que cada um de nós é capaz, cada um de nós é cheio de talentos, cheio de potenciais enormes que precisam ser revelados. Quantos Mozarts, por exemplo, nunca foram apresentados a um piano?

Mesmo não existindo um apartheid oficial no Brasil, há ambientes onde o negro não vai. Fomos condicionados a não se autorizar a fazer certas coisas. Nos shoppings de luxo, por exemplo, não há uma placa dizendo “só para brancos” mas, mesmo assim, vê-se poucas pessoas negras nesses espaços. Há algum tempo a Google me convidou para uma palestra, ocasião na qual me informaram que queriam contratar mais negros. Eles anunciaram as vagas em uma das universidades com mais alunos negros de São Paulo, porém não receberam nenhum currículo. Por quê? Porque o negro tem a autoestima tão baixa que não acredita que possa se candidatar para uma vaga no Google. Esta é nossa grande enfermidade.

Tenho acompanhado com muito orgulho histórias de mulheres incríveis com grandes conquistas, como a estudante Lorrayne Isidoro, que representou o Brasil na Olimpíada Internacional de Neurociências na Dinamarca. Com apenas 17 anos, moradora de uma favela no Rio de Janeiro, sempre estudou em escola pública, aprendeu sozinha a falar inglês e francês e precisou criar uma campanha de financiamento coletivo para custear a sua viagem para a Dinamarca, depois de vencer a IV Olimpíada Brasileira de Neurociências, em São Paulo.

Outra linda história que conheci recentemente é a de Ariana Reis, uma mulher negra de origem humilde que se formou médica com muita luta. Em seu convite de formatura, escreveu a seguinte frase: “Sou mulher, sou negra, sou da favela e hoje sou médica.”

Essas mulheres são para mim uma grande inspiração, porque venceram a falta de privilégios, a desigualdade e a voz interior que diz que não somos dignos ou capazes, e conquistaram seus espaços. Sei que elas representam exceções em um mundo onde a falta de oportunidades favorece alguns talentos, enquanto ofusca outros. Isso é particularmente evidente no Brasil, um país onde a desigualdade social e o preconceito ainda são tão grandes.

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Acredito que a solução ideal é termos uma sociedade mais justa e com iguais oportunidades para todos. Mas enquanto lutamos por isso, como vencer essa voz interior e conquistar os espaços que queremos, como fizeram Lorrayne e Ariana? Gosto muito de um conselho que recebi de uma amiga há 15 anos. Ela me levou a uma festa da elite e eu estava muito envergonhada, não sabia me portar, queria desaparecer, sumir daquele lugar. Ela, que também era de origem humilde e muçulmana, circulava como se conhecesse a todos, e todos a cumprimentavam e conversavam com ela. Perguntei: “como você faz isso?” E ela me respondeu: “Você tem que se sentir dona do lugar. Não com arrogância, mas da mesma forma como você receberia seus amigos em sua casa: acolhedora, simpática e feliz em ver essas pessoas que tomaram de seu tempo precioso para vir lhe visitar”. Ela tinha razão. Você precisa encontrar o pensamento que vai te empoderar para conquistar qualquer espaço. Pense que você é a dona do lugar, em vez de achar que você não é digna de estar ali. Por que uma pessoa de uma família privilegiada seria mais legítima nos espaços de poder do que uma pessoa de origem humilde que não teve os mesmos privilégios? Acho que esta foi a maior lição que aprendi.

E é sobre esta lição (e todos os seus desdobramentos), que pretendo falar nesta coluna mensal que, a partir de hoje, assino em CLAUDIA. Quero ouvir o que você tem a dizer sobre isso.

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