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Idealizadora do @namastreta, a jornalista Caroline Apple trilha o caminho da autorresponsabilidade nos relacionamentos

Instruções amorosas

Usar uma cartilha do que fazer ou não em um relacionamento pode te ajudar momentaneamente, mas, em longo prazo, é uma cilada

Por Caroline Apple
15 set 2023, 09h05
Instruções amorosas podem nos fazer repetir os mesmos padrões em relacionamentos.
Caroline Apple reflete sobre os perigos de seguirmos "receitas prontas" em relacionamentos.  (Halfpoint Images (Getty)/Reprodução)
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Se instruções amorosas estão funcionando, trago más notícias: você pode ter padronizado a sua forma de se relacionar. Essa é a única maneira de as orientações generalizadas funcionarem em algo tão subjetivo e artesanal. Porém, caso não tenha percebido ainda, os nossos comportamentos estão cada dia mais padronizados, o que os tornaram previsíveis.

Isso tira o nosso prazer, o nosso brilho diante das coisas — sorte que a vida não desiste de nos surpreender. É como assistir um filme com roteiro hollywoodiano. Mudam os personagens, a história, o cenário, mas a dinâmica é a mesma, tirando o espectador do desconforto da dúvida. Diria que, na verdade, a vida está (ou deveria estar) mais perto de um filme de Pedro Almodóvar ou de Alejandro Jodorowsky: inesperado e surreal.

Nos relacionamentos, a mesma coisa. Quando algo deixa de nos surpreender, é o momento em que percebemos que o industrializamos. Só algo fabricado em escala pode vir com manual. As instruções amorosas podem, sim, funcionar, mas somente para quem não teceu verdadeiramente com as próprias mãos o relacionar-se.

Muita gente me pergunta como posso saber tantas coisas sobre dinâmicas humanas. Não se trata de um dom místico, apenas me considero uma grande observadora dos comportamentos. Eles que estão óbvios demais, daí fica fácil “prever” os resultados.

Hoje, sinto que estou num bom caminho quando nada sei, mesmo que parte de mim agonize diante do mistério. Aprender a nadar no oceano do não saber é libertador, porque saímos da tentativa de controle e nos entregamos para o fluxo dos caminhos, sem se debater nadando contra a maré, nem se desesperar no mar enfurecido ou até mesmo deixar de aproveitar a calmaria e descansar em vez de nadar compulsivamente para chegar até uma ilha que insistimos ser nosso destino, enquanto tudo mostra o contrário.

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Claro que essas dicas podem ser valiosas para um momento específico, mas esse jogo é perigoso, ele pode nos tirar da nossa verdade e nos levar a agir de modo incoerente com o que sentimos. Instruções externas são conhecimentos emprestados e assim como chegam, podem ir embora. Já a experiência não. É nossa, intransferível e ninguém a tira da gente. E é nesse viver artesanalmente que percebemos o quão complexo é o simples, sobretudo em tempos de tanta racionalidade.

Eu entendo que os relacionamentos têm as suas dinâmicas, mas não é sobre estratégia. Eu não quero artimanhas. O equilíbrio entre dar e receber também é único. O que me equilibra pode te desequilibrar. Só tenho visto perdedores nessa jogatina quando o assunto é amor.

A linguagem dos relacionamentos não é universal. Existem muitas maneiras de se relacionar, por isso, não há receita. E se encontrou uma por aí, jogue fora agora e invente a sua.

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