Enquanto seres racionais, nós, humanos, temos uma forte tendência a dar mais atenção a todo produto fruto do intelecto, como, por exemplo, a comunicação pela fala, pela escrita e até por sinais. Comecei a perceber que estes meios de comunicação têm sido superestimados a partir do momento que passei a entender que tudo conversa com a gente, não só as palavras e suas formas de manifestação. É como se a vida real acontecesse em um lugar onde nenhum dos cinco sentidos que nos fazem interagir com o exterior é capaz de traduzir.
É quando uma sensação de estranhamento nos acomete, mesmo quando o tal diálogo ainda está presente. É quando o parceiro conversa “normalmente” com a gente, mas algo dentro de nós tem a nítida impressão de que algo não vai bem. E mesmo quando questionamos, as respostas que poderiam aliviar aquele desconforto não chegam.
Essa percepção está em outros sentidos, nos quais a língua (portuguesa, inglesa, alemã, tanto faz) não dá conta. É quando o diálogo falha diante das inúmeras formas que temos de nos comunicar. Essa ânsia por resolver na fala, ali na hora, algo que está acontecendo em outra esfera gera mais conflito, porque ela não se mostra o suficiente.
Atitudes, expressões e semblantes também falam. Até o silêncio fala. Mas quando decidimos buscar respostas somente em uma forma de comunicação, corremos o risco de viver relações confusas. Sentar e falar pela tangente não quer dizer nada se as ações “comunicam” o contrário, e vice e versa. Dizer que o “diálogo é tudo na relação” é complicado se você não define que diálogo não se trata só de palavras e, sim, de uma comunicação coordenada na qual todo nosso ser está presente, atento aos sinais dos mais diversos. Entender com a cabeça é diferente de compreender com o coração, que exige muito mais do que a racionalidade.
A qualidade do diálogo está intimamente ligada a esse processo, mas não podemos contar que do outro lado há uma pessoa que lide com tanta honestidade com seus sentimentos. Isso não significa que uma possível falta de sinceridade na fala seja um plano maléfico e perverso para nos prejudicar. Muitas vezes as palavras não chegam porque o sentimento ainda está em fase de decantação, porque a pessoa tem dificuldade de expor o que sente, porque o medo pode ser uma barreira, porque existe a intenção de evitar o conflito… São muitas variáveis em jogo, sabemos. Então, por que nos apegamos tanto ao diálogo se as informações podem vir cheias de lacunas?
Quem nunca cobrou da outra pessoa as palavras que precisava ouvir para tomar uma decisão ou sair de um desconforto? Mas para que esperar a resposta por meio de palavras se ela sempre esteve em todo o contexto? Que possamos valorizar a comunicação coordenada em nossas relações daqui para frente.