“Quem disse que dinheiro não compra felicidade não sabe o endereço das lojas certas!”. Eu morri de dar risada na primeira vez que ouvi esta frase. Imediatamente, começaram a surgir na minha cabeça imagens de marcas que adoro. Ah, a alegria de pensar em fazer compras, de pensar o armário cheio de peças novas…
Digo tudo isso porque não sou hipócrita – eu gosto sim de comprar. Mas ao longo dos anos trabalhando como educadora financeira, aprendi que dinheiro não traz felicidade.
Para começo de conversa, o ser humano é especialmente ruim em saber o que vai nos fazer felizes no futuro. O problema é a nossa capacidade de previsão – conforme explica o psicólogo social Daniel Gilbert no livro “O que nos faz felizes”. A ideia de um carro novo parece sensacional, mas a alegria que ele traz é passageira. Durante algumas semanas, vamos realmente sentir-nos bem com ele, mas depois, a poeira abaixa e nos habituamos. Ele vira parte do básico da nossa vida. E é realmente difícil sentir felicidade com a rotina e tudo aquilo que é o nosso padrão, não?
Acreditamos que vamos ser felizes quando comprarmos um imóvel, gastamos dinheiro com desejos de consumo, vivemos na busca do batom perfeito e queremos sempre o celular “top de linha”. Mas no fim do dia, nada daquilo traz de fato felicidade. Nos acostumamos a tudo.
Existem dados para corroborar esta visão. Um estudo realizado na Universidade de Princeton revelou que há uma correlação entre dinheiro e felicidade – mas só até um certo nível. Quanto mais você ganha, mais feliz você é, até o patamar de US$ 75 mil por ano. O número pode estar desatualizado e precisaria ser adaptado para a realidade brasileira – mas ainda assim a mensagem é clara. A partir de um certo nível, mais dinheiro não gera necessariamente mais felicidade.
O que, então, traz de fato felicidade?
Há um campo completo de estudos sobre o tema: a psicologia positiva. Em um curso da Universidade de Yale, a psicóloga cognitiva Laurie Santos diz que uma grande fortuna tem um efeito pequeno sobre a felicidade. “Aquilo que prevemos (que vai trazer felicidade) é muito menos eficiente do que outras práticas que sugerimos”, conta, e cita alguns, como meditar, fazer um diário de gratidão e criar tempo para cuidar dos relacionamentos.
Estas medidas podem soar simples e até um pouco “new age”, mas há estudos que comprovam que elas trazem uma felicidade duradoura para seus praticantes. Eu já aderi e posso atestar que elas fazem bem para a alma. Mas vamos voltar para a minha especialidade, que é dinheiro.
Gastar e ter mais pode não trazer felicidade, mas ninguém falou sobre a alegria de cuidar melhor dele (aliás, estudar algo novo é outra técnica comprovada que traz, sim, felicidade). Eu vejo na prática como aprender a lidar melhor com seu dinheiro gera um bem-estar e uma paz de espírito enormes. Investir, então, nem se fala: é indescritível a sensação de ver o seu patrimônio crescer graças a aplicações bem-feitas.
Faço um desafio para você: durante 30 dias, anote todos os seus impulsos de compra e tente esperar 24 horas antes de adquirir algo. No fim do dia, em casa, reveja a sua lista e questione-se, bem à Marie Kondo: este item me traria felicidade? Se a resposta for sim (e você tiver dinheiro), aproveite e faça a compra. Mas se ela for não, pegue o dinheiro e use ele para algo melhor, como quitar uma dívida ou aplicar em algo. O seu bolso e o seu estado de espírito agradecem!
Carol Sandler é fundadora do Finanças Femininas e sócia da Ella’s Investimentos.
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