No fim de semana, levei a minha filha ao cinema. Antes de irmos à sala, passamos em uma banca de doces para escolhermos uma guloseima. Quando entramos, ela arregalou os olhos: era a primeira vez que ela via tantos doces ao mesmo tempo. Pão de mel, jujubas, marshmallows, chocolates… Não preciso nem dizer que ela foi à loucura.
Por ela, ela teria pego tudo de tudo. Com tantas opções, como optar por só uma? No meu papel de mãe, eu precisei explicar a ela que tanto doce assim não faria bem, que ela teria que escolher. A primeira reação dela foi de frustração. Natural, não?
Fiquei pensando que nós também reagimos assim quando enfrentamos uma situação de abundância. Que atire a primeira pedra a primeira pessoa que não enlouqueceu em uma loja de R$ 1,99.
Faz parte da nossa natureza. Foi quando me lembrei de algo que li no livro “Joyful” (Alegre, em uma tradução livre), da designer Ingrid Fetell Lee. Ela destaca: “Lojas de doces (e supermercados e shoppings) são tão comuns na sociedade contemporânea que é fácil esquecer que até pouco tempo atrás esta abundância era uma raridade. Para as milhares de gerações dos primeiros humanos, que coletavam e caçavam para a sua subsistência, até mesmo um mini mercado de posto de gasolina seria considerado algo opulento”.
Durante milhares de anos, a vida dos seres humanos passou por incontáveis períodos imprevisíveis de escassez. Sem geladeiras, cartão de crédito ou supermercados, não havia uma forma de garantir a subsistência. Ao longo deste período, escreve a autora, é natural que nós tenhamos desenvolvido uma preferência pela abundância. Afinal de contas, esta era uma garantia de que quando os tempos de vacas magras viessem, a sobrevivência estaria garantida.
Os tempos mudaram, mas continuamos com o mesmo tipo de comportamento. É o que explica porque nos empanturramos em restaurantes por quilo ou tomamos todas em festas open bar. É o que explica porque gastamos tanto em liquidações.
Mas a minha preocupação como educadora financeira (e como mãe) é de não deixarmos este gosto pela abundância assumir o controle das nossas vidas, até porque isso não é viável. Vivemos em um mundo de inovação, onde novos produtos, modas e tendências são lançados a cada semana. Não há salário que dê conta.
Como então navegar este admirável mundo novo de excessos mil na palma da mão? A minha dica é simples: parar de pensar o tempo todo em tudo aquilo que não temos e começar a focar em tudo aquilo que já é nosso. Olhar a vida pelo viés da gratidão. Eu sei que isso pode soar piegas, mas o mundo do consumo é o mundo da ausência. Só olhamos para o que nos “falta”. A publicidade sempre promete que com aquele produto, seremos felizes. Mas muitas vezes, o ato de comprar traz mais alegria do que o ter. Passamos a vida em busca de uma nova injeção de serotonina. Queremos mais e mais e mais.
Por isso, comece a olhar para tudo aquilo que você já tem. Tire uma hora para separar todas as roupas que você tem e não usa. Repare em todas aquelas que ainda estão penduradas com etiqueta. Pois é: temos tanto que nem damos o devido valor. Quando você muda o foco, começa a ver o que não enxergava antes.
Ao entendermos que a busca pelo excesso tem que ter algum limite, fica mais fácil de ver onde ela pode ser tóxica para a sua vida – e para o planeta. Prefira focar na abundância daquilo que não for material: abundância de alegria, de saúde e de sucesso!
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