Eu já vou começar quebrando as regras do bom jornalismo: a novidade deste texto está lá no meio. Este início, que vem nas linhas a seguir, é um amontoado de coisas que você já conhece, mas, talvez, não pare para pensar sobre elas no dia a dia. Ou até pode ser que pare, mas que tal pensarmos juntos?
O mundo está chato pra caramba. Tem dezenas –ou centenas, ou milhares, ou… – de pessoas criando teorias para a origem dessa chatice toda. Então eu vou criar a minha também. Acho que o mundo está chato porque vivemos em bolhas cada vez mais fechadinhas, onde tudo é mais ou menos previsível, onde temos maior sensação de conforto (spoiler: é só uma sensação, pessoal!) e nos livramos do trabalho de lidar com diferenças.
Uma porção de fatores colabora para isso. Temos medo. Medo do assalto, da poluição, da gripe, do trânsito, de perder o emprego, de ficar sem dinheiro. Temos medo do vizinho, esse cara estranho que, aos meus olhos, é homem, mas insiste em usar roupas de mulher. Que coisa! Sobre o que eu vou conversar com ele? Ou eu deveria chamar de “ela”? Ou “elx”? Ah, é muita complicação. Melhor só dar “bom dia”. Ou nem isso… Temos medo de polêmica, então por que começar a conversar assuntos espinhosos, não é? Para que manter aquele parente sem noção postando absurdos na minha timeline? Que cansativo! Meu dia já foi cheio o suficiente, tenho ainda que tentar convencer alguém de que direitos humanos são importantes, puxa!? Ah, vou deletar… Estou cansada.
As facilidades do mundo contemporâneo são lindas e o universo virtual pode, sim, abrir um mundão para cada um de nós. Mas, para isso, é preciso uma vontade extra, um fôlego maior para acessar endereços novos, insistir em linhas de um texto com o qual, a princípio, eu não concordo, e até baixar a tela do computador, do celular ou sei lá que aparelhinho você carrega acoplado a seu peito e espiar o que está além, o que surpreende, desconforta, tira nossa mente do automático e nos obriga a pensar, a rever conceitos e preconceitos. Parece incrível que uma fórmula matemática mucho louca traga para mim exatamente a notícia sobre a qual eu tenho o maior interesse (ainda que eu nunca tenha ouvido falar sobre o site neozelandês que a publicou). É fantástico que esses gênios dos vales mundo afora criem dispositivos que sabem, pelo meu olhar, exatamente quem sou eu e, assim, permitam meu acesso ao confortável edifício onde moro – e, claro, barrem os possíveis invasores. No entanto, se deixarmos os algoritmos e as campanhas de operadoras de seguro à solta, viveremos murados, alarmados, em condomínios reais – para quem pode pagar a conta – e/ou virtuais impostos pelas métricas das redes sociais.
Este blog é um convite para que você saia dessa bolhinha. Calma! Eu não vou invadir sua casa, roubar seus filhos, nem maldizer sua família. Mas eu prometo trazer aqui histórias que estão além dessas vilas frágeis e fantásticas que criamos para nós. É isso o que eu sou obrigada, por ofício, a fazer o tempo todo. E, agora, compartilho uma partezinha com vocês. Deixe eu explicar como vai ser isso.
Como repórter do Prêmio CLAUDIA, passo cerca de quatro meses por ano viajando o Brasil para conhecer as possíveis candidatas. A cada edição, recebemos, no mínimo, trezentas indicações. Depois de uma seleção interna, vamos a campo para conferir pessoalmente cada um dos projetos e, sobretudo, saber quem são as pessoas responsáveis por eles. É muito comum que, em um dia, eu amanheça um pouco intimidada com minha jequice tomando café com a CEO de uma grande empresa em um escritório luxuoso em São Paulo e, no seguinte, enfrente o meu medo de uma típica mulher branca de classe média para subir um morro na periferia (ou no centro) de alguma capital do Brasil. A trabalho, sou obrigada a ficar de cara não só com minhas fraquezas, meus medos, mas meus preconceitos (eu tenho vários, todos temos), minhas crenças, meus sonhos… Fico diante de uma realidade bem diferente daquela que os algoritmos entregam para mim por meio das redes sociais. É cansativo!? Muito. A cada entrevista, entro uma pessoa e saio outra – anda bem difícil conseguir alta no analista… Mas é também um grande exercício de cidadania e, acredito, de humanidade.
A cada perfil publicado, tento trazer um pouco disso nas histórias de finalistas. Mas um texto só não dá conta. Elas são muito mais do que uma página de revista. Cada pessoa dessa é um universo de boas histórias para serem contadas. Além disso, nos bastidores, eu e o fotógrafo Pablo Saborido, que me acompanha na empreitada, flagramos e vivemos um Brasil que merece ser compartilhado com leitoras e leitores de CLAUDIA. É o que pretendo fazer aqui. E, então, convido você, que chegou até esta linha, a acompanhar essas viagens, esses causos – e dilemas, e pensatas – que trarei comigo. Prometo manter o olhar mais sensível às escolas, professores e alunos do Brasil. Afinal, “educação” é o tema do Prêmio este ano. A partir de julho, você pode conferir também nas páginas da revista e no site de CLAUDIA os perfis das finalistas das duas primeiras categorias: Trabalho Social e Ciências. Ah! E é possível participar também votando nas suas escolhidas. Se der vontade, pode até fazer campanha boca a boca – é aquela oportunidade para começar um papo de elevador assim: “Nossa, você já viu quanta história bacana tem naquele tal de Prêmio CLAUDIA?” 😉