Sub-representatividade na saúde: olhar para as mulheres é imperativo
Michelle França Fabiani, líder médica na Roche Farma Brasil, fala sobre desigualdade em tratamentos, diagnósticos e acesso à saúde para as mulheres
![Saúde da mulher](https://beta-develop.claudia.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/09/istockphoto-845603242-612x612-1.jpg?quality=85&strip=info&w=612&h=408&crop=1)
Ao longo da história, a ciência privilegiou o sexo masculino como padrão de análise na saúde. Até meados do século 20, considerou-se que, se os medicamentos funcionassem nos homens, consequentemente seriam igualmente eficazes para as mulheres.
Análises publicadas em junho de 2021 na revista científica JAMA Network Open ressaltam que o sexo feminino está sub-representado em ensaios clínicos de cardiologia, oncologia, neurologia, imunologia e hematologia. Mesmo com evoluções significativas na ciência, ainda nos dias atuais observa-se uma profunda desigualdade em tratamentos, diagnósticos e acesso à saúde para este grupo.
Inevitavelmente, esse cenário se intensifica nos países menos desenvolvidos: 90% dos casos de câncer de colo de útero – doença 100% prevenível a partir de exames ginecológicos e tratamentos contra a HPV – acontecem em países de renda média e baixa, segundo a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde).
No Brasil, estima-se que mais de 70% dos casos de câncer de mama sejam diagnosticados em estágio avançado, comprometendo diretamente significativamente as chances de cura e controle da doença.
![Young African Amemulher negra prevenção câncer de mamarican woman palpating her breast by herself that she concern about breast cancer. Healthcare and breast cancer concept mulher negra prevenção câncer de mama](https://beta-develop.claudia.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/10/GettyImages-1328313991.jpg?quality=85&strip=info&w=1024&crop=1)
Jogar luz nesse tema e começar a impulsionar práticas para mudar o ponteiro não é apenas importante, mas urgente. Como médica, mulher e mãe de uma menina de 7 anos, reconheço que os problemas de saúde são complexos demais para que um agente possa resolvê-los sozinhos – sobretudo em questões estruturais, como as que sustentam as iniquidades de gênero no acesso à saúde – mas também acredito que, de forma colaborativa, podemos transformar essa realidade.
Vale citar como exemplo um projeto pioneiro e global muito interessante para inspirar outras empresas, chamado XProject – no qual o X representa o cromossomo feminino. Ele traz novas reflexões para debatermos soluções em busca de melhorias neste contexto de saúde da mulher em todo o mundo.
Trata-se de uma iniciativa da companhia farmacêutica que atuo, Roche, que também espera criar um futuro em que as mulheres tenham a mesma oportunidade de acesso à informação, diagnóstico e tratamentos adequados.
![Michelle França Fabiani – líder médica na Roche Farma Brasil Michelle França Fabiani, líder médica na Roche Farma Brasil](https://beta-develop.claudia.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/03/Michelle-Franca-Fabiani-lider-medica-na-Roche-Farma-Brasil.jpeg?quality=85&strip=info&w=1024&crop=1)
Acredito que ferramentas voltadas à digitalização da saúde nos permitirão garantir mais eficiência à gestão da saúde, reduzindo iniquidades, à medida que também contribuirão com o desenvolvimento de políticas públicas que viabilizem uma melhor jornada de cuidados universais para nós, mulheres.
Para isso, é inegável, que ainda enfrentaremos um árduo caminho no qual precisaremos de mulheres (e homens) comprometidos em fortalecer a legislação em prol da saúde da mulher, seja com a elaboração de novos pleitos, seja em fiscalizar e acompanhar que importantes conquistas sejam mantidas – como o acesso ágil e universal a tecnologias de ponta para o tratamento do câncer de mama e tantas outras doenças que impactam as mulheres.
É tempo de nos debruçarmos sobre as diferenças para compreender melhor a saúde das mulheres, considerando as suas características clínicas e necessidades específicas.
Juntos, teremos a capacidade de derrubar as barreiras sociais e culturais que há séculos impedem mulheres em todo o mundo a ter o básico e fundamental para a vida: a saúde plena.
*Michelle França Fabiani, é líder médica na Roche Farma Brasil