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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Quando Diane Keaton transformou “Flowers” em um manifesto de amor-próprio

A lendária atriz nos deixou aos 79 anos e será lembrada como a mulher que nunca precisou pertencer a ninguém para ser inteira

Por Ana Claudia Paixão
19 out 2025, 17h00
Quem foi Diane Keaton
Diane Keaton foi uma atriz e diretora estadunidense conhecida por produções de sucesso como O Poderoso Chefão, Manhattan e Alguém Tem Que Ceder. (Copyright 2018 PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED. / Melinda Sue Gordon / SquareOne Entertainment/Reprodução)
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Foi um susto ver que a poucos meses de terminar, 2025 levou mais uma lenda do cinema para as estrelas. No caso de Diane Keaton parece que o mundo, especialmente as mulheres, sentiram ainda mais. A atriz não tinha nenhum desafio de saúde tornado público e aos 79 anos seguia na ativa: gravando discos, escrevendo livros, estrelando filmes. Mas ela se foi.

Como ela é próxima de idade da minha própria mãe, Diane Keaton sempre foi um pouco a imagem ‘materna’ idealizada: uma mulher moderna, divertida, sensível, independente, paradoxalmente sexy e ousada ao mesmo tempo que coberta até o pescoço com lenços e golas rolês.

E chapéus, mas um cabelo branco assumido e de uma beleza ímpar. Aliás, “beleza” foi um atributo inegável de Diane Keaton e um dos que ela rejeitava mais, sua modéstia era um misto de baixa-auto-estima e sinceridade, ambas irresistíveis. 

Importância para o cenário cultural e feminino

Seria o caminho mais natural que para fã de cinema, fossem seus papéis nas telas que me fizessem congelar sua imagem lendária, mas foi algo bem mais recente e descompromissado que resume quem era e a importância de Diane Keaton no cenário cultural e feminino.

A cena já foi lendária em janeiro de 2023, quando a atriz postou no seu Instagram um vídeo dela dançando “Flowers”, de Miley Cyrus. Como acontece com cenas genuínas na Internet, o vídeose espalhou nas redes com ternura e espontaneidade, foi como se uma porta se abrisse — não só para o afeto que o público nutre por ela, mas para uma intimidade simbólica até então velada.

No vídeo, Diane se movimentava em seu quintal, acompanhada do cachorro, com aquele balanço desajeitado que era sua marca registrada. Na legenda, escreveu: “@mileycyrus YOUR INCREDIBLE SONG GAVE ME A REASON TO DANCE IN MY OWN BACKYARD!” (sua canção maravilhosa me deu uma desculpa para dançar no meu jardim).

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Diane Keaton em “As Rainhas da Torcida”. (Adorocinema | Copyright Universum Film/Reprodução)

A repercussão foi imediata. Fãs, jornalistas e a própria Miley reagiram com entusiasmo. O gesto simples da atriz virou um manifesto sobre liberdade e alegria. A dança não era ensaiada nem irônica — era genuína.

Dois anos antes de sua morte, Diane Keaton transformava o que poderia ser apenas um post em um retrato de vitalidade e autonomia. Em um mundo obcecado pela juventude e pelos padrões, ela escolheu dançar sozinha, do seu jeito. E a canção que inspirou o momento não poderia ser mais adequada.

I can love me better than you can” (“eu posso me amar melhor do que você pode”) ecoa como uma síntese da vida de Diane — um refrão que poderia estar na trilha sonora de toda sua trajetória. Desde o início da carreira, ela construiu uma imagem pública pautada pela autenticidade, pela recusa a ser moldada e pela coragem de habitar o próprio espaço sem pedir permissão.

Entre moda, cinema e independência

Diane Keaton faleceu em 2025
Diane Keaton em “Uma Manhã Gloriosa”, gravado em 2010. (Adorocinema | Copyright Paramount Pictures France/Reprodução)
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Diane Keaton sempre foi um ícone — de estilo, de humor e de integridade. Com seus ternos largos, gravatas, chapéus e cintos bem marcados, ela criou uma persona visual que dispensava rótulos e confundia fronteiras entre o masculino e o feminino. Seu figurino não era um disfarce: era uma extensão da sua filosofia de vida.

Em entrevistas, ao longo de décadas, Diane foi questionada inúmeras vezes sobre por que nunca se casou. E sempre respondeu com a mesma serenidade: “I think I never got married because I didn’t want to get married.” (“Acho que nunca me casei porque eu não queria me casar.”)

Em outra ocasião, completou: “I don’t think it would have been a good idea for me to have married, and I’m really glad I didn’t.” (“Não acho que teria sido uma boa ideia, e fico muito feliz por não ter feito isso.”)

Ela nunca justificou suas escolhas como falta de oportunidade ou azar amoroso. Ao contrário — falava de amor, mas também de independência. “I’m an oddball,” (“Sou uma estranha”), disse certa vez, rindo. Mas o que ela chama de excentricidade é, na verdade, coerência. Diane sempre soube que sua liberdade não poderia ser compartilhada a qualquer preço. 

Num mundo em que mulheres, sobretudo as de Hollywood, são cobradas a se justificar — pela idade, pelo corpo, pela vida pessoal —, Diane sempre respondeu sem hesitação.

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Disse recentemente: “I don’t date. It’s highly unlikely.” (“Não saio com ninguém. É altamente improvável.”) E, no entanto, nunca pareceu menos solitária. A mulher que conquistou o Oscar por Annie Hall aprendeu que há mais dignidade em se pertencer do que em ser escolhida.

“You Don’t Own Me”: o refrão de uma vida

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Imagem sem texto alternativo Diane Keaton e Harrison Ford em “Uma Manhã Gloriosa”. (Adorocinema | Copyright Paramount Pictures France/Reprodução)

Em O Clube das Desquitadas (The First Wives Club), Diane, Bette Midler e Goldie Hawn cantam “You Don’t Own Me”, hino feminista que afirma com humor e fúria: “Don’t tell me what to do, don’t tell me what to say” (“Não me diga o que fazer, não me diga o que dizer”).

A cena se tornou um dos momentos mais icônicos da carreira de Diane — porque nela, mais do que em qualquer diálogo, está a essência da mulher que ela sempre foi: alguém que reivindica o próprio corpo, a própria voz e o próprio destino.

Anos depois, sozinha em seu jardim, Diane repetiu o gesto — desta vez sem personagens, sem figurino, sem luz de set. A câmera foi o celular; o público, o mundo digital. Mas o recado foi o mesmo: ninguém a possuiu. “Flowers” e “You Don’t Own Me” dialogam à distância, como duas estrofes de uma mesma canção.

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Uma gravada nos anos 1990, a outra lançada por uma artista que, décadas depois, também escolheu se libertar. Miley canta sobre um amor que terminou e uma mulher que aprendeu a se bastar. Diane dança esse aprendizado como quem diz: eu já vivi isso — e sobrevivi sendo eu mesma.

Um epílogo luminoso

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Imagem sem texto alternativo Diane Keaton no filme À “Procura de Mr. Goodbar”, de 1977. (Copyright D.R./Reprodução)

Há uma doçura melancólica nesse vídeo. Diane Keaton parecia encerrar um ciclo: o da mulher que nunca aceitou se definir por ausências — marido, filhos biológicos, juventude — e sempre escolheu o que a fazia inteira.

Sua dança viral não foi performance, mas confissão. Um lembrete de que a liberdade não é um gesto grandioso, mas um movimento silencioso — às vezes, dançar no quintal enquanto o sol se põe. E é essa imagem que vai ficar pra sempre comigo.

Diane nunca precisou de plateia para ser fascinante. Mas, ao escolher uma música sobre amor-próprio e dançar sozinha, ela lembrou ao mundo o que sempre foi evidente: a vida dela sempre foi uma história de amor — com ela mesma.

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