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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Em filme, jornalista conta história dos heróis desconhecidos do 11 de setembro

Anne Nelson ressignificou, através da arte, a dor nacional do atentado ao World Trade Center

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 10 set 2021, 12h03 - Publicado em 10 set 2021, 11h43
Anne Nelson
 (Foto: Stephen Lovekin/FilmMagic/Getty Images)
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Há 20 anos, estava em Nova York, terminando meu mestrado e definindo uma nova etapa da minha vida, quando aconteceu o atentado de 11 de setembro. Tenho sorte, das milhares de vítimas, todos os meus amigos e conhecidos que estavam no World Trade Center ou perto, sobreviveram. A angústia ainda é real até hoje, não parece que se passaram duas décadas.

Leia também: 11 de setembro: Minha experiência trabalhando no World Trade Center

Das várias histórias marcantes do tempo que estive nos Estados Unidos, uma das que tenho orgulho é de ter sido recebida pela professora e jornalista Anne Nelson, uma mulher brilhante que tenho privilégio de contar como mentora e amiga ainda hoje. Os alunos frequentavam sua casa e ela nos instigava sempre em não apenas sermos bons repórteres, mas boas pessoas.

Um dos livros de Anne, Assassinato Sob Duas Bandeiras, já tinha sido adaptado para o cinema pelo diretor brasileiro Bruno Barreto, e falamos muito sobre roteiros, livros e nossas vivências. Por isso, quando Anne se lançou no teatro, logo após o 11 de setembro, com a peça Os Heróis, sabia que teria uma história sensível para partilhar com todos.

O filme de mesmo nome já fez parte do acervo do Telecine, mas não é fácil de se achar agora. Ele conta o momento em que, logo após os atentados, Anne ajudou a um capitão do Corpo de Bombeiros de Nova York a preparar os discursos de despedida para os homens de sua equipe que morreram no atentado salvando outras vítimas.

Conversar com Anne é sempre um grande prazer, e relembrar nessa data sobre como a peça, estrelada originalmente por Sigourney e Bill Murray, já foi montada em mais de 15 países, era uma chance única. Em meio aos trabalhos pela liberdade de imprensa, Direitos Humanos e liberdade de expressão, Anne conseguiu parar uns minutos para dividir com as leitoras de CLAUDIA um pouco sobre essa data e como foi recontar as histórias tão dolorosas de heróis desconhecidos.

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Anne Nelson - 11 de setembro
(Foto: Anne Nelson/Arquivo pessoal)

Tenho certeza de que, mesmo 20 anos depois, você ainda lembra o que estava fazendo e como soube do atentado. Poderia compartilhar como olha para traz e lembra daquele dia?

Como mostramos na peça, estava me arrumando para ir para a Escola de Jornalismo [da Universidade de Columbia, onde era minha professora]. Meu pai de fato me ligou de Oklahoma, avisando para ligar a televisão. Me lembro de olhar para a minha agenda e pensar que tudo que tinha planejado agora era obsoleto.

E como surgiu o projeto de ajudar a escrever os discursos de despedida?

Em uma visita à minha irmã. Na verdade, o pedido veio por um telefonema para o marido dela, que é redator da New Yorker, mas ele estava com um fechamento apertado e não iria conseguir fazer, então me ofereci. Quando o capitão chegou, meu cunhado nos ajudou, mas continuei a escrever os discursos em outras sessões. Visitei o posto onde trabalhavam, fiquei amiga do capitão, que é uma pessoa extraordinariamente bondosa e inteligente.

E a ideia da peça, como surgiu?

Meu marido estava trabalhando em uma organização de Direitos Humanos e Sigourney Weaver fazia parte do conselho. Um mês depois do atentado, a organização fez um jantar beneficente em um local que tinha servido de necrotério improvisado apenas algumas semanas antes. Por acaso, me sentei ao lado do marido de Sigourney Weaver, [Jim Simpson] e ele me contou como seu teatro, que ficava perto do Ground Zero, estava falido por causa do atentado. Desse papo surgiu a ideia de fazermos a peça.

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E foi um grande sucesso mesmo antes de virar um filme. Como as pessoas reagiram à história?

A maior parte foi muito calorosa. Para os nova iorquinos, foi uma maneira de compartilharmos nosso luto depois do atentado. Pessoas de fora de Nova York me relataram que a peça os ajudou a entender a emoção da perda, muito além do que se via nas coberturas jornalísticas. Proporcionou às pessoas uma visão realista daqueles homens como indivíduos.

Dessa vez você foi a roteirista para o filme, como foi adaptar sua obra para as telas?

A princípio me ofereceram um filme de orçamento médio, mas robusto, porém eu pedi para ter direito de aprovação do roteiro. Eu tinha receio que o filme comercializasse a história de uma forma que pudesse magoar as famílias, que já tinham perdido muito. Por essa razão acabei aceitando fazer um filme com baixo orçamento, mas que me dava o direito de aprovação de roteiro. Poucas mudanças foram feitas.

Esta não foi sua primeira experiência de se ver interpretada no cinema, afinal, você trabalhou com o diretor Bruno Barreto. Como é “se ver” em outras atrizes?

Na verdade, Assassinato sob Duas Bandeiras foi escrito por roteiristas que criaram uma composição de mim e duas outras jornalistas para a personagem vivida por Amy Irving (que acabou se casando com Bruno depois de fazer esse filme!). Eu adorei o Barreto, a Irving e todo elenco, mas, o roteiro foi problemático. E eu não estava em uma posição de poder me envolver porque estava grávida (bem avançada) do meu primeiro filho e estava trabalhando em tempo integral como Diretora do Comitê de Proteção a Jornalistas.
Já em “Os Heróis”, quando vejo Joan [a personagem de Sigourney Weaver] não penso em mim. Uma das histórias divertidas é que, quando meus alunos da Columbia foram ver a peça disseram que Sigourney Weaver captou meus maneirismos com perfeição. (risos) [Sim, como ex-aluna de Anne, me junto ao coro]. “Mas eu não tenho maneirismos”, dizia. O que percebi depois é que em todas as reuniões ela estava me observando cuidadosamente. Só que, quando mais tarde me disseram que Susan Sarandon [que montou a peça depois] “captou meus maneirismos com perfeição também” – e eu e ela nunca nos vimos com frequência – cheguei à conclusão que eu mesma escrevi meus maneirismos no roteiro. (risos) Afinal, eu hoje reflito que desenvolvi um estilo para dar aula e manter o interesse em uma turma de alunos internacionais cansados às 9 da manhã de sexta-feira usando gestos animados, muitos gestos, mas apenas para deixá-los acordados! [rindo pensando nas aulas que tivemos]

E quais são os projetos que em que está trabalhando agora?

Sigo no jornalismo político e na nossa crise nacional. Estou com dois livros na prateleira que quero escrever, um sobre a indústria do açúcar no século 19 e outro sobre um musical, mas ainda não sei quando vou começar. E, em algum momento, vou adorar me isolar e escrever outra peça!

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O mundo ainda está muito sentido e triste sobre o atentado de 11 de setembro. Será que vamos um dia nos “curar”?

Me parece que a humanidade vive crises cíclicas. Parte da dor do 11 de setembro é provocada pelas más políticas que levaram às longas, destrutivas guerras. Agora é essa crise da Covid-19 e a preocupação crescente com as mudanças climáticas. Porém, quando era pequena, eu era assombrada pelas histórias da minha família na Segunda Guerra Mundial, e do meu pânico de um conflito nuclear. Nós devemos continuar buscando a confiança na humanidade de todos nós, e fazer o que pudermos para ajudar, com as habilidades e meios que tivermos.

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