Minha paixão por bastidores e figuras históricas anda no auge com tanto conteúdo inspirado em pessoas reais, e volta e meia estou falando sobre o tema aqui. Sou, como George R. R. Martin, uma fã de história popular, por isso quando é possível faço as referências que contextualizam melhor filmes e séries. Seja em House of the Dragon ou The Gilded Age, para citar apenas duas, é incrível quando a gente confirma que a ficção é menos criativa que a realidade. Com a volta de Vikings: Valhalla à plataforma da Netflix, tenho a oportunidade de ressaltar uma das personagens mais interessantes da trama: a Rainha Emma, da Normandia.
Sua trajetória na História do Reino Unido é ímpar e, diferentemente das mulheres vikings da série atual, ela existiu mesmo. Interpretada pela atriz Laura Berlin, tivemos apenas alguns relances da astúcia política da soberana, mas devemos nos preparar para muito mais. Emma, sem surpresa, é considerada uma das mais importantes rainhas medievais da História, tendo sobrevivido a dois casamentos, mas testemunhado as mortes sangrentas de seus herdeiros e passado por humilhação e torturas públicas para provar sua inocência.
Vimos na primeira temporada de Vikings:Valhalla que um dos erros do primeiro marido de Emma, o Rei Aethelred II, foi o de ordenar um massacre viking, onde entre os mortos estava justamente a irmã do temido Cnut. Emma ficou duplamente vulnerável porque, uma vez viúva, viu seu enteado, Edmund, assumir a Coroa. Arrogante como o pai, ele perdeu a batalha contra os vikings que buscavam vingança e foi forçado a aceitar a dividir poder. Para garantir as vidas de seus filhos, Emma se casou com Cnut, uma boa estratégia, porque Edmund morreu repentinamente e assim ela voltou a ser Rainha. E vejam como Emma era moderna: ela negociou que se tivesse filhos com o segundo marido, eles teriam precedência na sucessão, tentando evitar novas surpresas no caminho. Pelo menos ela tentou.
Efetivamente, sua união com Cnut sugere ter sido genuína em afeto e parceria. Por 18 anos, foram felizes, porém, com a morte dele, a sucessão tomou uma curva sangrenta. Os filhos do Rei viking lutaram entre si pela Coroa, levando a Emma testemunhar a morte sangrenta de um de seus filhos (com os olhos arrancados) e o ressentimento de outro que a baniu da corte assim que virou Rei.
A dor de Emma – literalmente – não parou aí. Seu filho Edward foi convencido de que ela era amante do Bispo de Winchester e como teste de sua inocência, foi obrigada a publicamente se submeter ao “julgamento por fogo”, que a forçava a andar descalça em cima de nove pontos de ferro derretido. De alguma forma, ela aceitou e não se feriu, provando sua causa e sendo perdoada pelo filho, que a readmitiu na Corte.
Ela passou seus últimos anos em reclusão, vivendo em Winchester, onde até hoje estão seus restos mortais. Eles foram localizados na Catedral de Winchester em 2019, depois de passarem milênios misturados com relíquias e outros corpos em um mortuário comum. Os ingleses ainda idolatram Emma da Normandia, porque foi seu herdeiro direto, William, o Conquistador, que unificou a Inglaterra. Ele deve aparecer em Vikings: Valhalla, mas bem à frente. Honestamente, estou ansiosa para ver mais sobre uma Rainha poderosa e esperta. E vocês?