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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Um papo com Tatiana Issa, que revisa a trajetória do Balão Mágico

Com “A Superfantástica História do Balão”, a premiada diretora se aprofunda em um dos grupos mais influentes dos anos 1980s em um papo exclusivo com CLAUDIA

Por Ana Claudia Paixão
18 ago 2023, 13h46
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  • Aposto que, quando em uma festa, você já viu adultos perderem a linha quando tocam Superfantástico. As pessoas se emocionam quando cantam “Sou feliz, por isso estou aqui”. Sim, entrega a idade, mas na época em que cresceram havia uma programação infantil que moldou muitas gerações: o programa do Balão Mágico. Quatro décadas depois, a história por trás da banda e do sucesso estão no documentário da Star+, Superfantástica História do Balão, disponibilizada no final de julho de 2023 na plataforma digital.

    Dirigido pela premiada diretora Tatiana Issa, novas gerações também descobrem não apenas que a turma do Balão foi um dos maiores grupos musicais brasileiros dos anos 1980, mas que as vidas de Simony, Tob, Mike e Jairzinho influenciaram muitas estrelas de hoje. Ter Tatiana e seu sócio, Guto Barra, assinando o documentário é um selo importante de qualidade. Há anos colecionam prêmios internacionais, incluindo três Emmys, e trabalham no mercado nacional e internacional. Tatiana e Guto fazem parte da geração que testemunhou o auge do sucesso do grupo e trazem um olhar sensível à história. Ela sentou e conversou comigo vai Zoom, de Nova York, onde mora há mais de 20 anos, analisando o processo criativo e delicado de produzir documentários.

    Tati
    A diretora Tatiana Issa. (Acervo/Acervo pessoal)

    CLAUDIA: Com tantos anos e prêmios como diretora e morando há tantos anos em Nova York, como foi sua transição de atriz para esse papel?
    TATIANA: Eu nem coloco mais que sou atriz! (risos) As pessoas que às vezes ainda colocam atriz, mas eu nem coloco porque já são tantos anos, né? É uma outra vida, uns 20 e tantos anos… Só me vejo como diretora e produtora, sem mais trabalhar como atriz porque foi uma coisa que eu fui menina, adolescente. Minha profissão mesmo é diretora, produtora, produtora executiva, showrunner e tal.

    CLAUDIA: E mais de 20 anos vivendo em Nova York…
    TATIANA: Sim, vim para Nova York e comecei [essa nova etapa] aqui. Aqui fiz o rascunho e produzi o filme sobre os Dzi Croquettes, o filme que acabou sendo um divisor de águas e muito marcante na minha história, na minha trajetória. A partir desse filme – que foi meu primeiro longa – ganhei 40 prêmios, de melhor diretora, de melhor filme. Acabou se tornando um dos documentários mais premiados do Brasil. Virou um ícone mesmo e acabou abrindo tantas portas para tantas coisas.

    CLAUDIA: Sim, um acervo bem variado!
    TATIANA: As séries da Ingrid Guimarães, são quase 11 anos que a gente [Tatiana e sócio dela, Guto Barra] trabalha com a Ingrid fazendo todas as séries dela. Trabalhamos com entretenimento, documentários, reality shows… Já são quase 40 títulos, 7 deles que a gente criou, dirigiu e produziu. Guto é meu grande parceiro, meu sócio na produtora.

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    CLAUDIA: E a base de vocês é mesmo em Nova York?
    TATIANA: Sim, mas tem um braço no Brasil. Temos um grande catálogo que a gente têm muito orgulho, porque a gente vai diversificando além de termos o histórico de produzir muitas temporadas. Somente com a Ingrid criamos quatro séries diferentes e uma delas durou 8 anos. Assim como tem as séries documentais e a parceria longeva com a Discovery e com a Max, que incluiu Pacto Brutal, sobre a Daniela Perez, que foi uma série muito importante para a gente.

    CLAUDIA: Sim o documentário sobre a Daniela foi um dos mais interessantes dos últimos anos.
    TATIANA: Acabou ficando em primeiro lugar no mundo, a série mais vista no Max. Teve um alcance raro e muito grande, inclusive nos Estados Unidos e no mundo. Foi uma coisa muito potente, o sucesso, a visibilidade e a repercussão de crítica. Foi uma série que muito difícil. [Faz uma pausa] Hoje é aniversário da Daniela [a entrevista foi no dia 11 de agosto], nossa [nova pausa]. A gente acabou ficando muito próximo da Glória [Perez] e da família. É uma é uma série que a gente tem um carinho gigantesco.

    CLAUDIA: Ao longo desses anos, você já foi indicada a 10 Emmys e ganhou três. Como é esse reconhecimento?
    TATIANA: É bacana porque estamos concorrendo com outro projeto que trata das questões raciais. Temos muitas séries que são voltadas pro universo LGBT[QIAPN+], além do universo das questões raciais, das questões das minorias, das questões de preconceito, de homofobia. Trabalhamos compondo equipes diversas. Ficamos felizes e orgulhosos.

    CLAUDIA: E como surgiu o projeto do documentário sobre o Balão Mágico?
    TATIANA: A gente gosta muito de percorrer o universo dos anos 1980 e a ideia surgiu de estar observando essa época. Por exemplo, fizemos a série muito bonita, que eu também me orgulho muito, que chama Viver do Riso, no Viva e também na TV Globo, que é sobre a história do humor nacional e onde a gente entrevistou todos os grandes nomes, desde a velha guarda – Agildo Ribeiro, Renato Aragão, Dedé Santana – – os do meio, tipo Miguel Falabella, Marisa Orth até os da nova geração como Porchat, Adnet, etc. Então, desses papos de você junta uma Fernanda Torres com Adnet, vai falando sobre histórias de quem os influenciou, como foi a infância dessas pessoas e o Balão Mágico sempre acabava vindo.

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    CLAUDIA: Fala muito com a nossa geração, que cresceu nos anos 1980.
    TATIANA: Sim, e o Balão acabava sempre surgindo nas conversas. Mesmo Lázaro [Ramos], que a gente entrevistou para algumas séries e que está no documentário sobre o Balão, falava da importância do Jair [na época conhecido como Jairzinho] estar no elenco, do fato de ter um menino negro na televisão de uma maneira tão forte, em um lugar de igualdade com seus companheiros. Entender a importância que o Balão teve historicamente com isso. O primeiro grupo infantil de sucesso no Brasil, no patamar de estrelas, de astros. Lotavam estádios! Eram quase como Beatles, no sentido do alcance na indústria musical e na televisão. Eles não eram só um grupo de musical, não eram só um programa de TV – eram as 2 coisas.

    CLAUDIA: Eram uma fase pré-Xuxa e eram mega.
    TATIANA: Ainda também na propaganda, nos produtos. Atingiu aqueles que viveram nos anos 1980. O Fofão, uma figura tão icônica! A gente percebeu que era uma história muito boa e que tínhamos que contá-la e levamos para a Disney, que prontamente recebeu o projeto e se uniu. Fiquei muito feliz com a repercussão.

    CLAUDIA: E como foi o processo de criação?
    TATIANA: Teve desde a estresse até pessoas muito emocionadas. Eu achei que quem é da geração do Balão, quem tem hoje 40 e tantos, obviamente iria ter ali uma nostalgia, um carinho pela série por levar a gente para a nossa infância.

    CLAUDIA: E a repercussão?
    TATIANA: Para minha surpresa, o documentário atingiu também muito fortemente um público de 20 e poucos anos, que não conhecia o Balão Mágico. Vários vídeos de análise no Youtube, comentários e tal. Foi muito bacana ver as pessoas se envolvendo com a história, ver o quanto ficaram chocados com algumas coisas, mas ainda mais o quanto ficaram apaixonados pelos quatro. Descobriram uma história que não conheciam.

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    CLAUDIA: Acompanhando sua trajetória, queria elogiar sua sensibilidade e respeito que sempre tem nos seus documentários, como o Pacto Brutal e agora do Balão Mágico. Sempre um lado do documentário que precisa tocar no ponto incômodo e cabe ao editor, à diretora, fazer o papel de chegar lá. Queria que você explicasse um pouquinho como é seu processo.
    TATIANA: Claro. É muito importante entender que documentários não podem virar um vídeo de autoelogio e é uma linha muito tênue. O documentário precisa contar uma história e podem ter pontos de vista diferentes. Você pode fazer 2 documentários sobre uma mesma história e com diretores diferentes levar pontos de vistas diversos.

    Sempre digo: ‘se a pessoa não está feliz com um ponto de vista fácil, veja ou faça outro’. Todo mundo pode fazer. Porém, a história precisa estar ali e o que a gente não pode é omitir partes da história, porque aí não se torna mais um documentário, vira um vídeo de promoção. O que me interessa não é uma história perfeita, mas as histórias humanas de como as pessoas conseguem dar a volta por cima, porque isso é que é inspirador. Mas, voltando às questões práticas, o primeiro ponto que a gente leva muito a sério é a pesquisa. Você precisa ter uma equipe e uma pesquisa embasada e você tem que saber muito bem do que você está falando. Eu, particularmente, nunca vou para gravação com o papel na mão, ou pergunta pronta. Eu estudo, estudo, estudo e tenho as informações em mim, porque acho que você sai de um lugar jornalístico para você entrar num lugar humano.

    CLAUDIA: Sim, ouvir realmente o entrevistado.
    TATIANA: Quando eu entro em campo, entro sabendo o máximo que posso sobre o assunto para estar esperta e saber que, se o entrevistado fala de uma coisa, preciso saber de outra. A Daniela, por exemplo, foi muito complexo, porque tinham delegados, promotores, leis, e precisava contestar ou perguntar, entendendo do que falava. No caso do Balão também, precisava saber de toda a história, ouvi-los e conduzir a conversa para entrar num lugar humano ali. E é muito difícil, porque obviamente a gente tem que entrar em assuntos que são delicados. Ali estavam os 40 anos de história. 40 anos! Acontece muita coisa na vida de muita gente em 40 anos, não é linear, tem altos e baixos, sucessos, fracassos, recomeços, casamento, separações, dores, filhos… São 40 anos na vidinha de cada um desses 4 personagens. É preciso sempre tocar em assuntos pessoais, tocar em assuntos difíceis, como documentarista não posso evitar, mas posso tentar fazer isso de uma maneira cuidadosa. Preciso que o público entenda a história e a acompanhe, sem esconder nada, e não preciso ser sensacionalista.

    CLAUDIA: E como avalia a ‘onda’ de documentários em tantas plataformas?
    TATIANA: Acho que muitos documentários no Brasil e no mundo estão indo muito na exploração sensacionalista do tópico. Como se isso fosse levar para algum lugar da emoção, mas eu acho que é o contrário. Quanto mais sensacionalista você é, até porque já foram feitas tantas coisas assim, mais quem está em casa se distancia. Ok, no primeiro momento podem falar, “caramba, olha, que loucura”, porque é uma reação, é o ser humano, mas a conexão vem pela delicadeza, quando o espectador se emociona junto com você, vai pensar “podia ser eu, caramba” e é quando você ganha essa empatia do público que ele vai acompanhar a sua história até o fim.

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    CLAUDIA: E mesmo com preparo, há surpresas? Houve alguma no caso do Balão Mágico?
    TATIANA: Nesse caso em especial não, porque era uma história muito clara desde o início, mas as pessoas têm se surpreendido com a loucura que aquelas crianças viveram, com tantas horas sem dormir, jogadas em estádios sem o menor cuidado. Poderia ser visto até como uma certa crueldade, mas é importante frisar que eles viviam a realidade daquela época, a realidade daquele momento. Eles foram mal tratados? Com o olhar que a gente tem hoje é óbvio que sim, mas estamos olhando hoje com tudo o que a gente aprendeu ao longo desses 40 anos. A gente tem um entendimento completamente diferente da sociedade. Na época, era o que se sabia, era o que se entendia, era como se fazia, era como se fazia televisão, não tinha uma carga horária definida, não tinha nenhuma defesa da criança.

    CLAUDIA: Sim, a proteção ao menor hoje faz ser um grande desafio para emissoras manterem programas infantis, eBalão Mágico foi pioneiro…
    TATIANA: Sim. A gente entende a sequela que deixou, mas na época se fazia todos os programas assim, incluindo os atores adultos gravando externa até 3 da manhã, sem hora extra, até porque não tinha carga horária. Se aprendeu muito, que bom, evoluiu muito e ainda tem que evoluir mais. E curioso que é isso [as condições de trabalho] que choca um pouco as pessoas quando elas assistem ao doc.

    CLAUDIA: E atores mirins mesmo em Hollywood viveram algo parecido, não é?
    TATIANA: Todos eles, nos Estados Unidos, na Europa, no Brasil, na América Latina e no mundo. Essas crianças carregam ainda um pouquinho a marca de terem vivido circunstâncias complexas, de conviver com grupos de adultos expostos à drogas, loucuras. Mas sabe, outra coisa que chama atenção das pessoas é a qualidade musical que o Balão Mágico tinha, é algo que as pessoas talvez não se dessem conta. Tinham os melhores compositores, grandes músicos, arranjadores. Cantavam com Roberto Carlos, com Erasmo, com Baby, Pepeu, Fábio Júnior, Djavan. Tanta gente de peso, músicos de peso. A qualidade musical do Balão Mágico poderia ser comparada a qualquer grupo adulto. As vozes deles eram perfeitas.

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