‘Pistol’ revisa o movimento Punk que mudou o rock britânico
Com direção de Danny Boyle, as mulheres têm destaque na narrativa
Em meio às várias opções que chegaram em setembro, estou imersa no universo que amo: música, moda e irreverência. A série Pistol, que finalmente chega ao Brasil na Star Plus, era uma das que eu mais aguardava, desde que foi anunciada em 2020 e foi gravada – ainda durante a pandemia – em 2021. Dirigida por Danny Boyle, que disse em alguma entrevista que ele era a pessoa certa para recontar essa história fosse em filme ou série. Ela acontece em um período importante da cultura pop – na música, na moda e comportamento – e que sacudiu o mundo no final dos anos 1970s, em especial com a banda Sex Pistols. Musicalmente eles nem foram tão relevantes (vou apanhar), mas sua atitude incontrolável dentro e fora dos palcos é lendária. Merecia mesmo ser revista.
Para novas gerações é preciso contextualizar, e aqui está uma das armadilhas da narrativa de Pistol. Explica até demais. Como a caótica banda punk durou tão pouco, vou fazer a minha parte aqui também relembrando que a Inglaterra dos anos 1970 estava com muitos problemas políticos e sociais, desemprego e uma geração revoltada com a falta de perspectiva. Nesse cenário, os jovens punks, John Lydon – com apelido de Johnny Rotten (por causa dos dentes), Paul Cook e Steve Jones, além de Glen Matlock (que eventualmente deixou a banda e foi substituído por Sid Vicious), não eram músicos profissionais, mas queriam fazer música (ou barulho). Sob a orientação do empresário Malcolm McLaren, fizeram história. Rapidamente ganharam a reputação de caóticos e inovadores, chegando a fazer turnê pelos Estados Unidos, onde colecionaram mais brigas e escândalos. Não foi surpresa que acabaram brigando entre si e acabando a banda. Esses dois anos e meio serão o coração da série.
Inspirada nas memórias do guitarrista Steve Jones, compartilhadas no livro Lonely Boy: Tales From a Sex Pistol, a série tem seis partes e não é um documentário. Ao contrário, há coisas que não aconteceram, como o romance de Steve com Chrissie Hynde (que ainda ia fundar a banda The Pretenders), mas acerta ao dar destaque às mulheres do movimento punk, como a designer Vivienne Westwood, a famosa influencer Jordan (que faleceu esse ano, pouco antes da estreia), Siouxsie Sioux, além de, claro, da já citada Chrissie Hynde. Os fãs de Game of Thrones vão se deliciar com Maisie Williams na pele de Jordan. Está perfeita.
Criada por Craig Pearce (que também está envolvido na biopic Elvis, de Baz Lurhman) Pistol é relevante ainda hoje. O caos vivido e promovido pela banda influenciou profundamente a música britânica e artistas como Billy Idol (vocalista da banda Generation X), Siouxsie and the Banshees, The Dammed e outras. A série também revisa e reconta a trágica história de Sid Vicious e Nancy Spungen, com uma ótica diferente das que já vimos. Para quem era criança vendo tudo isso acontecer, me choca hoje entender que eles eram tão novos. Sid tinha apenas 21 anos quando morreu, acelerando o fim da banda. Naturalmente, a série tem uma excelente trilha sonora e faz uma grande reconstituição de época. Os atores são iguais aos personagens que retratam e para quem acha que falta o punk verdadeiro, que ficou apenas uma série de jovens barulhentos, devolvo a dúvida: será que o punk deles não estava apenas na maluquice mesmo? Vale conferir.