Há dois anos, quando Renée Zellwegger (de quem falei na semana passada) ganhou seu segundo Oscar com uma emocionante interpretação de Judy Garland, em “Judy”, relembrei um pouco aqui na coluna de CLAUDIA a trajetória da lenda que Hollywood eternizou em grandes clássicos, mas que igualmente descartou quando passou a ter problemas de anorexia e dependências alcóolicas e de remédios. Como mencionei, Judy foi lançado em 2019, em tempo de lembrar os 50 anos de morte da atriz. E hoje, 10 de junho de 2022, é o dia de seu centenário, portanto em um espaço de frequente nostalgia, volto a falar dessa diva que foi Judy Garland.
Quando foi encontrada morta no banheiro do seu apartamento em Londres, apenas 12 dias depois de seu aniversário, Judy Garland tinha apenas 47 anos. Aparentava ter muito mais, talvez porque tenha passado 45 anos se apresentando em público, sempre intensamente como cantava.
Nascida como Frances Ethel Gumm, fez parte de uma família de artistas vaudeville, que cantava, dançava e interpretava. Subiu aos palcos pela primeira vez antes dos 3 anos de vida, ao lado de suas irmãs mais velhas, formando o trio The Gumm Sisters. Biógrafos alegam que a puxada rotina teatral levou a pequena Frances a começar com os remédios para dormir e ter energia, que custariam sua vida depois, com apenas 10 anos. O problema só piorou quando, aos 13, assinou um contrato com a MGM pois o ritmo de gravações era ainda mais frenético. A essa altura, por conta da pronúncia do sobrenome, que às vezes era usado para um trocadilho de “depressivas” no inglês, as irmãs já tinham optado por “Garland” e Frances passou a usar “Judy” porque adorava a canção de mesmo nome de Hoagy Carmichael. Quando assinou seu contrato para entrar para o cinema o grupo familiar já tinha se desfeito e ela passou a ser simplesmente, Judy Garland.
Seu talento e alcance vocal eram inegáveis, além de um grande timing para comédia. Em apenas 2 anos já era uma estrela internacional. Porém a fama só acrescentou a pressão pela aparência e a invasão de privacidade. Sempre considerada a “talentosa”, mas nunca “a bonita”, Judy foi ganhando uma insegurança que se tronou crônica, afetando para sempre sua saúde mental e física. Essa parte é recontada em flashback no filme Judy. Muito pequena, com meros 1.51 de altura, para não parecer acima do peso, a estrela passava por regimes de fome, ajudado com remédios para perder o apetite. Quando estrelou O Mágico de Oz, tinha 17 anos, mas ainda era apresentada como criança. Conseguiu fazer a difícil transição de estrela infantil para adulta, estrelando musicais com Gene Kelly e Fred Astaire, por exemplo.
A vida sentimental de Judy Garland sempre foi igualmente conturbada. Se casou 5 vezes, sendo que o primeiro casamento só durou 3 anos e ela tinha menos de 25 na época. Quando se casou com o diretor Vicente Minelli, a atriz teve sua primeira filha, Liza, com quem viria a manter uma relação próxima e de amizade até o fim de sua vida. Acredita-se que sua tendência para depressão ficou ainda mais presente depois do parto de sua filha, com o casamento com Minelli acabando em divórcio poucos anos depois. Sem conseguir mais esconder seus problemas pessoais, que geravam atrasos homéricos e estavam óbvios em sua aparência, Judy foi demitida pela MGM, no início dos anos 1950. Tentou tirar sua própria vida quando recebeu a notícia.
Voltou aos palcos e a gravar discos, mas, em 1954, aceitou estrelar a refilmagem de Nasce Uma Estrela, que veio a ser um de seus maiores clássicos. Porém, nos bastidores, sua saúde atrasou as gravações e os críticos não amaram sua atuação, mas foi indicada ao Oscar e tinha o respeito da comunidade artística. Voltaria a ser indicada como coadjuvante em uma arrebatadora interpretação em O Julgamento de Nuremberg, em 1961, mas perdeu novamente.
Casada pela terceira vez com Sidney Luft, Judy teve mais dois filhos, Lorna e Joseph, se apresentando mais no teatro e na TV – para fazer dinheiro – do que no cinema. Foram 8 álbuns ao vivo e uma temporada com o The Judy Garland Show. Aos 39 anos, foi a primeira mulher a receber o Cecil B. De Mille Award pela carreira, mas os Grammys e outros prêmios já foram póstumos. O casamento com Sid não resistiu a instabilidade psicológica da estrela que aceitou uma longa temporada na Inglaterra para poder pagar suas pendências com a Receita Federal. Ela nunca mais voltaria para os Estados Unidos viva. As apresentações européias foram o coração do filme, Judy, que em 2020 rendeu o segundo Oscar à Renée Zellwegger, mas que foi rejeitado pelos filhos da artista.
Dentre uma longa lista de sucessos, a canção que menos gostava é justamente a sua mais famosa, Over the Rainbow. Uma linda prece de esperança e sonhos, que marcaram sua breve trajetória. Nem todos filmes estão disponíveis nas plataformas, mas é interessante revê-la nos dois principais, O Mágico de Oz e Nasce uma Estrela, disponíveis na HBO MAX e, claro, Judy, que está na StarPlus. Judy merece nossa lembrança, sempre.