Sem Gertrude Rainey, mais conhecida como Ma Rainey, o mundo teria demorado a descobrir o blues. Aliás, nem se chamaria assim, uma vez que foi a cantora que cunhou o termo pela primeira vez. Reza a lenda que ela inventou o nome quando perguntaram a ela que estilo era a sua música e como era sobre “tristeza”, disse que era “blues”. O termo pegou e o gênero ganhou identidade.
Ma Rainey foi uma das primeiras cantoras a gravar álbuns (foram mais de 100 registros) e por isso mesmo ficou conhecida como a mãe do blues. Não foi à toa que é considerada a principal inspiração para várias artistas, incluindo Bessie Smith, que ela descobriu.
Ma Rainey começou a cantar desde que era adolescente, no coro da igreja e descobriu o estilo que viria a batizar como blues ao lado do marido, Will Pa Rainey, com quem fez vários shows de vaudeville.
Conhecida por seu alcance vocal, mas em especial pelo jeito de cantar gemendo, Ma gravou Ma Rainey’s Black Bottom em 1927 e inspirou August Wilson a escrever a peça A Voz Suprema do Blues, em uma versão ficcionalizada da gravação. A peça, que estreou na Broadway em 1982, com a atriz Theresa Merritt no papel, foi revivida em 2012, com Whoopi Goldberg como Ma. A Voz Suprema do Blues foi finalmente filmado agora em 2021, por Denzel Washington e traz uma quase irreconhecível Viola Davis no papel da cantora. Viola está igual à cantora. É grande a chance de que também seja indicada ao Oscar pelo desempenho.
A vida de Ma Rainey foi parcialmente contada no filme de Queen Latifah sobre Bessie Smith. Mo’Nique a interpretou e foi indicada ao Emmy por sua atuação. A relação entre Bessie e Ma, aliás era conturbada. Ambas bissexuais em uma época de grande repressão, elas se ajudaram e competiram entre si. Ma morreu em 1939 depois de um infarto. Ela tinha 57 anos.
Vale conferir A Voz Suprema do Blues, disponível na Netflix. Além de uma Viola Davis estupenda, foi o último filme de Chadwick Boseman. Ele também foi indicado postumamente ao Golden Globes (com chance de ganhar). Preparem o kleenex.