Caso Lana Turner: lançamentos focam em assassinato que chocou Hollywood
Uma das maiores divas do cinema, a atriz foi protagonista de um crime e um escândalo que despertam discussões mesmo 65 anos depois
Nos anos 2000, Catherine Zeta-Jones e Sharon Stone se desentenderam porque queriam interpretar Lana Turner no cinema. Antonio Banderas e Keanu Reeves chegaram a ser anunciados no papel do namorado da atriz, Johnny Stompanato. Nenhum projeto, porém, saiu do papel.
O casal é tão icônico que no filme L.A. Confidential, de 1997, há uma das melhores cenas no qual aparecem rapidamente. Eu que sempre amei as histórias dos anos de ouro de Hollywood, entre os anos 30 e 50, conheço cada detalhe da trágica história dos dois, mas, para minha surpresa, 65 anos depois, o escândalo volta a ter destaque com um novo livro, gerando mais um filme prometido para 2024. Mas o que há de tão fascinante sobre Lana Turner e o namorado gangster? A mescla de glamour, sexo e assassinato, claro.
Há mais de 65 anos, na noite de 4 de abril de 1958, um crime chocou a polícia de Beverly Hills e ganhou as páginas de todos os jornais porque envolvia uma das maiores estrelas da história de Hollywood: Lana Turner. A atriz tinha mudado para a casa em North Bedford Drive poucas semanas antes e, no segundo andar da casa, estava o corpo de seu namorado, Johnny Stompanato. Ele foi esfaqueado e morreu quase instantaneamente. O assassinato já geraria fofocas, mas o chocante foi “quem” o matou: ninguém menos do que a filha de Lana, Cheryl Crane, uma menina com apenas 14 anos na época.
Lana, a sex symbol
Lana era conhecida como ‘sex symbol’ desde a adolescência, quando estreou no cinema ainda com 15 anos. Entre seus sucessos no final dos anos 1950s, estavam filmes onde interpretou a esposa assassina insatisfeita em O Destino Bate À Sua Porta e a reprimida dona de uma loja em Peyton Place, pelo qual foi indicada ao Oscar. Mas, para muitos, o maior papel de sua vida foi marcado por aquela trágica noite de abril.
A relação de Lana com Johnny Stompanato foi marcada por mentiras, chantagem e violência desde o começo. Ele era associado ao mafioso Mickey Cohen, de quem era ‘segurança’, e entrou na vida da atriz posando como fã e empresário. Segundo ela, a verdade só veio à tona “tarde demais”, quando já estava apaixonada. Amor bandido na veia! A partir daí, ela tentava se afastar, alegou em sua biografia, mas sempre o aceitava de volta. Em algum momento, ele passou a abusar dela fisicamente, algumas vezes na frente da filha dela, Cheryl. Porém algo foi definitivo naquela Páscoa de 1958.
Havia apenas três pessoas na casa e o público nunca acreditou que uma adolescente pudesse ter força para esfaquear um homem que era o dobro do seu tamanho. Portanto, imediatamente começou a circular a teoria de que Lana estava usando a filha menor de idade para escapar da Justiça. As versões de Lana e da filha eram mais simples, por isso tão trágicas.
A noite do término
Naquela noite de 4 de abril, a atriz juntou coragem para enfrentar Stompanato, que era hiper possessivo. Ele tinha rompantes de raiva, e ameaçou divulgar fotos íntimas dos dois (que Lana alega terem sido feitos com ela inconsciente) e até cortar o rosto dela com uma navalha. Essa ameaça, segundo sua biografia, foi a gota d’água.
Naquela noite, Lana esperava o pior e avisou a filha: “Vou terminar com ele, querida. Vai ser uma noite difícil. Você está preparada para isso?”. E o evento foi mesmo violento, com ele a xingando, sacudindo e a ameaçando novamente com cortes e surras. Mais ainda, Stompanato disse que a mataria, juntamente com Cheryl e avó dela, Mildred. A discussão estava acontecendo no quarto, mas a menina ouvia tudo do primeiro andar, apreensiva para saber como seria a conclusão do confronto. Em algum momento, ela pegou uma faca na cozinha e subiu para a porta do quarto da mãe.
Segundo o relato de Lana, aos poucos Stompanato se conformou que o caso estava acabado e estava juntando suas coisas para sair. Ela teria escutado a filha do lado de fora e pedido para ela ir para o seu quarto. A partir daí, tudo foi rápido. A atriz foi até a porta, com o namorado atrás ela. Cheryl entrou. “Eu realmente pensei que ela tivesse batido nele no estômago. Eles se juntaram e se separaram. Eu nunca vi uma lâmina,” ela testemunhou. Chocado, ele teria perguntado apenas “o que você fez”? antes de cair morto no chão.
Os fãs de teorias da conspiração usam os passos seguintes como prova de culpa de Lana: Cheryl ligou para o pai, Stephen Crane, e Lana, para um super advogado criminalista. Quando a polícia chegou, as duas já estavam ‘protegidas’. O julgamento parou a capital do cinema e teve até o depoimento do mafioso Mickey Cohen, que plantou a fofoca de que Cheryl matou Johnny Stompanato por outra razão: “A garota estava apaixonada por ele. Havia ciúme entre ela e a mãe. Ele era um cavalheiro. Isso é mais do que o resto de vocês, Hollywood, são,” declarou.
O julgamento
O júri de 12 membros ignorou a fofoca e chegou rapidamente a um veredito unânime de homicídio justificável. Mesmo assim, a partir daí, as vidas de Lana e Cheryl jamais superaram o crime. Livros como Um Estranho no Espelho, de Sidney Sheldon, aludindo ao incidente, insinuavam o que muitos ainda acreditam ser verdade: foi Lana quem esfaqueou Stompanato e Cheryl assumiu a culpa. Não adiantou o processo judicial nem as biografias da própria Lana ou Cheryl para encerrar a teoria. O que não ajudou também foi o fato de que Cheryl revelar que passara por abusos sexuais tanto pelo ex-marido da mãe, o ator Lex Baxter, mais conhecido como Tarzan na TV, tanto quanto por Stompanato. A atriz alegou nunca ter sabido dos abusos até a tragédia.
A imagem de Lana, após o assassinato, nunca mais recuperou total credibilidade. Ao lado de Joan Crawford e Bette Davis, ficou marcada pela onda de livros que as citavam como divas irascíveis, hedonistas e sem “sensibilidade moral”. Sem surpresa, Cheryl Crane teve duas tentativas de suicídio, se rebelou e teve problemas com drogas e bebidas. Homossexual, encontrou a paz com sua parceira, a ex-modelo Joyce LeRoy, hoje, Josh LeRoy.
Lana Turner faleceu em 1995, em decorrência de um câncer na garganta. De todos os filmes que participou, foi justamente o drama pessoal que ficou o fato mais marcante de sua trajetória em Hollywood. O livro de Cheryl, Detour, chegou a ser discutido como base um filme com atrizes como Madonna, Melissa Gilbert e Justine Bateman consideradas para interpretá-la com Kathleen Turner, Glenn Close, Dyan Cannon e Candice Bergen citadas para fazer Lana, mas nunca saiu do papel.
Nos anos 2000, a biopic Stompanato chegou a ter o nome de Keanu Reeves anunciado, mas também não chegou às telas. O consumo de true crimes recolocou a tragédia em evidência, porém. Em outubro de 2023, o roteirista Terence Winter, considerado mestre do gênero gangster e autor de Boardwalk Empire, se uniu à produtora Rachel Winter (Dallas Buyers Club) para adaptar o livro A Murder in Hollywood: A história não contada do crime mais chocante de Tinseltown para o cinema. O livro que será lançado em fevereiro de 2024, é assinado por Casey Sherman e retrata “o caso de amor mortal entre a lenda do cinema Lana Turner e seu namorado gangster, Johnny Stompanato”.
Ou seja, voltaremos a falar muito mais sobre o “parágrafo” do qual Cheryl se queixa há 65 anos. Sim, ela sabe que sempre que falam dela ou de sua mãe, há a menção do crime. Como evitar?