Para quem viveu a década se 1980 se lembra do impacto no mundo da moda e música quando o filme Flashdance – Em Ritmo de Embalo chegou aos cinemas. Nos Estados Unidos foi no dia 15 de abril de 1983. Isso mesmo, há 40 anos!
Flashdance é o primeiro grande sucesso de Adrian Lyne, que tomou emprestado a ótica atualizada de uma Cinderela moderna, a história de uma menina operária que sonha em ser bailarina. Mais do que um sucesso imediato, virou febre mundial, muito por conta da trilha sonora assinada por Giorgio Moroder. Ele e Irene Cara ganharam o Oscar de Melhor Canção Original naquele ano.
O projeto, que já estava em andamento há três anos antes de chegar às telas, surgiu de um argumento original da produtora Lynda Obst, mas foi descartado pelos diretores mais famosos da época, como Brian de Palma e David Cronenberg, abrindo caminho para o publicitário Adrian Lyne.
Adrian tinha feito um único longa (Foxes), que não foi sucesso, mas tinha uma assinatura visual indiscutível, vinda dos comerciais que ele produzia. Pelo bem e pelo mal, todos os filmes da década de 80 passaram a ter as sequências clipadas que nem sempre se encaixavam na narrativa, Flashdance definiu uma geração, em especial porque várias sequências estavam na MTV, ajudando na consolidação da marca.
Para o papel principal, Adrian considerou atrizes como Demi Moore e Leslie Wing antes de fechar com a iniciante Jennifer Beals, na época com apenas 19 anos. Depois do #MeToo, as histórias que cercam a escolha de Jennifer chegam a ser assustadoras, aparentemente o critério da seleção teria sido uma enquete masculina de “qual das três atrizes eles gostariam de levar para a cama” – o que reflete e muito o machismo de Hollywood. Como seu par romântico, também houve uma lista enorme de atores antes de fechar com Michael Nouri, nomes como Gene Simmons (da banda Kiss), Tom Hanks, Mel Gibson, Richard Gere, Robert DeNiro, Pierce Brosnan, John Travolta e um desconhecido, Kevin Costner, que quase foi escolhido.
Flashdance marcou também o início de parcerias lendárias como as de Don Simpson e Jerry Bruckheimer que depois assinaram os fenômenos Top Gun – Ases Indomáveis e a trilogia Um Tira da Pesada, para citar apenas dois sucessos. Igualmente, Joe Eszterhas (que assinou o roteiro) e Adrian Lynne voltariam a trabalhar juntos em outros sucessos dos anos 1980s, como Nove Semanas e Meia de Amor, Atração Fatal e Proposta Indecente. Ou seja, todos esses clássicos começaram de alguma forma nos bastidores de Flashdance.
A história gira em torno de sonhos difíceis de alcançar para jovens longe das grandes capitais do entretenimento, como Pittsburgh, onde Alexandra “Alex” Owens (Jennifer Beals) trabalha como uma soldadora em uma siderúrgica durante o dia e dança em uma boate à noite, sonhando em se tornar uma dançarina profissional, mesmo sem treinamento formal. Sua amiga, Jeanie (Sunny Johnson), trabalha como garçonete e está treinando para ser patinadora artística, e Richie (Kyle T. Heffner) paga as contas como cozinheiro, mas espera se tornar um comediante de stand-up. Alex chama a atenção de Nick Hurley (Michael Nouri), dono da siderúrgica onde ela trabalha e por quem se apaixona (hoje a história seria impossível pelo assédio sexual em ambiente de trabalho).
Há uma questão complexa da narrativa de Flashdance para os dias de hoje, com muitas situações que refletem o machismo e fetichismo aceitos há 40 anos, mas ainda assim é uma delícia de assistir. Jennifer Beals não sabia dançar e precisou ter uma dublê de corpo (a francesa Marine Jahan), que mais tarde processou os produtores para poder receber crédito. E gente, é muito fácil identificá-la dançando, é quase tosco porque dá claramente para perceber que Jennifer não dança. O que ninguém nega é o brilhantismo da trilha sonora, um apanhado de grandes sucessos dos anos 1980s que vendeu mais de 700 mil cópias em apenas duas semanas, ganhando o Grammy de 1984 na sua categoria.
Com muitas imagens icônicas e imitadas desde então, Flashdance – Em Ritmo de Embalo é o típico filme “Sessão da Tarde”, uma oportunidade de nostalgia que adoro aqui na minha coluna de CLAUDIA.