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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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“Em Desejos S.A.”, Carol Castro lida com grooming e um universo apavorante

Atriz, que protagoniza um dos episódios mais impactantes para o universo feminino, fala com exclusividade sobre o papel, desejos e projetos

Por Ana Claudia Paixão
5 abr 2024, 16h00
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  • Na série Desejos S.A., disponível na plataforma da Star+ desde o final de março, estranhos têm a possibilidade de realizar desejos – do mais banal ao mais perigoso – por menos de 10 reais, mas, o preço, claro, vem com algumas surpresas na cola. Um suspense definido como comédia, o título traz um elenco eclético, além de uma narrativa costurada e interessante em um bom conteúdo brasileiro. Um grande acerto, com Carol Castro em um dos destaques da temporada.

    Não vou entrar em detalhes porque é essencial saber o menos possível para curtir ainda mais as reviravoltas da série, mas conversei com a atriz, que vive um episódio que muitas mulheres poderiam dizer ser do cotidiano.

    Desconfiada do tempo que o marido passa online e no telefone, ela deseja descobrir sua senha para entrar clandestinamente no circuito e descobrir com quem ele anda falando tanto e por quê. Sabe o “quem procura acha?”, pois é, mas é muito pior do que poderíamos antecipar.

    No papo exclusivo com CLAUDIA, Carol estava ultra empolgada com a série, que despertou nela uma preocupação e a descoberta com um universo perigoso da Internet e de um dos maiores perigos de predadores online. Você já ouviu falar em “grooming”? Infelizmente o papo traz alguns SPOILERS, mas todos contextualizados.

    CLAUDIA: Como foi a sua reação quando você leu esse roteiro de Desejos S.A. pela primeira vez?

    CAROL CASTRO: Eu fiquei maravilhada. É muito gostoso quando dá esse gatilho bom de desafio. Eu gosto. O tema da minha personagem é interessante, tão delicado, necessário e pouco conhecido. E gostei também de todo o desfecho. É inteligente e intrigante, é diferente, mas claro, sou suspeita!

    CLAUDIA: É muito comum nos conteúdos brasileiros ter destaque para dramas ou comédias, mas nem tanto para suspense e uma trama não linear tão bem amarrada…

    CAROL CASTRO: Mas sabe que na plataforma está como comédia? [risos] Tem pitadas de comédia, sim, mas está muito mais pra drama e suspense, concordo plenamente com você. Por isso achei isso tão curioso. Talvez seja uma coisa cultural.

    CLAUDIA: E estreou super bem!

    CAROL CASTRO: Sim, está indo super bem lá fora. Aqui entrou no top dez das séries da plataforma e adorei porque acho que é ousada e intrigante. A série é dirigida pelo José Alvarenga Jr (com quem já tinha feito Maldivas e Cilada) e pela Mariana Youssef, que ressaltam todas as sutilezas do texto e da interpretação de todos.

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    CLAUDIA: O olhar feminino atrás das câmeras faz diferença?

    CAROL CASTRO: Sim, muito e, sabe, eu – como a diretora que você vê aqui – [risos] gosto de observar todo o processo, até quando eu não estou filmando. Quando ouvia “tá rolando o set da Mari no estacionamento” eu ia lá, pra falar com a Mari e também pra observar. Gosto de acompanhar nos bastidores.

    CLAUDIA: Vou falar um pouquinho mais abertamente com o spoiler, tentando evitar muitos detalhes. Mas confessa: você já olhou o celular de um parceiro ou quis olhar? Ou conhece amigas que já passaram por isso?

    CAROL CASTRO: Conheço. Mas olha, eu vou te falar, como boa pisciana que sou, não vou dizer que nunca tive curiosidade em alguns casos e tive aquela intuição de havia algo rolando, mas não fiz. Nem celular ou Instagram. Não acompanho nem que foto que a pessoa curtiu. Fico no meu universo, porque sou muito sensível.

    CLAUDIA: Mas na série sua personagem não aguenta, mesmo que, aparentemente, tenha uma ótima relação. Como é quando desperta a desconfiança?

    CAROL CASTRO: Acho que foi intuição feminina. Nós mulheres temos um poder que vem das nossas antepassadas também. Nossas ancestrais. E no caso de Desejos S. A. foi intuição, até porque estamos falando de uma mulher muito empoderada, que trabalha num universo muito masculino e que está num lugar de liderança. Mas você vê que ela não tem tudo porque deu um clique nela, que eu chamo de intuição, onde ela sentiu: ‘Espera aí. Tem alguma coisa errada. Está passando muito tempo no videogame, muito tempo no telefone. Será que está me traindo com outra mulher?’

    CLAUDIA: E a descoberta é de algo ainda mais sinistro…

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    CAROL CASTRO: Estamos falando de spoiler aqui! [risos]. Ela percebe que tem alguma coisa errada.

    CLAUDIA: Pois é, porque você consegue descobrir a senha, entra e descobre o pior – e faz o que com a informação?

    CAROL CASTRO: Só que no caso da Flávia [a personagem de Carol], ela preferia que não fosse ninguém ou apenas uma outra mulher. Se fosse isso, ela acabaria o casamento, porque é uma mulher prática. ‘Tchau, amor. Não está dando certo’, mas na verdade, ela se dá com uma história de pedofilia. E dentro do mundo, de um universo onde ele se passa por outra criança. É além do doentio, né? Eu não sei o que eu faria. Eu acho que talvez eu não conseguisse ficar mais nem um segundo do lado dele, que é o que acaba acontecendo. Ela quer sair correndo de carro e ele quer falar com ela. A Flavia nem responde. Ali provavelmente já ligou para a polícia, está pensando “espera que no horário você vai ver”. Arma aquele jantar de comemoração e temos aquele desfecho épico.

    CLAUDIA: Foi completamente inesperado…

    CAROL CASTRO: Na minha opinião, a Flávia é uma das que tem um livramento com essa história toda.

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    CLAUDIA: Você sabia que esse seria o tema? Já tinha ouvido falar em ‘grooming’? (Nota: A palavra “grooming” é o termo originário do inglês utilizado para definir o aliciamento de menores através da Internet, com o intuito de se buscar benefícios sexuais futuros).

    CAROL CASTRO: Pra mim foi muito importante, porque eu sou mãe de menina e me acendeu um alerta. Tive essa sensação também de ser uma missão contar essa história, até porque todo mundo precisa conhecer, alertar, ficar atenta. Porque esse universo de telefone, esse universo de ficar com telefone na mão, esse universo de ficar jogando videogame, saber até onde vai essas pessoas que estão falando com seus filhos – quem garante que é outra criança?

    CLAUDIA: A narrativa de Desejos S.A. me fez lembrar o filme de David Fincher, Vidas em Jogo (The Game), e Pacto Sinistro (Strangers on a Train), onde estranhos ajudam a realizar um desejo e questionam o que as pessoas fazem quando querem algo…

    CAROL CASTRO: Amo! Preciso ver de novo. Quem vê também acha que lembra Black Mirror, porque são muitas histórias que se cruzam, né? Acho interessante, porque mostra a nossa sociedade de uma maneira muito encurtada. Seis personagens, seis episódios, criando uma teia – e mostra que ninguém é totalmente mocinho. Ninguém é totalmente vilão. Todos têm os dois lados, íntimos e sombrios e com as suas fragilidades.

    CLAUDIA: Você tem algum desejo complexo de realizar? O que faria para realizá-lo?

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    CAROL CASTRO: Sabe o que é louco? Quando você é mãe, não é mais o seu desejo, mas tudo inclui sua filha. Por isso, meu desejo, que eu poderia realizar com a minha filha, seria ter uma casa na árvore. Banal. Mas a contrapartida para tentar construir a nossa casinha na árvore e não contar para ninguém! [risos]

    CLAUDIA: E os seus próximos projetos?

    CAROL CASTRO: Eu acabei de filmar O Jogo Cruzado em janeiro, uma outra série também da Star Plus, que provavelmente só estreia em 2025. Em maio, deve estrear nos cinemas o longa Férias Trocadas e também o filme que fala da Ditadura, Ainda somos os mesmos, inspirado em uma história real que se passa no consulado da Argentina no Chile. É uma história muito forte e é um filme do qual sou também produtora associada, que venceu como melhor filme no Festival Independente de Toronto, vem percorrendo um caminho bem bacana. E estou louca pra ver completo porque ainda não consegui assistir.

    E em junho serei homenageada no festival de cinema de Santos, mas não sei nem como falar sem ficar corada! [risos] Ainda bem que estarei junto com a Júlia Resende, diretora maravilhosa que eu conheço há 20 anos, porque fiz um filme com a Marisa Leão, a mãe dela, em 2004. Estou honradíssima.

    CLAUDIA: São muitos projetos bacanas! Como você consegue respirar?

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    CAROL CASTRO: Tentando me dividir. [risos] Sempre trazendo a minha filha, sempre, porque não consigo ficar longe. Mas sim, estou num momento ótimo de renovação, renascimento, recuperação, vivendo também o luto da perda do meu pai, que sempre foi a maior referência pra mim. Meu melhor amigo. Mas ficando cada dia mais forte. É um momento muito, muito único.

    CLAUDIA: Muito bom. Muito sucesso, muito sucesso! 

    CAROL CASTRO: Obrigada. Estou traçando meu caminho! Sempre atrás dos papéis que me desafiam, que abalam a minha estrutura, ou que sejam histórias para alertar sobre um tema.

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