Um ano depois de termos acompanhado a emocionante e indicada ao Oscar performance de Annete Bening como Diane Nyad no filmeNyad, chega aos cinemas uma história que é diretamente conectada: A Jovem Mulher e o Mar, a extraordinária história real de Trudy Ederle, a primeira mulher a nadar com sucesso no Canal da Mancha, ainda nos anos 1920. Conversei com Daisy Ridley, atriz e produtora que é a grande estrela da produção, para saber mais sobre história de coragem e resiliência.
Nyad, cuja carreira foi acompanhada detalhadamente pela mídia desde os anos 1970, hoje é reconhecida mais facilmente do que o de Trudy, afinal, ela era uma inspiração para Nyad e pioneira na natação feminina.
No filme dirigido por Joachim Rønning, o mundo vai conhecer a incrível história da nadadora filha de imigrantes nascida em 1905, em Nova Iorque, e como ela desafiou as normas sociais e superou numerosos desafios para se tornar a primeira mulher a atravessar o Canal da Mancha a nado.
Como sabemos, nadar é um processo solitário na água para cada braçada, mas há uma equipe de apoio essencial para que a meta seja alcançada. No caso de Trudy, ela contou com o suporte constante de sua irmã mais velha, que equilibrava a ajuda de treinadores exigentes que também foram cruciais para sua vitória.
A distância do Canal entre a França e a Inglaterra pode ser dito como de “apenas” 33 quilômetros, mas, à nado, são os longos 33 quilômetros.
A conquista de Trudy em um período mundial entre duas grandes guerras – em 1926 – torna toda a experiência ainda mais significativa. E a misoginia que ela venceu se reflete no fato de que até hoje, quase 100 anos depois, quase ninguém se lembra de seu nome.
Foi o livro do jornalista Glenn Stout que chamou a atenção de Hollywood. A jovem e o mar: como Trudy Ederle conquistou o Canal da Mancha e inspirou o mundo, foi publicado em 2009, e apenas sete anos chegou aos produtores de Piratas do Caribe.
O roteirista Jeff Nathanson buscava histórias fortalecedoras para compartilhar com suas duas filhas e descobriu o livro. Foi ele quem convenceu a Disney a comprar os direitos.
A história se passa na cidade de Nova Iorque, no auge da Era do Jazz, com duas mulheres fortes liderando a ação e com uma vitória significativa no mundo do esporte.
A determinação de Trudy, filha de um açougueiro alemão, superou uma doença infantil que a deixou parcialmente surda e a relutância de seu pai em deixá-la nadar para se tornar campeã mundial. Mais ainda: ser a primeira mulher a atravessar o Canal da Mancha à nado.
No meio tempo, Daisy Ridley, a estrela da nova fase da franquia Star Wars, entrou no cenário e logo se apaixonou pela oportunidade. A atriz só soube da existência de Trudy Ederle quando recebeu o roteiro, algo que no papo exclusivo com CLAUDIA ela disse ser razão de vergonha (veja abaixo!).
Assim como Trudy, Daisy precisou passar meses na água e encarar treinamentos duros para dar realismo ao papel, incluindo aprender a nadar em águas geladas e abertas, com todos os desafios do esporte. Ela contou com a orientação da campeã Olímpica de 2016, Sian Clifford, que a ajudou a entender melhor o que sua personagem enfrentou.
Trudy tentou duas vezes fazer a travessia e, na segunda tentativa, teve a ajuda essencial de Bill Burgess (Stephen Graham), justamente o segundo nadador a encarar o desafio, em 1911. A partir de seu êxito, ficou conhecida como a Rainha das Ondas, um “apelido” perfeito. Afinal, ao vencer o desafio, bateu nada menos do que 29 recordes americanos e mundiais de natação, incluindo o da Medalha de Ouro Olímpica de 1924, assim como o recorde masculino da travessia do Canal da Mancha. Ela cumpriu a distância em 14 horas e meia e manteve essa marca invencível por nada menos do que 35 anos.
Fora das águas, Trudy Ederle também foi uma lenda: acabou perdendo completamente sua audição e passou a vida ensinando crianças surdas a nadar. No rápido papo que Daisy teve comigo na noite do lançamento do filme nos Estados Unidos, ainda em maio, ela estava bem emocionada. Ninguém a culpa, né?
Entrevista com Daisy Ridley
CLAUDIA: Uma mulher que durante 35 anos deteve um recorde inacreditável e o mundo aparentemente não sabia muito de sua história. Como foi quando sua reação quando descobriu, e qual a relevância de contar esta história agora?
Daisy: Sinceramente, fiquei um pouco envergonhada por não saber. E acho que muitas pessoas com quem conversei sentem o mesmo. É inacreditável que as pessoas não saibam sobre ela e ultrapassem seu tempo por muitas horas. Então, quando li o roteiro, adorei! E fiquei muito animada para contar a história dela.
E agora parece que a conversa em torno do desporto feminino continua, bem como a visibilidade e a qualidade salarial. Portanto, parece que mais do que nunca que este é um momento brilhante para o esporte feminino.
CLAUDIA: Se olharmos para a sua filmografia, você tem uma série de mulheres fortes. O que na vida de Trudy se revelou um novo desafio?
Daisy: Para mim, interpretar Trudy foi viver o desafio dela – contar como ela adorava nadar, e como viu uma oportunidade de se desafiar. Interpretar isso é maravilhoso e é também maravilhoso não ter outro motivo a não ser apenas querer fazer isso. (risos) Mas também adorei que ela talvez pudesse fazer tudo sozinha, mas teve o apoio de sua família. Ela e sua irmã se amam muito e representam dois momentos muito diferentes.
CLAUDIA: Quais as principais diferenças?
Daisy: Trudy é totalmente atípica e, honestamente, tem alguma liberdade por causa disso. E Meg realmente não, é mais como o esperado na época, mas elas se apoiam muito. Trudy tem uma família que tem medo por ela, mas quer que ela tente. Contar uma história sobre alguém que é tão apoiada e amada e quase impulsionada por isso nesta natação é, para mim, realmente o coração do filme.
CLAUDIA: E você também passou por treinamento, certo?
Daisy: Treinei por três meses antes de começarmos a filmar e segui treinando durante as filmagens, à noite, nos fins de semana, para depois nadar diante das câmeras. O grande mergulho ocorreu no final do filme e fisicamente foi um desafio. É emocionante aprender uma nova habilidade, mas muito cansativo.
E no final do filme, realmente, foram muitas dificuldades mentais para superar, porque cada vez que eu tinha que voltar para a água fazia muito frio. Foi avassalador atravessar as correntes e ter que acompanhar a câmera. Tinha que nadar, sair, me aquecer e depois voltar.
CLAUDIA: Exaustivo só de escutar!
Daisy: Olho para trás e, mesmo assistindo ao filme ontem à noite, pensei, “nossa, nadei muito mesmo!” (risos). Mas, novamente, assim como Trudy no filme, assim como Diane Nyad que eu conheci – e foi muito louco estar com ela na estreia de A jovem e o mar – contamos as histórias de pessoas fazendo coisas incríveis. Sei que fazem coisas sozinhas o tempo todo, mas, na maioria das vezes, têm uma equipe incrível por trás e eu tive uma equipe incrível de cabelo e maquiagem que estava lá me enrolando em toalhas, uma treinadora de natação incrível, uma equipe incrível de esportes de resgate. Foi a arte imitando a vida. Dessa forma que pude mostrar um pouco do que Trudy fez. Fico feliz com isso!