Ter uma coluna e matérias publicadas na revista feminina que você sempre viu em casa, desde que se conhece por gente, é um motivo de orgulho pra mim. Minhas avós liam CLAUDIA. Minha mãe e minha tia são leitoras até hoje. Quando brincava de boneca, fazia “matérias” sobre elas como se fossem ser publicadas na revista – que eu gostava ainda mais por ter parte do meu nome, facilitava a brincadeira.
Por isso gosto tanto de ver que a imaginação de uma criança passou por sonho e depois realidade. Claro que nem de longe as bonecas viraram notícia, mas como as imaginava como atrizes famosas, de certa forma, em dias nostálgicos, acabo voltando ao imaginário de uma fã do glamour do cinema e da TV. Curiosamente, CLAUDIA chegou às bancas praticamente na mesma data de um dos maiores clássicos do cinema, Amor, Sublime Amor, lançado em 18 de outubro de 1961.
Tudo em Amor, Sublime Amor, em inglês apenas West Side Story, é grandioso. Como lembrei na minha coluna em que falei da refilmagem de Steven Spielberg, o musical nasceu da iniciativa de Jerome Robbins, amigo do maestro Leonard Bernstein. Robbins convenceu Bernstein de fazer uma versão moderna de Romeu e Julieta para a Broadway. O projeto levou anos para chegar aos palcos, outros tantos para as telas dos cinemas, mas nasceu fazendo história e quebrando recordes. As figuras femininas da história, Maria e Anita, são centrais para a trama.
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Se a coreografia de Robbins, que trouxe a dança para as ruas de Nova York, é ultra atual, também são as melodias inspiradas de Bernstein. Uma mescla de sinfonia e jazz, a trilha inclui alguns dos maiores sucessos da música americana do século 20, como Maria, Tonight, Somewhere, Something’s Coming, I Feel Pretty, One Hand, One Heart e America. Quantos clássicos!
Amor, Sublime Amor se sustenta ao longo do tempo por antecipar, já naquela época, temas como racismo, inclusão e intolerância. Só para contextualizar, no final dos anos 1950, a parte oeste de Nova York era tomada por imigrantes e as gangues, que fazem parte da história da cidade, ainda geravam muita violência.
Robbins queria trazer a riqueza da cultura estrangeira assim como endereçar os problemas sociais, por isso a peça de William Shakespeare, que insere uma história de amor impossível dentro do cenário, era tão perfeita. Assim, os Jets (poloneses) disputam poder com os Sharks (Porto-riquenhos), em uma série de combates que transformam as ruas em cenário de guerra. É nesse momento que Tony, teoricamente um Jet, conhece a jovem Maria, uma Shark. É amor à primeira vista, mas um romance que não tem futuro.
De certa forma, os porto-riquenhos ainda são insinuados como os “vilões”, mas em “America”, o letrista Stephen Sondheim faz uma crítica social que se mantém precisa mesmo 60 anos depois. É sem dúvida uma das melhores cenas vistas no cinema.
Graças ao sucesso arrebatador nas bilheterias em 1961 (só perdeu para “101 Dálmatas”, da Disney), Rita Moreno e George Chakiris foram os primeiros latinos a ganhar Oscar no ano seguinte. Quer dizer, George, de ascedência grega, ganhou por interpretar um porto-riquenho, mas Rita – que está na refilmagem e é 100% latina – fez história.
Em minha coluna anterior sobre o filme, falo muito de Anita. Spoiler: ela trai Maria e praticamente entrega Tony para a morte depois de quase ser violentada pelos Jets. É um dos elementos da história que muitos lamentam, pois Tony era inocente e contrário aos amigos. Mas está justamente na consequência do ódio racial que a trama encontra seu drama.
A versão atualizada de Stephen Spielberg chegará aos cinemas em dezembro. Eu estou aguando para vê-la, porque foi todo gravado in loco e com a tecnologia atual, o que deve ressaltar ainda mais o brilhantismo da obra original. Quase que um presente para CLAUDIA e suas leitoras no seu aniversário de 60 anos.
Assista ao teaser da adaptação de Spielberg: