Não é de hoje que falo sobre como foi inspirador, ainda criança, ver a Princesa Leia lutando de igual ao lado dos homens, esperta, mais estratégica que seus “salvadores”, mais eficaz também. Durou pouco, porque em seguida ela ficou relegada à posição de “mesa” ou engenheira, mas raramente nas batalhas (até O Retorno do Jedi). Seja como for, tentaram anos depois dizer que o DNA veio de Padmé, uma Princesa senadora que é a mãe biológica de Leia, mas que morreu de desgosto no parto ao ver que o marido, Anakin Skywalker, preferiu se associar com os Imperialistas. Mais tarde, teve a filha adotiva em Rey, mas desculpem as mulheres, nenhuma chegava aos pés de Leia. Isso se ficarmos seguindo apenas essa narrativa “tradicional”, dos primeiros fãs de Star Wars. Ao longo do tempo, muito conteúdo extra foi sendo criado e, em 2008, Dave Filoni e George Lucas criaram a icônica e rebelde Ahsoka Tano, uma favorita imediata dos fãs.
A história de Ahsoka é cheia de drama e reviravoltas, demanda assistir às animações Star Wars The Clone Wars e Rebels para ter o contexto completo. Ela foi aprendiz de Anakin antes dele virar Darth Vader, e é uma heroína dos sonhos: íntegra, valente, talentosa e ágil. Ter Rosario Dawson na pele de uma Ahsoka já madura é nada menos do que sensacional, não fico chateada que tenha sido ela que tenha tido a primeira série em Star Wars com uma mulher no título, antes mesmo de Leia. Sem spoilers, basicamente Ahsoka está tentando impedir que o temido Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen) retorne em uma galáxia paralela e restabeleça o Império. Para ajudá-la, temos vários dos meus personagens favoritos de Rebels em live-action, em especial, a aprendiz de Ahsoka, Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), que roubou a cena nos dois primeiros episódios.
Há um histórico de conflito entre as duas, que é o paralelo de quase todas as relações de Mestre e Aprendiz em Star Wars. Um que reflete mais do que embates de personalidades, mas de gerações. As duplas da franquia são tratadas como lendárias, desde Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker, Yoda e Luke Skywalker, depois Luke e Grogu, Luke e Rey… Do lado obscuro da Força havia menos espaço para autenticidade, a submissão é total, como vimos com o Imperador Palpatine e Darth Vader. A Disney tem um vídeo que resgata várias dessas parcerias clássicas e é uma boa fonte de informação para quem ainda não conhece Ahsoka e quer acompanhar a série.
Ahsoka é uma (quase) Mestre Jedi que se afastou da Ordem, mas manteve sua dedicação de defender quem luta pela paz e justiça na Galáxia. Foi Yoda que determinou que ela, aos 14 anos, fosse treinada por Anakin, um espelho de sua própria ansiedade e rebeldia. Assim como ele antes dela, teve resistência mútua, mas aos poucos se respeitam e se entendem. O rompimento da dupla vêm quando Ahsoka se decepciona com o Conselho Jedi, antecipando o próprio conflito de Anakin mais à frente. Mas ela se manteve do lado positivo da Força. Quando cruza o caminho da mandaloriana Sabine Wren, mais uma vez os astros se alinham para unir forças, mas mais do que a resistência da aprendiz, é Ahsoka que tem conflitos de se colocar como Mestre. E aqui está outro segredo da série Ahsoka, a construção de um elo feminino em meio a conflitos, mesmo que tenham o mesmo objetivo.
É muito bom ter uma boa história, um grande elenco e uma novidade no gênero de ação e fantasia. Frequentemente – e já me queixei aqui antes – as personagens heróicas ficam amargas, petulantes e agressivas. Ahsoka Tano tem sabedoria, mas claro que também traz suas complicações. É inspirador e, como antecipa um outro filme, é um começo para nos aproximarmos da equidade, algo elusivo ainda em tantos aspectos. Que a Força esteja com Sabine e Ahsoka!