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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Museu retrata o passado da sétima arte e planeja um futuro inclusivo

Em entrevista exclusiva, o presidente e a diretora artística do Academy Museum of Motion Pictures falam sobre cinema, tecnologia e racismo

Por Ana Claudia Paixão
20 mar 2021, 18h00
Hattie Mcdaniels
A atriz Hattie Mc Daniel venceu a categoria Melhor Atriz Coadjuvante pela sua interpretação no filme "E o Vento Levou". Foto: (Bettmann/Getty Images)
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Los Angeles é a capital do entretenimento, portanto ter um quarteirão inteiro dedicado à memória e futuro da indústria é até discreto. No coração de Hollywood, entre as avenidas Fairfaix e Sunset Boulevard, já se pode ver um enorme conjunto de prédios de mais de 28 mil metros quadrados, o Academy Museum of Motion Pictures.

É lá que os amantes da sétima arte poderão conferir exposições, participar de conferências e cursos sem esquecer, claro, no dia em que voltar ser possível, ir ao cinema. Como anunciam, a maior instituição americana dedicada às artes, às ciências e aos artistas da produção cinematográfica.

As portas serão abertas oficialmente no dia 30 de setembro, mas tive a chance de participar de um tour virtual exclusivo, além de conversar com o diretor e presidente do Museu, Bill Kramer, e Jacqueline Stewart, a diretora artística e de programação do Academy Museum.

Academy Museum of Motion Pictures
(Academy Museum of Motion Pictures/Divulgação)

O prédio moderno e futurista foi projetado pelo arquiteto Renzo Piano e conta com sete andares de galerias de exposições imersivas permanentes e temporárias, além de espaços para eventos especiais, cinema (com capacidade para mil assentos), café, loja e um belo terraço de onde se vê a cidade e a famosa placa “Hollywood”.

Sim, há o espaço da Galeria do Oscar, onde estão estatuetas verdadeiras de vencedores em várias categorias, assim como algumas das roupas que as famosas usaram, como o icônico vestido pluma de Cher. Enfim, é empolgante, mas o mais importante é que o timing não poderia ser melhor.

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A Academia fez questão de ressaltar que no museu erros do passado, como o tratamento dado à atriz Hattie McCDaniel, em 1939, vencedora do Oscar que não teve a permissão de dividir a mesa com os outros vencedores por conta da segregação racial, serão discutidos abertamente.

Inclusão, afinal, é o norte do acervo do Museu, que conta com a curadoria de filmes pelo brasileiro Bernardo Rondeau, filho da jornalista Ana Maria Bahiana. Bernardo faz parte da equipe de Jacqueline.

Academy Museum of Motion Pictures
Sapatos vermelhos usados por Judy Garland em “O Mágico de Oz”. Foto: (Academy Museum of Motion Pictures/Divulgação)

Além de estatuetas e objetos, como os sapatos vermelhos usados por Judy Garland em O Mágico de Oz, Steven Spielberg cedeu um dos tubarões usados em seu filme, Tubarão, que dá medo e emoção aos visitantes.

Confira a entrevista com Bill Kramer e Jacqueline Stewart abaixo:

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Como surgiu o projeto Museu?

Bill: Quando a Academia de Ciências Cinematográficas foi fundada, em 1927, já se queria fazer um museu para incluir a história da indústria do cinema e desde então vem-se guardando um riquíssimo material para esse fim. São desenhos, roteiros, tudo que for relacionado aos filmes com um acervo riquíssimo. Cerca de 20% dos 10 mil membros da Academia são estrangeiros, o que faz do museu um espaço internacional.

Quando o museu for inaugurado haverá a oportunidade de visitá-lo virtualmente?

Jacqueline: Será uma mescla. Na época do Oscar, já em abril, teremos uma programação virtual, mas seguiremos oferecendo a oportunidade para as pessoas que não podem vir pessoalmente a Los Angeles. Teremos programas educacionais e uma rica programação para conectar profissionais ou que apenas amam o cinema.

Haverá obras latino-americanas na cerimônia de abertura?

Bill: Como falamos, somos internacionais e teremos alguns filmes que serão exibidos, como da Carmen Miranda, de Fernando Meirelles, Alfonso Cuarón, entre muitos outros.

Jacqueline: Também vamos exibir o Mulheres de Verdade tem Curvas, que aborda a experiência da imigração latina nos Estados Unidos sob a visão de mulheres.

Poderia falar sobre a exibição que vai revisitar a contribuição dos profissionais negros ao cinema?

Bill: Vai cobrir toda a história, desde 1898 a 1971.

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Jacqueline: Será extremamente importante, porque muitas pessoas ao redor do mundo, quando pensam no cinema afro-americano, lembram primeiro de Spike Lee, e faz sentido. Mas essa exibição vai mostrar décadas de profissionais negros já trabalhando e contribuindo antes que Spike começasse a dirigir. É importante porque, apesar de que em todas galerias teremos contribuições de profissionais negros, será nessa mostra que poderemos revisar tudo em grande detalhe, incluindo os preconceitos. Ela irá mostra toda a evolução da comunidade. Será interessante ver essa trajetória.

Academy Museum of Motion Pictures
(Academy Museum of Motion Pictures/Divulgação)

E como será endereçado o tratamento dedicado a Hattie McDaniel, em 1939?

Bill: Teremos mais de uma galeria dedicadas à história do Oscar. Em uma, celebraremos a histórica vitória de Hattie McDaniel, que ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante por E o Vento Levou, mas vamos também registrar como ela foi tratada naquela época [de segregação]. Queremos mostrar como foi significante sua vitória, mas não vamos esconder o impacto de uma noite complicada para ela e para a comunidade negra, uma vez que ela foi proibida de estar na mesma mesa que o resto do elenco.

Qual foi a maior dificuldade de montar o acervo do Museu? Qual seria o item mais raro que estará em exposição?

Bill: (risos) Jacqueline, me ajude. Como mencionei, temos uma coleção extensa porque é um projeto antigo. É o maior do acervo de todo o mundo. Estamos comprometidos em ter diversidade e inclusão social. Todo nosso acervo conta uma história e para diversificar vamos trazer curiosidades que talvez o público ainda não conheça.

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Jacqueline: Nossa, ainda estou pensando no mais raro… [risos] Há tantos únicos! O que me vem à mente é a coleção do Richard Balzer, que é extraordinária e repleta de objetos pré-cinema e nos dá uma percepção dos objetos que as pessoas usavam antes do cinema existir. São mais de 9 mil dispositivos, mas estamos mostrando alguns na mostra Caminho para o Cinema. Há uma lanterna mágica do século 18, que mostra como já “existia cinema” antes da tecnologia se desenvolver.

No ano em que o streaming prevaleceu, como vocês percebem o futuro do cinema?

Bill: Nosso Museu tem duas grandes salas de cinema, uma com capacidade de até mil pessoas e outra com mais de 200 lugares, tudo com a tecnologia mais avançada do momento. Teremos orgulho de mostrar filmes em película nessas salas, porque essa experiência no cinema é muito importante para nós. Mas o mundo do streaming nos inspira, porque pode atingir a mais de uma pessoa de uma única vez. Além disso, é uma oportunidade incrível para artistas independentes e em ascensão terem seus filmes distribuídos para um público maior. Os mundos co-existem [streaming e cinema].

Jaqueline: Outra questão que o Museu está abraçando é o nosso aplicativo que vai permitir as pessoas se conectarem com o conteúdo do acervo de onde estiverem. O século 20 foi marcado pelo cinema em película e agora também tem o digital. Nosso comprometimento é de mesclar os dois da melhor maneira e sempre olhar para o futuro.

Quantos dias devo dedicar à visita do Museu?

Bill: Amei a pergunta. Há várias formas de interação, desde os fãs, estudantes ou apenas curiosos. Queremos engajá-los com a melhor experiência. Quem quiser passar apenas algumas horas, verá bastante coisa. Já os interessados em toda a programação, especialmente os painéis de discussão, devem destinar alguns dias. Gostaria que passassem muitos dias (risos), vamos adorar recebe-los.

As pessoas terão medo do tubarão Bruce, apelido dado ao animal pelo diretor Steven Spielberg? 

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Jacqueline: (risos) é muito grande!
Bill: É o maior item da nossa coleção e paira sobre mais de um andar. Ele é, ao mesmo tempo, convidador, assustador, emocionante. Um pouco de tudo. É como rever um querido amigo de longa data (risos).

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