Vim acompanhando ansiosamente algumas produções até sua estreia, como Pistol, que apresentei aqui na semana passada, e A Rainha Serpente, que chega à Starz Play agora em setembro. Se ainda não ligou o título à pessoa, vou dar algumas pistas aqui. E sim, é mais uma biografia e mais uma revisão de como líamos as passagens de personagens femininos icônicos.
A série, com apenas oito episódios, é sobre a suspeitíssima Catarina de Médici, a Rainha da França que foi tão temida em vida que ganhou o “apelido” de Serpente. Isso porque era sorrateira, dava o bote nos inimigos quando acuada e a-do-ra-va um veneno (literalmente) para resolver seus problemas. No Castelo de Bois, para quem já fez o turismo pelos castelos franceses, há um pequeno gabinete onde entramos e vemos os esconderijos onde a Rainha mantinha seu estoque. É o quarto dos venenos. Doce, né?
Então, vamos aos fatos, porque a série vai seguir a linha cômica de The Great (que acompanha a ascensão de Catarina, a Grande, também na plataforma Starz Play) e há muitas verdades surreais em tudo. A base é o ótimo best seller escrito em 2003 por Leonie Frieda, Catarina de Médici: Poder, Estratégia, Traições e Conflitos, a Rainha que mudou a França (disponível no Brasil) e reconta a incrível trajetória da italiana, que fazia parte da importante família Médici, de Florença, até o trono do principal reinado da Europa em sua época, a França. Catarina foi uma regente importante, com três filhos ascendendo ao trono e com trágicos eventos marcando seu reinado, como o massacre de São Bartolomeu e as previsões de Nostradamus. Sua relação com a filha, Margot, foi particularmente complicada e também retratada em livros e filmes (o filme com Isabelle Adjani é incrível). A série vai mostrar a chegada de Catarina na corte francesa, onde é rejeitada pelo marido, que preferia a companhia da amante, Diana de Poitiers, e onde sofreu todo tipo de preconceito.
Quando Catarina está adulta, o papel está com Samantha Morton, uma das melhores atrizes de sua geração. Para quem viu os filmes sobre a Rainha Elizabeth, com Cate Blanchett, podem lembrar que Samantha fez uma incrível Rainha Mary, da Escócia. Ironicamente, Catarina era a sogra da rainha escocesa.
Catarina de Medici, que governou (indiretamente) a França por 30 anos, era uma mulher no poder em um período sangrento, marcado por perseguições religiosas, guerra civil, complôs e assassinatos. Tida como rancorosa, há de se concordar que ela não teve uma vida fácil. Depois de ter sobrevivido à morte dos pais ainda bebê, ela foi sequestrada e ameaçada de morte, apenas para virar uma peça no tabuleiro da política machista de sua época. Aos 16 anos, Catarina foi para a corte francesa para se casar um príncipe, Henry II, que – em tese – tinha pouca chance de ser Rei. O acordo feito pelo tio de Catarina, o papa Clemente VII e o Rei François I incluía um dote financeiramente generoso e uma missão de ter muitos herdeiros para os Valois.
O azar de Catarina, que não estava nos padrões de beleza das mulheres, foi que se apaixonou perdidamente pelo marido. Um rapaz pra lá de complicado. Henry II também foi prisioneiro por alguns anos, quando seu pai o usou como troca para ter liberdade. No período do cativeiro, cultivou um amor doentio e exclusivo por uma mulher 20 anos mais velha, a lindíssima Diane de Poitiers. Assim que conheceu Catarina foi aversão ao primeiro olhar, que aguentou a humilhação de conviver com a amante do marido até a morte dele, quando virou a Serpente. Só para entender como ela e ele passaram para uma posição de efetivo poder, o irmão mais velho de Henry morreu repentinamente. Então Catarina, que seria uma princesa francesa, passou a ser a futura rainha. E nem essa mudança de papel a ajudou a ser aceita.
A história de Catarina é quase inacreditável, e é maravilhoso que tenha uma atriz do calibre de Samantha Morton para trazer a nuance do rancor que conduzia todas as decisões da rainha. Uma rainha, aliás, que seguia horóscopo e mapa astral com mais fé do que sua religião Católica e que tinha, como já falei, Nostradamus compartilhando as previsões do futuro. Quem não quer saber mais sobre ela? Se tudo isso não bastasse, como os castelos onde a História aconteceu ainda existem, as gravações foram in loco. Os figurinos estão de tirar o fôlego e o elenco inclui Charles Dance, de Game of Thrones, como Papa Clemente VII e a francesa Ludivine Sagnier como a arquirrival de Catarina, Diana de Poitiers, entre outros. Ótimo conteúdo para acompanhar!