Tinha me comprometido a usar minhas colunas de sexta-feira aqui em CLAUDIA para lembrar das bruxas do cinema e da TV, mas terei que furar minha grade. É que o mês de outubro de 2024 fechou com uma notícia triste e impactante para quem é mulher e ama cinema: o falecimento de Lynda Obst.
Sei exatamente que você está se perguntando, “Lynda quem?”, mas fique comigo que te explico. Lynda foi uma das mulheres mais importantes da história de Hollywood, assinando sucessos considerados clássicos, “descobrindo” estrelas, pregando sororidade quando mulheres eram tidas como rivais e sempre, sempre, sendo generosa com o que aprendia.
Lynda Obst já tinha entrado na minha vida ainda nos anos 1980s, quando Flashdance chegou aos cinemas. Foi o primeiro filme que ela produziu, mas eu não prestava atenção aos créditos nessa época.
Só vim a conhece-la mesmo, e a partir daí segui-la como fã, com a sua autobiografia, publicada em 1996 que ela batizou como Hello, He Lied (Olá, Ele Mentiu). Nela, Lynda compartilhava sua experiência como uma das maiores produtoras mulheres em Hollywood e sua leitura é obrigatória ainda hoje para quem ama Cinema.
Quase uma década ANTES do movimento do #metoo, Lynda falava abertamente contra o machismo e os abusos de Hollywood, pregando sororidade quando esse conceito era tabu e desconhecido. Temas completamente pioneiros e – na época – mal interpretados.
Ainda assim, a coragem de Linda foi um exemplo para mulheres ao redor do mundo e me impactou seriamente. Cheguei ao livro através de uma amiga americana, Laurie Ann Schag, que me recomendou a leitura. “Esse livro define essencial”, era me explicou. E estava certa.
Há poucos meses levei um susto quando vi Lynda dado depoimento no julgamento (e documentário) sobre Robert Durst, o sensacional Jinx. Seu envolvimento foi porque antes de Susan Berman ser assassinada por Durst, Lynda estava negociando a adaptação do livro dela para o cinema.
Por isso, ler a notícia da morte dela na noite de 22 de outubro, por consequência de uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) me pegou de surpresa. Ela tinha apenas 74 anos e estava envolvida com pelo menos 14 projetos, incluindo a continuação de Como Perder Um Homem em 10 dias que está intitulado Como Esquecer um Homem em 10 dias e transformar Flashdance em minissérie.
Dói o coração saber que se vierem a ser realizados, estarão sem sua presença no set.
Lynda conviveu com sua mortalidade desde 2018, quando descobriu ter DPOC, uma condição incurável e progressiva que é consequência de ter sido fumante inveterada desde os 16 anos. Os últimos anos, as dificuldades respiratórias foram reduzindo sua saúde até, infelizmente, seu falecimento.
Sem surpresa a notícia de sua morte deixou Hollywood de luto, e não apenas entre as mulheres. Como falei, Lynda foi um dos principais nomes do mercado desde Flashdance,e possibilitando a existência de vários clássicos de Norah Ephron como Sintonia do Amor (Slepless in Seatle) a Interstelar de Christopher Nolan.
Mesmo sem ser sucesso, foi Lynda que produziu o primeiro faroeste com elenco unicamente feminino – Quatro Mulheres e Um Destino (Bad Girls) – em 1994. Pioneirismo era seu oxigênio e, antes que fosse moda, sem restringir seus projetos a esse conceito, Lynda tinha uma assinatura clara: seus filmes tinham protagonistas femininas fortes.
O que sempre me chamou a atenção com seu trabalho foi que mesmo se destacando em um mercado adverso para mulheres como o de Hollywood,
Lynda sempre optou por ser generosa e positiva. Na a biografia de 1996 que mencionei, ela não compartilhou detalhes de atos terríveis de pessoas famosas, algo que aliás ela testemunhou em grande volume e que renderiam histórias incríveis.
Não, ela se concentrou a ensinar o complexo e no que um produtor realmente faz, por isso minha amiga Laurie Ann foi certeira: até hoje é uma leitura essencial para quem quer aprender o que é mercado americano de entretenimento.
Linda começou sua carreira como jornalista, em Nova York, foi editora da The New York Times Magazine e foi colunista da New York Magazine, antes de se aventurar como produtora. Antes disso, foi uma das mais destacadas editoras de livros da Random House.
Lynda sabia identificar e escrever boas histórias. Sua amizade com Norah Ephron, que teve um caminho similar, faz da dupla um símbolo inspirador para todas nós.Com pouco mais de um 1m50 de altura, Lynda Obst era uma gigante em Hollywood e tinha um faro para talento infalível.
Um dos astros do momento, o ator Glenn Powell, descreveu há poucos meses como foi um sortudo de ter sido estagiário da produtora quando chegou à Hollywood. Com Lynda, ele diz que aprendeu identificar as histórias e os bons roteiros, uma lição rara que faz toda diferença para uma carreira no cinema.
Por isso, se você gosta de Cinema, de Hollywood e quer saber de quem foi uma das melhores, além de Hello, He Lied, sugiro a leitura Sleepless in Hollywood: Tales From the New Abnormal in the Movie Business, que Lynda publicou em 2013. Porque se os homens mentiram para ela, Lynda Obst sempre nos disse a verdade.
Que descanse no Poder.
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