Olivia Colman e a sutileza dos detalhes em “A Filha Perdida”
A colunista Ana Claudia Paixão conta detalhes da adaptação do livro de Elena Ferrante para uma produção da Netflix que acaba de ser lançada
Para quem acompanha filmes e séries britânicas, Olivia Colman sempre foi destaque entre as atrizes, mas só ficou internacionalmente famosa depois que ganhou o Oscar por “A Favorita”. A partir daí, esteve em quase todas as premiações, merecendo ganhar todas elas.
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Olivia passeia pelo drama e pela comédia com igual facilidade, e sua naturalidade para encarar qualquer gênero faz quase parecer que não muda tanto, mas isso é um engano. Como esquecer que a madrasta má de “Fleabag” era a filha dedicada de “O Pai”? E que a Rainha desequilibrada de “A Favorita” era a mesma que interpretou Elizabeth II em “The Crown” Não importa o papel, Olivia entrega.
E isso sem mudar radicalmente sua aparência ou apostar em papéis grandiosos. Vem quieta e infalível. Maggie Gyllenhaal sabia o que estava fazendo ao escalá-la para sua estréia como diretora em “A Filha Perdida” (The Lost Daughter), da Netflix. Sei que Kristen Stewart está com a campanha mais forte pelo Oscar este ano, mas quem merece mesmo (e eu vi “Spencer”) é Olivia Colman.
O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome de Elena Ferrante, que analisa uma questão muito séria, mas ainda tabu: o que fazer quando o casamento não completa uma pessoa, como a maternidade pode ser sufocante e como escolher “ser feliz” é difícil. A resposta para a última questão, pelo menos em “A Filha Perdida” é sendo egoísta, por isso ter uma atriz com a empatia de Olivia em um papel antipático e conturbado ajuda a humanizar a discussão. Seria fácil colocá-la no papel de vilã, mas as frustrações são compreensíveis assim como dolorosas. É o que “A Filha Perdida” nos mostra.
Olivia é Leda, uma professora universitária de férias sozinha na Grécia, onde observa uma (barulhenta) família que invade seu espaço, prestando atenção especial em uma jovem mãe (Dakota Johnson), com quem se identifica. Entre os flashbacks de momentos cruciais de sua vida, Leda revisita a dor e a felicidade, provocadas por suas escolhas e consequências.
O roteiro e a direção de Maggie, ambos premiados em festivais e com chances de indicação ao Oscar, são precisos. É uma diretora de grande talento. “A Filha Perdida” é sufocante, mas vai falar diretamente com os corações femininos. E mais uma vez comprova que o que Olivia Colman parece ser fácil, mas é bem mais complexo do que isso.