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Casa da paisagista Caterina Poli é um convite aos espaços externos

Em uma casinha de vila, seu lar em São Paulo, a arquiteta mescla esse cenário verde a um espaço onde a criatividade é sempre bem-vinda

Por Marina Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 jul 2024, 09h00
Indoor Revista CLAUDIA, casa da paisagista Catê Poli
Moradora do Campo Belo, em São Paulo, a paisagista Caterina Poli criou um lar com ar de refúgio campestre. Por lá, as cores fortes se mesclam às plantas e criam um ambiente cheio de personalidade (Mayra Azzi/CLAUDIA)
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E impossível entrar no lar da Caterina Poli e manter-se indiferente. As duas casinhas geminadas, construídas numa pequena vila no bairro de Campo Belo, em São Paulo, apresentam-se como um universo particular dos moradores: a paisagista, seu marido e as duas filhas adolescentes — além de Elvis e Pop, dois vira-latas cheios de dengo.

Nas paredes e estantes estão recordações de viagens, grafites, coleções com temáticas variadas — de mais de 300 pinguins a bonequinhos personalizados — e placas divertidas, além de cores vibrantes.

Indoor Revista CLAUDIA, casa da paisagista Catê Poli
As peças da décor são lembranças de viagem, como a ilustração de Frida Kahlo, que foi comprada em 1999, no México, durante a celebração do “Día de los Muertos” (Mayra Azzi/CLAUDIA)

O mínimo que Catê espera das visitas é alguma interjeição; neutralidade é seu maior pesadelo. “Cada amigo que vem aqui fica chocado. Tem quem pergunte como limpamos, ou quem fale que parece um cenário. Acho que toda casa deveria expressar a personalidade de quem habita. Nem que a pessoa não tenha personalidade nenhuma e tenha uma casa neutra. Mas muitos têm a personalidade presa, só que precisam mostrar aquela beleza plástica perfeita, ou o que está na moda.”

Indoor Revista CLAUDIA, casa da paisagista Catê Poli
Detalhes da parte superior da casa, reservada para uma área externa relaxante (Mayra Azzi/CLAUDIA)

A arquiteta enxerga monotonia no clássico e no comum. Gosta mesmo é dos espaços com personalidade, do tropicalismo e da fluidez: tanto na vida quanto no trabalho.

Catê e o marido, o designer gráfico Arnaldo Degasperi, estão juntos desde 1988. Em 2004, chegou a hora de expandir a família e buscar mais espaço: “Estava com 34 anos e ele me falou: ‘ou você tem um filho comigo este ano eu vou ter com outra mulher’”, conta, dando uma risada generosa. “Eu estava enrolando, e para um homem hétero falar isso é porque estava no limite mesmo. E eu falei ‘tá bom’.” 

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As centenas de bonecos que decoram a casa são obra do artista Arnaldo Degasperi, marido de Caterina (Mayra Azzi/CLAUDIA)

A condição de Caterina para embarcar na maternidade era mudar-se do apartamento para um espaço maior. E assim veio a primeira casinha da família. A segunda, localizada exatamente ao lado, foi adquirida quatro anos depois.

Nesse meio tempo, os dois imóveis passaram por muitas transformações: paredes foram derrubadas e espaços foram aproveitados de maneiras diferentes. Na sala, uma abertura circular trouxe mais luz para o estar e integração com a cozinha.

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Os moradores são fãs das cores intensas e primárias nas paredes (Mayra Azzi/CLAUDIA)

A segunda casa veio para ser transformada em escritório do casal, que hoje atua junto em seus projetos e possui uma equipe. Entretanto, com a flexibilidade de trabalho após a pandemia, o lugar acabou recebendo novas funções. Nos fundos, o quintal ganhou mais espaço com a conexão entre as duas casas, que são interligadas. As muitas plantas do jardim dão unidade aos dois imóveis, que juntos têm 200 metros quadrados.

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Detalhes do quintal dos fundos da casa de vila (Mayra Azzi/CLAUDIA)

“É preciso que as pessoas tenham vontade de ficar ao ar livre. Não é só um cenário bonito, plantar árvores e trazer mais sombra e passarinhos”

Caterina Poli

Foi nesse ambiente recreativo que cresceram Olímpia e Aurora, as duas filhas do casal, agora com 18 e 15 anos de idade.

“Um arquiteto pode fazer uma reforma, um layout, mas eu acho que a pessoa tem que ter as coisas dela, as referências da sua vida pessoal”, conta a moradora, que é fã, junto ao marido, de motivos étnicos, arte pop e ladrilho hidráulico.

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Detalhe da estante com lembranças de viagens dos moradores (Mayra Azzi/CLAUDIA)
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“Aqui, o azul é azul, o vermelho é puro, quase uma coisa infantil. Você não vai ver um off-white, um terracota, um oliva. Como as casas são pequenas, dá para ter as cores sem que fique brusco. Acho que temos essa coisa meio casinha de Paraty, Tiradentes ou México.”

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Antiga, a estante da sala foi comprada em partes separadas, montadas como num quebra-cabeças (Mayra Azzi/CLAUDIA)

Tropicalismo fluido

Formada em arquitetura, Catê Poli estreou no paisagismo por um acaso da vida — ou força do destino, já que se apaixonou pelos cenários verdes e nunca mais largou. “Durante a faculdade, estagiei num escritório da área. Quando acabou, fui para um outro também com a temática. Não fui eu que escolhi o paisagismo, ele me escolheu. Às vezes fico cansada, são 30 anos fazendo o mesmo trabalho, mas não consigo me imaginar fazendo outra coisa.”

O paisagismo pode ser definido como a transformação de um cenário, mas Catê gosta de enxergá-lo de uma forma mais romântica. Para ela, significa criar um ambiente de bem-estar.

“É preciso que as pessoas tenham vontade de ficar ao ar livre. Não é só um cenário bonito, plantar árvores e trazer mais sombra e passarinhos. É isso também, mas é olhar o espaço externo e desejar estar nele. Às vezes, a pessoa tem um jardim e não sente vontade de usar porque não está atraente. Principalmente após a pandemia, houve uma valorização desses espaços. Nos meus projetos você sempre vai ver uma coisa fluida, nunca rígida”, explica a profissional.

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A paisagista Caterina Poli em seu lar em São Paulo (Mayra Azzi/CLAUDIA)

Ela aponta que, num bom projeto, nossos olhares devem “caminhar” pelo espaço, daí vem a ideia da fluidez. Outro ponto importante de seu papel é “o exercício da paciência”, como ela mesma define. “O jardim fica mais bonito quando envelhece um pouco”, explica sobre o passar das estações e a evolução da paisagem ao longo dos anos. “Conforme vai crescendo, o jardim vai se apropriando do espaço, ficando mais natural e agradável.”

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“Essa escultura de cachorro é do século passado, comprei com um homem que vende esculturas malucas na beira da estrada. Amamos essa estética kitsch, no limite do brega – tem gente que vai achar MUITO brega!”, declara a moradora (Mayra Azzi/CLAUDIA)

De quando iniciou na profissão até hoje, Catê gosta de destacar a transformação do paisagismo no Brasil, que, segundo ela, tem valorizado cada vez mais o nosso bioma.

“Eu sempre amei os jardins tropicais. Contudo, no início, o público brasileiro via muito a Europa e o hemisfério Norte como modelo. Hoje o cenário é outro. Acho que principalmente os mais jovens entenderam que temos a maior biodiversidade botânica do mundo. Eu não sou uma pessoa radical, que só usa plantas nativas, mas prezo sempre por colocar o máximo possível e celebrar a beleza nacional.”

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As placas criativas vêm de diferentes lojas das quais Catê é fã: Casaquetem, Um Canto lá de Casa e Dpot. O azulejo português foi resgatado de uma casa de um cliente que seria demolida (Mayra Azzi/CLAUDIA)

Essa postura acessível foi também responsável pela arquiteta atrair tantos seguidores nas redes – são quase 170 mil no Instagram. De forma descontraída e com uma linguagem democrática, Catê é alvo de olhares de curiosos, profissionais e também de pessoas que estão em transição de carreira. Em seu perfil é possível aprender mais sobre esse universo tão extenso e também se inspirar em seus projetos exuberantes.

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Detalhe da área externa da casa da paisagista Catê Poli, em São Paulo (Mayra Azzi/CLAUDIA)

Por muito de sua visão de mundo, Caterina sempre enxergou a decoração como uma parte da vida que não deve ser engessada ou presa a tendências. E realmente, basta um tour pelo lar para enxergar suas crenças escancaradas, algo que é puro reflexo de uma família com muita história e fortes laços. 

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Relíquias antigas, as estátuas de pinguim e porquinho-da- índia vêm de lojas paulistanas de jardinagem (Mayra Azzi/CLAUDIA)

“Depois de 30 anos, conseguir passar os meus valores pessoais para o trabalho é um privilégio. Durante um bom tempo, os dez primeiros anos, você tem que, sei lá, comer muito capim (risos). Acredito que só vamos nos mudar daqui quando não conseguirmos mais subir as escadas.” E nós te entendemos completamente, Catê! 

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