A brasileira Geovana Cléa é um dos destaques da 61ª edição do Salão do Móvel de Milão, feira que é referência internacional em mobiliário e design e que acontece de 18 a 23 de abril de 2023 na cidade italiana.
Nascida no município de Inhapi, em Alagoas, a artista plástica imprime em suas obras lembranças de seu início de vida no sertão alagoano. Com tintas feitas por ela, Geovana cria arte a partir de metais líquidos, acrílicos, resina, ouro e cristais Swarovski em pó.
O principal processo de seu trabalho está na dedicação em estudos dos efeitos naturais da terra e na recriação de cores e efeitos de troncos de árvores, terra e água.
“A essência de mulher sertaneja me impulsiona a ter o olhar voltado para a simplicidade da vida, tenho essa ligação muito forte com a natureza, tive uma infância livre: subia em árvores, tomava banho de rio, apreciava os cactos, as pedras e o barro vermelho do meu sertão”, conta a artista, que há mais de 20 anos vive na Itália.
“Hoje em dia, mesmo não tendo minha terra perto, consigo reencontrá-la quando exploro o mundo natural, isso inevitavelmente se tornou o centro do meu trabalho. Através da natureza consigo amenizar a saudade do lugar que pertenço, isso para mim é como um presente carinhoso de Deus, e vou contando essa história através das cores em cada obra que realizo”, descreve sobre a inspiração do seu trabalho.
“Tudo que faz parte da natureza é sagrado pra mim, por isso preservar o planeta é uma bandeira que levanto através do meu trabalho artístico.”
Geovana Cléa, artista plástica
A arte esteve presente na vida da alagoana desde pequena. Primeiro, através da música, já que adorava compor e improvisar melodias ainda criança. Aos 18 anos, deixou o sertão alagoano para se aventurar em Florença, cidade italiana onde se respira arte. Ali, descobriu a beleza da arte pictórica ou artes plásticas, como é mais conhecida no Brasil.
No ano seguinte, começou a ter suas primeiras experiências com as tintas, depois de ganhar de presente duas telas em branco e uma caixa de madeira com diversas cores a óleo.
Os efeitos naturais da terra como arte
Foi observando a natureza que Geovana encontrou seu lugar nas artes plásticas. Desde as memórias do sertão alagoano até o resgate de suas raízes ao se deparar com os espaços verdes em sua atual morada, ela entendeu que era ali que a inspiração se apresentava em sua forma mais pura.
“Não conseguiria explicar com palavras a sensação de bem-estar que sinto quando estou em meio à natureza, a conexão com o divino é inexplicável. Em Milão não é fácil ter contato humano. Além do inverno rígido não ajudar, todos estão sempre muito ligados ao próprio trabalho, aos horários… Sendo artista, passo muito tempo solitária, então vou me enchendo dessas belezas naturais e depois transmito essas emoções para meu trabalho.”
61ª Salão do Móvel de Milão
Em sua 4ª participação no Salão do Móvel de Milão, Geovana Cléa assina obras inspiradas por vulcões, florestas durante a noite e pelo efeito da chuva sobre as rochas. Há também trabalhos que representam as ágatas brasileiras e o mar de Portofino.
A participação de Geovana no mais importante evento do setor acontece em parceria com a grife de móveis de luxo Giorgio Collection, empresa com a qual colabora desde 2020. A marca tem mais de 60 anos e conta com mais de 50 lojas pelo mundo, entre elas na Harrods de Londres e na Casa Ricca de Moscou.
Além da parceria com a marca de mobiliário, Geovana trabalha juntamente à Swarovski desde 2014. “À época estava criando a coleção Stardust [poeira estelar, em português], que falava sobre as águas do rio Trebbia e seus quartzos brancos”, o foco nas águas foi a base inicial da parceria, que hoje resulta em obras feitas com os cristais em pó, lembrando grãos de areia.
Até então, Geovana nunca teve a oportunidade de realizar uma exposição individual no Brasil, mas chegou a participar de uma coletiva na Galeria Gamma, de Maceió.
Além das colaborações e exibições, a artista brasileira também é responsável hoje pela Emotions of the World (EOTW) Gallery, espaço em Milão, projeto que nasceu com o foco de ajudar artistas a exporem e entrarem no mercado da arte internacional.
“Foi criado em 2008, ano de grande crise em que várias galerias fecharam os batentes, inclusive a que me representava em Milão, com mais de 50 anos de atividade. A partir disso, pensei em fazer algo que permitisse tanto eu, quanto outros colegas, a continuarem a fazer o próprio trabalho. A arte não pode parar”, conclui.