“Uma coisa de que gosto aqui, mas que muita gente não curte, é o fato de os ambientes serem totalmente devassados. Eu não ligo. Me sinto como no filme Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock”, conta o executivo Roberto Sansão, proprietário deste apartamento no bairro paulistano de Higienópolis.
A paixão do morador pela obra do cineasta britânico, pela arquitetura do edifício que escolheu para viver e pelo mobiliário vintage, que se destaca no décor, não é por acaso. “Ele cultiva a nostalgia e aprecia tudo o que vem das décadas de 1950 e 60”, diz o arquiteto Antonio Ferreira Junior, autor do projeto ao lado do sócio, Mario Celso Bernardes.
Esse olhar carinhoso para o passado se relaciona, inclusive, com o prédio onde o apartamento está localizado. Há uma década, Roberto sonhava em morar no Cinderela, uma joia projetada por Artacho Jurado nos anos 1950. Depois de muita espera, surgiu a oportunidade de comprar um dos poucos apês com as características originais preservadas.
Apesar de mexer o mínimo possível na planta e nos acabamentos, os profissionais adaptaram os ambientes a um estilo de vida contemporâneo, com um living integrado. “Incorporamos um dos quartos à área social a fim de criar a sala de jantar e abrimos a parede para o estar”, explica Antonio.
Alguns itens foram restaurados durante a reforma, a exemplo do taco de madeira e das maçanetas, que são polidas semanalmente pelo próprio morador. A ligação dele com o período em que o modernismo brilhou no Brasil se reflete na decoração também.
Entre os móveis soltos, os arquitetos usaram preciosidades do design nacional, como o sofá de Sergio Rodrigues e a escrivaninha de Jorge Zalszupin, ambos da década de 1960 – as peças fazem um mix interessante com a poltrona desenhada pela holandesa Hella Jongerius, lançada em 2017.
Outra paixão do executivo são as obras de arte. A primeira a ser comprada foi uma tela de Tomie Ohtake no tom preferido do morador, o verde. “Ela ganhou lugar de destaque: uma parede em que posso vê-la de qualquer canto do living”, explica. Hoje, o acervo cresceu e ficou eclético, com estilos variados – da pintura concreta de Hércules Barsotti aos nus fantásticos de Florian Raiss. Enquanto as telas dominam as paredes, a coleção de bonecos de personagens clássicos, como os dos filmes de Hitchcock, preenche a estante, de traço contemporâneo. Essa mistura de passado com um pé no presente toma conta do décor e tem tudo a ver com o estilo e as memórias de Roberto.