Estamos em 2021 mas, a realidade do mercado de trabalho ainda é arcaica: homens têm maior facilidade de encontrar emprego, dominam altos cargos e recebem os mais altos salários dentro das corporações. A realidade chega a ser irônica em um país em que mulheres são maioria nas universidade e cursos técnicos tendo em vista que a qualificação deveria ser sinônimo de maior empregabilidade.
A pergunta é: o que nós mulheres podemos fazer quando queremos ter o nosso espaço no mercado de trabalho e um plano de carreira?
Um catalizador da empregabilidade reside, sem dúvida, nas conexões com mulheres que apoiam mulheres, trabalho que os coletivos e redes de apoio têm desempenhado muito bem.
O Todas Group, uma plataforma 100% digital criada no início do ano pandêmico de 2020 pelas amigas Tatiana Sadala e Dhafyni Mendes, tem exatamente a visão de dar as mãos a outras mulheres. Por meio de uma rede de apoio, sua meta é alcançar a ousada marca de personalidades femininas ocupando 50% das lideranças corporativas no Brasil. Mais do que uma simples conexão, o trabalho inovador que liga presidentes e CEOs de grandes empresas mundiais a meninas e mulheres que sonham com altos cargos dentro do amplo mundo corporativo é descrito pela fundadora Tatiana como uma “rede de impulso”.
“Quando estourou a pandemia no Brasil, ficou muito claro o que poderia vir e o que possivelmente aconteceria na vida profissional das mulheres. Quisemos de uma forma genuína contribuir pras mulheres profissionalmente neste momento. Criamos um espaço íntimo, de confiança e proximidade, juntando mentoras com futuras líderes, que querem crescer e que não têm acesso a essas lideranças”, explica Tatiana, que chegou a se demitir de seu antigo emprego para cumprir a missão de impulsionar mulheres através do Todas.
Em suma, o Todas lida com três pilares: mentoras, futuras líderes e headhunters de grandes empresas que querem estar inseridas na agenda de diversidade e inclusão, como a recém associada Signium.
Essa arte de conectar esses diferentes setores, mostra ao final que todas nós somos iguais, sonhamos, queremos romper barreiras e podemos chegar lá juntas. Estar em um alto patamar hoje é uma oportunidade que se tem de inspirar alguém a chegar onde você chegou.
“Pra mim foi um momento de servir como líder, de começar a retribuir para o mundo um pouco do que eu tive”, compartilha Luciana Feres, vice-presidente global de marketing da Danone e uma das mentoras do Todas Group. “Eu sentia que aquele era o momento que tínhamos que nos unir.”
“É um senso de missão, de servir e ajudar, principalmente as mulheres do meu país, que foram muito mais afetadas do que mulheres de outros países em função da pandemia. É meu dever estender a mão para mais mulheres, ajudar e mudar esse cenário, lutar e fazer a minha parte para que haja um novo modelo mais democrático e justo”, diz Luciana.
Sobre democracia e justiça, as mães da Maternativa entendem bem. O grupo que se auto intitula como “uma rede de mulheres feministas”, apoia as mães que por conta da maternidade foram excluídas do mercado de trabalho e é hoje a maior plataforma que fala sobre maternidade e trabalho.
Essas mulheres, que representam 48% das mães que saem ou são tiradas do corporativo antes dos seus filhos completarem 1 ano, são aquelas que optam pelo empreendedorismo não por opção, mas por uma necessidade que nasce do não enquadramento aos requisitos e exigências do mercado.
“A comunidade da Maternativa é tão potente porque ela é um grupo de inteligência coletiva compartilhada e isso traz muitos benefícios para quem está passando ou vai passar pelo desafio e está ali para aprender um pouco sobre ele”, conta Vivian Abukater, uma das sócias da comunidade.
A plataforma, que ajuda mães empreendedoras a darem visibilidade a seu trabalho e conectá-las entre si, também estimula através de cursos e workshops o conhecimento. Além disso, faz o papel de ser porta voz de mães que ainda têm um emprego fixo e realizando consultorias para as empresas. A finalidade é levar até as iniciativas privadas as dores pelas quais as mulheres passam no mercado de trabalho e as suas necessidades, contribuindo para um espaço colaborativo mais inclusivo e compreensivo. Não é porque uma mulher virou mãe que ela não pode realizar tarefas.
“A maternidade ela é uma potência gigantesca no desenvolvimento de habilidades para uma mulher. A chegada de um filho é uma transformação intensa que altera sua percepção de tudo e desencadeia uma série de novas habilidades. Você tem um despertar da empatia, relacionamentos, organização, praticidade. Uma vez que essa potência é reconhecida pela mulher, por mais que ela perceba que a sociedade não a reconhece, ela se apropria disso e muda tudo. Tira a mulher do lugar de medo e coloca ela em um lugar de coragem.”, diz Vivian.
A coragem e a oportunidade levam as mulheres para um patamar único de descobrimento e sucesso. Foi acreditando nas propostas de oportunidade que Sheila Makeda e Shirley Leela, fundadoras da Makeda Cosméticos, criaram a Makeda Terapeuta, que é uma forma de influenciar o empreendedorismo, principalmente para mulheres negras.
O projeto, que já rompeu as fronteiras do estado de São Paulo e chegou em estados como Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, hoje é sinônimo de esperança para quem não está inserida no mercado de trabalho há um bom tempo. O agravamento da crise do emprego com a pandemia despertou nas fundadoras um senso de missão em não só influenciar, mas dar completo acesso a oportunidades. Nasceu então o Movimente-se com Makeda, um programa que forneceu bolsas do programa de terapeutas a mulheres negras em situação periférica.
“O movimente-se, para a gente, não movimenta só a vida delas, ele também nos movimenta. Nos dá felicidade de estar impactando vidas, que é o que a gente queria”, diz Sheila Makeda.
“Uma mulher negra e periférica é potente e nós queremos mostrar essa mulher no lugar da potência dela, e não da escassez. Ela é potente, ela só precisa de oportunidade.”
A baiana Marinalva Moura, umas das mais novas Makedas Terapeutas, posição que alcançou através de uma bolsa fornecida pelo movimento, hoje se diz esperançosa e acredita que sua vida, após este empurrãozinho de coragem, será diferente.
“Hoje eu consigo sonhar mais, me ver lá na frente como empreendedora de sucesso onde poderei contribuir a ajudar outras mulheres negras e periféricas assim como um dia uma pessoa resolveu me ajudar”, compartilha Marinalva.
“Meu sucesso será uma maneira de honrar as vidas generosas que se uniram para ajudar”
Todas essas redes e grupos, que no fundo apresentam um denominador comum, o de realizar uma missão, só desejam uma coisa: que, no futuro, nossos filhos e filhas vivam em um mundo tão igualitário que não entenderão porque um dia todas essas redes tiveram de ser criadas.