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Por que as mulheres se afastam mais do trabalho por saúde mental?

A conta não fecha: como a sobrecarga mental e o machismo estrutural estão adoecendo as mulheres

Por Kamille Neris
6 abr 2025, 07h30
A carga invisível: por que as mulheres se afastam mais do trabalho?
O peso invisível: por que as mulheres se afastam mais do trabalho? (Reprodução/Freepik)
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São reuniões de trabalho, afazeres domésticos e cobranças silenciosas quase que incessantes. Não é fácil ser mulher no Brasil — muito menos quando se é assalariada. Ao crescer em um contexto que reforça a expectativa do “cuidar de tudo e todos“, basta um piscar de olhos para que se esqueça o valor de seus corpos, prazeres e alívios.

Em 2024, foram quase meio milhão de afastamentos devido a transtornos mentais no país, segundo dados do Ministério da Previdência, obtidos pelo G1. Desses, 64% foram solicitados por mulheres, que têm a idade média de 41 anos e apresentam quadros de depressão e ansiedade

A carga que adoece

Para entender as razões por trás desses números alarmantes, conversamos com a psicóloga e mentora de mulheres, Thirza Reis, que nos mostrou sua perspectiva analítica e clínica sobre o assunto. Para ela, a carga e sobrecarga emocional é um dos principais fatores para os afastamentos.

Congelamento de óvulos: uma nova forma de controlar as mulheres
A “economia do cuidado” é um dos pilares do patriarcado que imputa à mulher uma carga incomensurável e infinita (Getty Images (Ilustração Cássia Roriz)/CLAUDIA)

“Essa carga mental — que inclui pensar nas tarefas, lembrar dos aniversários, planejar refeições, organizar a rotina dos filhos, cuidar dos pais idosos — é invisível, mas pesa demais. E é exaustiva porque não dá trégua. A mulher não pode sequer reclamar porque o pressuposto é que isso é ‘cuidado’, ‘é um ato de amor’, ‘é o papel essencial da mulher’”, analisa a psicóloga.

A especialista afirma ainda que essas são falas e posturas que consolidam a tal “economia do cuidado”, um dos pilares do patriarcado que imputa à mulher uma carga incomensurável e infinita. E, pode até ser uma expressão de cuidado e de amor, mas precisamos reconhecer que também é trabalho – e que custa tempo, energia, dedicação e esforço.

O papel do mercado de trabalho

cansaço virtual
Além da sobrecarga, as mulheres enfrentam a desigualdade salarial e dificuldades para serem reconhecidas (Ron Lach/Pexels)
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Conciliar as demandas do trabalho com as inúmeras tarefas domésticas cria um terreno ainda mais propenso ao adoecimento mental. Exemplo disso é o burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, que atinge mais mulheres do que homens, segundo a pesquisa Women in The Workplace.

Esse foi o caso de Mariana, comunicadora que ficou afastada por duas semanas dado seu diagnóstico e sentiu na pele os sintomas que assombram e geram impactos severos na vida e no trabalho.

“Na verdade, eu não percebi os sinais que eu tinha que parar. Quem me alertou sobre isso foi a minha terapeuta, que disse: ‘ou você vai parar por vontade própria, ou seu corpo vai parar por você em algum momento’”, relata. 

Além da sobrecarga, as mulheres enfrentam a desigualdade salarial e dificuldades para serem reconhecidas – e ouvidas – no mercado de trabalho, sendo até mesmo desacreditadas quando em cargos de liderança. Em 2024, o Relatório de Transparência Salarial registrou a diferença de 19,4% entre os rendimentos de homens e mulheres. 

Racismo como agravante

Para as mulheres negras esses desafios só se multiplicam. Ainda de acordo com o Relatório de Transparência, elas ganham aproximadamente mil reais a menos em comparação às mulheres não negras.

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Além disso, segundo o IBGE, as mulheres são as responsáveis financeiras de 49,1% dos lares brasileiros, estando a maioria na faixa etária de 40 anos – a mesma dos afastamentos. Entre essas mulheres, 43,8% se consideram pardas.

Mariana conta que o medo e a culpa, causados por um sistema racista que invisibiliza as dores e angústias de mulheres pretas, foram grandes empecilhos na hora de se afastar: “O sentimento é de que como mulher negra, eu não posso fracassar porque ninguém vai me ajudar. Eu não tenho direito de parar. Eu não tenho direito de respirar e de errar porque já estão o tempo todo questionando a minha capacidade quando estou dando 200% do meu trabalho. Então que dirá precisar tirar um tempo para si, sabe? Foi uma sensação de retrocesso, de culpa e de fracasso”.

Maternidade e a exaustão

Ilustração de uma mulher pensando em vários aspectos de sua vida.
Equilibrar contas, maternidade e carreira é desafiador (Reprodução/Getty Images)

O levantamento feito pela plataforma “De Mãe em Mãe”, mostra que 94% das mães brasileiras sofrem o esgotamento mental. O sentimento de sobrecarga, por sua vez, foi relatado por 97% das participantes da pesquisa.

Somados às dificuldades do mercado de trabalho e aos preconceitos estruturais, o peso da maternidade cria um ambiente de exaustão que parece não ter fim, esvaziando lares e locais de trabalho.

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“A sociedade quer que sejamos mães, como se não tivéssemos que trabalhar; e que trabalhemos, como se não tivéssemos filhos. Essa conta não tem como fechar! É um paradoxo que gera culpa, medo de julgamento e uma sensação constante de inadequação.”, ressalta Thirza. 

Existe solução?

Apesar das diferentes realidades, há uma urgência em reconhecer o bem-estar como necessidade, e não mais um luxo. Garantir espaços de suporte psicológico acessível, uma divisão mais justa das tarefas, e salários equitativos são caminhos a serem seguidos para que o cenário crítico da saúde mental feminina deixe de existir, ou ao menos, seja diminuído.

“Acho que é muito importante a gente entender que cuidar da nossa saúde mental é uma forma de resistência também, sabe? E de prosperar. Porque não existe prosperidade sem saúde, sem tempo hábil de lazer, sem tempo de descanso, sem ter sua própria vida.”, finaliza a comunicadora. 

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