Fiz planos para 2024 — e já desisti deles. Não é que eu os tenha abandonado para todo o sempre, amém. Resolvi, entretanto, me autocobrar menos e me dar um tempinho a mais para a lista que passei matutando na calmaria entre o Natal e o Réveillon.
Meus planos não mais terminarão em dezembro deste ano, mas sim em dezembro do ano que vem. Isso mesmo! Só ao final de 2025 espero ter cumprido os itens que bem (ou mal?) elaborei — e apenas se não tiverem se tornado obsoletos nesse meu tempo.
Mesmo me considerando uma pessoa desperta e cautelosa, sempre alerta contra as pressões da sociedade, fui contaminada pela positividade tóxica, que conseguiu me matar já em janeiro.
Morreu a pessoa que acreditou que reuniu, na construção das metas para o ano, todas as lições aprendidas por aí. Renasceu uma Paola mais gentil consigo mesma, com menos culpa e mais prazeres, embora mais consciente do que nunca.
Não foi uma morte súbita, levou alguns minutos. Sempre gostei de olhar para o horizonte infinito: seja o oceano ou as montanhas. Sinto que essa conexão traz respostas para perguntas que ainda nem foram elaboradas. Estava bem feliz.
Neste ano escolhi o verde, um refúgio na Região Serrana do Rio, para a passagem de ano. Uma, duas, três, quatro… Não consegui concluir quantas montanhas atravessavam a minha vista até o paredão rochoso que segurava as nuvens daqueles dias nublados.
Num platô de concreto, fui até um dos quatro sofás de madeira que cercam uma lareira que havia sido apagada pela chuva. Deitei na almofada rígida, descansei as costas, fixei o olhar no céu cinza. Me sentindo de cabeça para baixo, enxerguei um novo horizonte infinito, que sempre esteve sobre mim, mas no qual eu nunca havia reparado.
Assim como o oceano e as montanhas, era mais um horizonte infinito, mas passível de ser contemplado a qualquer momento, sem a ansiedade de pegar estrada para alcançá-los. Não fiz perguntas. E, de novo, aguardei respostas.
O vento veloz e frio balançava as árvores, um verdadeiro corpo de dança. Dali eu tinha a visão do todo, mesmo sem enxergar os detalhes de cada bailarina, mesmo sem reconhecer cada nota da trilha sonora. E
m meio a uma natureza complexa e exuberante, um pássaro começou a gorjear. Eu não podia encontrá-lo. Entretanto, sabia exatamente em qual árvore ele havia optado pelo pouso. Foi neste instante que fui embora.
Me dei conta de que havia regressado quando mentalmente ouvi: é preciso respirar calma para perceber os detalhes que completam o todo. Parece muito óbvio, mas no meu planejamento para 2024 eu não estava prevendo tempo para as complexidades que fazem parte desse todo, muito menos intervalos para avaliar com olhar crítico o que é factível.
Sem pausas e com pressa, poderia ser difícil encontrar pormenores, deixá-los emergir. Ignorá-los ou sabotar possibilidades para ajustes poderia significar perder algo gigante, justamente o que de mais belo a vida tem a oferecer.
Faça planos para 2024 ou já os refaça agora mesmo sem culpa, seja sozinha ou com ajuda. Isso serve para o seu parceiro ou a sua parceira de vida, como também para a sua nutricionista, a sua personal, a gerente de banco, a assessora de investimento, a consultora de carreira… Por que tudo precisa ser forçado a caber entre janeiro e dezembro? As métricas imediatas da nossa produtividade servem a quem? Quais crenças influenciam nosso desempenho? Temos de olhar mais para o infinito para que perguntas não feitas possam se deparar com respostas que mudam caminhos. Para melhor.